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quarta-feira, 10 de abril de 2024

O LEOPARDO de Giuseppe Tomasi de Lampedusa

LIVRO 120 












Por quê O Leopardo?

É a designação não muito frequente no livro, do personagem principal, o príncipe Fabrizio. Ele era o Leopardo mas não há explicação desse apelido.

O príncipe é o chefe de família que sente o tempo e a idade e se torna melancólico pelo que não pode divisar à medida que a história avança. Mas, mesmo com tais sentimentos vivia no seu tempo com sua esposa Stella, com os filhos e com a caça.

E deste livro a célebre frase que ocasionalmente se ouve repetir:

— Se não estivermos lá, eles fazem uma república. Se queremos que tudo fique como está, e preciso que tudo mude. Fui claro"

Os personagens do livro são:

● Príncipe Fabrizio Salina e sua esposa Maria Stella

O príncipe era influente na Sisília com seu palacete Donnafugata para onde viaja com a família num trajeto cansativo e poeirento,

Pelo menos o Autor esclarece que o príncipe tomava banho e por causa da presença do padre Pirrone se apresenta desnudo! E, à surpresa do padre:

"Não seja tonto, padre, dê-me antes o roupão e, se não se importa, ajude-me a enxugar."

No tocante à esposa Stella, diz ele que teve sete filhos com ela e que nunca vira sequer o seu umbigo. "Ela que é pecadora" daí porque batia na porta de Marianinna

Não há muito sobre os filhos, há menção a Francisco Paolo (beato? ele tinha ciúmes do primo Tancredi) e Giovanni que desaparecera vivendo em Londres uma vida simples.

E a filhas Concetta, Carolina e Catarina.

● O padre Pirrone sempre presente na mansão do príncipe era seu confessor. 

Ele viajou para San Cono e lá fez arranjos para o casamento de um primo e sua sobrinha grávida.

Ao primo: "Deus te abençoe meu filho, ainda que me pareça que não merece,"

● Tancredi o sobrinho querido do príncipe. Ele era admirado pela seu senso de humor e do modo de ser, sempre objetivo e inteligente. Ele demonstrava interesse pela prima Concetta mas ao conhecer a linda Angélica ficou perdidamente apaixonado  e o namoro teve início com "cenas" sensuais"—  "em descobertas do infernos que o amor depois redimia." 

O encanto que ela transmitia era geral, mesmo no príncipe que dançou com ela num baile cheio de pompas. 

 ● Don Calogero muito rico tratado com desdém pelo príncipe mas era tolerado por ser pai de Angélica.

● O cachorro Bendicò presente em toda obra como companhia do príncipe e da família. 

O príncipe tinha o hábito da leitura, mas o seu "esporte" era a caça, geralmente de coelhos. Um deles atingido perto de onde partiram os tiros foi assistido nos seus momentos finais pelos caçadores: teve um último frêmito e morreu... "da mistura do prazer de matar, o prazer tranquilizador de se compadecer."

Dom Fabrizio pela idade entra naquela experiência de fim da vida e com ele toda aquela tradição, a própria autoridade de sua presença vai junto se extinguindo: "O silêncio era absoluto. Sob aquela altíssima luz, dom Fabrizio não ouvia senão o som interior da vida que irrompia de si aos borbotões."

A história se situa na década de 1860. Em maio de 1910 vamos encontrar já idosas as três irmãs e a viúva Angélica (de Tancredi).

Concetta impaciente com religiosos sobre a utilização da capela da propriedade. Então, disse o religioso que apressaria a reconsagração e por isso, por três ou quatro dias, "não se poderá celebrar na vossa capela o ofício divino..."

Nada mais de influências, nada mais de comemorações apenas a decadência que o tempo impôs. 

Eu gostei do livro. A edição que está comigo, tem tamanho menor com 318 páginas.

► A história foi filmada em 1963 com elenco de estrelas.











sexta-feira, 22 de março de 2024

SAPIENS UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE de Yuval Noah Harari

 LIVRO 119













O livro nas suas 450 páginas, ingressa, com efeito, em episódios importantes das teorias evolucionistas da humanidade, destacando a "espécie" sapiens, destruidora e predadora por excelência. Mas, o livro é de história e descreve afinal de contas a própria evolução da humanidade.

Tudo começou com o suposto Big-Bang, que teria eclodido há cerca de 13,5 bilhões de anos, essa teoria cerebrina para dar uma explicação aos mistérios (ou milagres?) da vida.

 A partir desse fenômeno (espontâneo?) a vida foi se constituindo, de modo elementar, até que, "apenas 6 milhões de anos atrás, uma fêmea primata teve duas filhas: uma se tornou a ancestral de todos os chimpanzés e a outra é nossa avó".

Eis porque os chimpanzés são os mais próximos de nós.

"Durante quase 4 bilhões de anos, todos os organismos no planeta, sem exceção, evoluíram de acordo com a seleção natural. Nenhum deles foi projetado por um criador inteligente".

Os "homo sapiens", supostos "homens sábios" começaram a predominar naqueles tempos longínquos, pela maior inteligência, foram exterminando outras espécies humanas, principalmente os neandertais e, no tocante aos animais de grande porte, foram os sapiens que principiaram seu extermínio.

Por toda essas intervenções por onde passou ou alcançou "o registro histórico faz com que o Homo sapiens pareça um assassino ecológico em série", inclusive pelo fogo com a queimada de imensas áreas florestais.

O "dilúvio" continua nos rumos da destruição ambiental até hoje.

Não será preciso dizer que essas criaturas se alimentavam de vegetal e carnes e saiam um busca de "coleta de alimentos".

O Autor em muitos momentos do livro descreve o sofrimentos dos animais nas mãos dos sapiens, o modo cruel de sua domesticação, o modo brutal para obter leite das vacas, cabras e ovelhas.

As práticas que relata são estarrecedoras. 

O livro não deixa de revelar essa crueldade nos tempos atuais, como o caso das porcas e seus filhotes que ficam confinados em caixotes, em engorda, sem poderem se mover ou buscar comida no chão

(O incrível que é os sapiens sobrevivem até hoje!)

Essas questões ecológicas são destaques na obra. 

O mundo sendo mudado para atender às necessidades dos sapiens, "habitats foram destruídos e espécies extintas. Nosso planeta outrora verde e azul, está se transformando num shopping center de plástico".

Considerando ser a obra uma "breve história da humanidade" não há a presença divina em todos os episódios da evolução.

Há num capítulo um subtítulo sugestivo "a intervenção divina" mas o Autor fala do "milagre", mas mantendo a lacuna de quem ele proviera, como no caso da descoberta em 1995 das estruturas monumentais no local da Turquia chamado Gobekli Tepe, as quais construídas  9.500 antes AC; só uma pilar pesa 50 toneladas!

Quais leis, então, fazem as pessoas acreditarem numa ordem imaginada como o cristianismo, a democracia ou o capitalismo? (e eu acrescento o comunismo, o islamismo):

"A ordem que sustenta a sociedade é uma realidade objetiva criada por grandes deuses ou pelas leis da natureza". Que "grandes deuses"? quais "leis da natureza"? 

O Autor parece ser adepto do capitalismo, do livre mercado por trazerem distribuição de renda e até a possibilidade de obtenção de riquezas.

Há momentos em que o Autor não explica determinados evento e sem qualquer vacilação diz: "não sabemos".

Para citar, após séculos de pesquisa os biólogos admitem não terem explicações de como o cérebro produz a consciência ou "os físicos reconhecem não saber o que causou o Big Bang (mas houve mesmo o Big Bang?) ou como conciliar a mecânica quântica com a teoria geral da relatividade."

E a alma?

Diz o Autor que os cientistas não encontraram a alma no estudo interno do organismo humano e que tudo é gerido pelo livre arbítrio!

E diz também, "que as pessoas são iguais não porque Thomas Jefferson disse, mas porque Deus assim as criou. Os mercados livres são o melhor sistema econômico não porque Adam Smith o disse, mas porque essas são as leis imutáveis da natureza."

(Não, as pessoas não são iguais, nem na aparência e nem na índole. Alias, este é o planeta das diferenças).

Então, na predominância dos sapiens e seus timbres de crueldade eles não se cansaram de se matarem. Lembra o Autor, três séculos ante de Cortes conquistar o México, "os seguidores de Jesus Cristo e os seguidores de Alá se mataram aos milhares, devastaram plantações e pomares, transformaram cidades prósperas em ruínas fumegantes — tudo pela glória de Jesus Cristo ou Alá".

Na segunda grande guerra, o presidente  Truman foi informado que uma invasão americana no Japão para forçar a rendição exigiria a vida de um milhão de soldados. Dai a decisão pelas bombas atômicas.

E, então,

"As armas nucleares tornaram a guerra entre as superpotências um suicídio coletivo, impossibilitando assim que se busque o domínio mundial pela forças das armas."

O Autor pondera, nas páginas finais se o sapiens não se tornarão "amortais" (não imortais, porque podem morrer por um acidente). Experiências genéticas se sucedem e há uma expectativa de qual será o limite.

Há pouco um rim de porco com DNA alterado foi implantado num sapiens. 

Qual o limite? O Autor simbolicamente faz referência ao Frankenstein que poderiam os cientistas criar um ser superior que "nos olhará com a mesma condescendência com que olhamos os neandertais."

De todos os atos praticados por Deuses feito por si próprios, não prestam contas a ninguém. E, desse modo, "estamos devastando nossos amigos animais e o ecossistema que nos cerca buscando pouco mais que nosso próprio conforto e divertimento sem jamais encontrar satisfação".


O livro como disse é vasto, traz ideias e informações importantes como se em alguns episódios históricos tivesse o Autor examinado os bastidores de sua origem.

A obra é importante e esta sim terei que ler de novo até porque são tantas páginas a leitura e agradável e até surpreendente.


Nota:

O Autor faz reflexões sobre o budismo que resolvi não comentar. Se houver interesse, antes de ler esse livro especial, os elementos básicos do budismo podem ser encontrados nesta resenha:

DOUTRINA DE BUDA


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS de Adolfo Bioy Casares

 Livro 118











O escritor é argentino. O livro é apresentado numa edição esmerada da "Folha de São Paulo".

Já o título indica qual o enredo do livro. São 14 histórias nas quais se destacam, algumas mais que outras, experiências estranhas sempre com aquele timbre fantástico. 

Digamos que o livro é eminentemente "literário". Se algum leitor se propuser a encontrar nesses contos algo para pensar de modo mais profundo, no meu modo de ver, provavelmente, não se satisfará.

Mas, a obra cumpre o papel de histórias fantásticas.

Os contos reunidos na obra foram escritos em épocas diferentes e diversos deles se tornaram roteiro para o cinema argentino.

Dos que mais gostei ou surpreendeu, posso destacar:

A TRAMA CELESTE: neste conto embora escrito em 1944, trata de um mundo paralelo no qual o personagem Morris "transita" nessa experiência desconcertante dando-se incompreensões e dúvidas até dos seus companheiros de jornada. É a "teoria da pluralidade dos mundos".

HISTÓRIA PRODIGIOSA: nesta história de 1953 um escritor ateu Lancker rejeita toda a compreensão das divindades, das religiões, insistindo em "sacrilégios e profanações", por um ofensa banal parte para um duelo de espada com o próprio diabo. Embora Lancker fosse exímio espadachim, ele é ferido mortalmente pelo diabo.

A SERVA ALHEIA: este conto de 1955 é mais uma curiosidade, partindo do princípio no qual tribos africanas conseguem reduzir cabeças humanos ao tamanho de um punho. No caso, um ex-espião Rudolf fora reduzido a meio palmo, por pigmeus africanos (?). Ele é cuidado pela belíssima Flora. A mulher  começara um relacionamento com o poeta Urbina, mas Rudolf naquele seu tamanho de um rato, era cruel e com um cetro de duas pontas cega o poeta quando ele dorme.

OS MILAGRES NÃO SE RECUPERAM: escrito em 1967 este conto do que pude concluir, trata das coincidências, e numa delas, a personagem Carmen se dissera doente para não ir aos seus compromissos profissionais para estar livre e viajar com o amante a Mar del Plata.

Eis que num momento de relaxamento, surge a diretora da Instituição para a qual Crmen trabalhava.

A diretora, sem constrangimento, ergueu o dedo indicador por duas vezes, pedindo silêncio, discrição.

Adiante, o narrador faz uma viagem à Terra do Fogo. Quando volta é informado da morte de Carmen: "o incrível da morte é que as pessoas desapareçam."

Mais tarde cansado de uma viagem ao exterior, ainda em Dakar, ouve o som do aeroporto informando da partida de avião para a Cidade do Cabo.

E olhando os passageiros dessa viagem ele divisa a lindíssima Carmen que tentava se esconder dele. Então, ela ergue por duas vezes o dedo indicador pedindo ao narrador que ele guardasse segredo. O mesmo gesto da velha senhora naquele dia em Mar del Plata.


Então, essas histórias podem revelar aspectos interessantes nalgum trecho ou mesmo nas entrelinhas. 

A linguagem é rebuscada. O tradutor, seguramente, manteve o rigor do texto original castelhano. 

O livro contém 330 páginas.  

Eu precisaria ler a obra uma segunda vez. O problema são minhas prioridades.




 







sábado, 27 de janeiro de 2024

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA de Lima Barreto

 LIVRO 117



A guisa de esclarecimentos

Confesso a pouca informação que tinha dessa obra sempre muito referida, do Policarpo Quaresma, patriota exacerbado que propusera oficialmente, retornando às tradições seculares do país que ele amava, introduzir como língua oficial, o idioma tupi-guarani.

O livro foi publicado em 1915.

Então, a obra não se refere apenas a esse tema mas avança em outros.

Gostei do que li.

Os rumos do livro

Policarpo Quaresma era um homem simples, de pequena estatura, metódico, ledor, subsecretário no Arsenal da Guerra havia 20 anos e muito patriota, pôs-se a estudar violão, um instrumento "impudico" no seu tempo e com ele aprender a tocar modinhas, "a mais genuína expressão da poesia nacional".

E seu orientador foi um certo Roberto Coração dos Outros que além de tocar muito bem o instrumento era cantor e compositor.

Era solteiro, como sua irmã Adelaide. Ele e a irmã viviam na mesma casa, sendo bem cuidado por ela que lhe questionava com delicadeza e até o aconselhava.

Era chamado de "major" mas não tinha nada com os militares.

O seu fanatismo pelas tradições patrióticas o levou a remeter à Câmara um requerimento no qual propunha adotar a língua tupi-guarani, por ser "originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir nossas belezas..."

Por causa desse requerimento foi internado num manicômio ficando lá por uns meses.

As lucubrações que faz o Autor sobre os desvios psicológicos (sobre a loucura) são interessantes.

Ao deixar o hospício comprou uma propriedade rural (a qual foi batizada de Sossego) e lá passou a trabalhar com afinco na terra fértil de seu país auxiliado pelo ex-escravo Anastácio e depois também por Felizardo, contando com a colheita de frutas tal os cuidados com as plantas e árvores que estavam abandonadas e que se empenhava em recuperar. 

O Autor pode ter tido a experiência de pouca leitura de livros no seu tempo, revelando isso nessa sua obra, no comentário do general Albernaz:

— Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi se meter com livros... É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego num livro...

Personagens

● Olga, filha de um rico italiano Colleoni, afilhada de Quaresma com quem tinha muita afinidade com o padrinho; ela se casou com o médico Armando Borges que enriqueceu ajudado pela riqueza da esposa.

● Ismênia, filha de general Albernaz e dona Maricota, que estava noiva de Cavalcante.

"A menina foi-se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento".

Noivado por cinco anos, o noivo partira um mês antes do Carnaval e não mais voltou. Seja por desgosto, seja por vergonha foi ela definhando até a morte.

A revolta contra Floriano

No livro de 175 páginas, há "alternativas inesperadas".

Nos capítulos que dão o desfecho da história, o Autor inclui seus personagens ficcionais num episódio real qual seja a revolta dos marinheiro contra o governo de Floriano Peixoto (presidente de 1891-1894) que perdurou por todo o seu mandato. Essa revolta reivindicava maior participação dos marinheiros no governo e menos autoritarismo.

O major Quaresma tivera um breve relacionamento com o presidente e à revolta que enfrentava o presidente, se apresentara para combater os revoltosos. 

Chegou ao presidente, apresentou um memorial propondo medidas drásticas de governo que fora desprezado por Floriano que mais tarde diria que lera o documento chamando Quaresma de "visionário".

Quaresma fora nomeado "major" sem nunca ter pego numa armas até porque era conhecido por essa título. O livro explica a origem do "major".

Participa de estratégias no quartel, é ferido em combate, se recupera.

Floriano vence os revoltosos.

Quaresma fica indignado com o tratamento dispensado aos prisioneiros e remete ao presidente um protesto veemente.

É determinada sua prisão, numa cela imunda, ele que era um homem simples, honesto, de boa índole.

O cancioneiro Ricardo Coração dos Outros que também se engajara nas tropas do "ditador" — assim qualificado no livro — sabendo da prisão do amigo faz todos os esforços para sua libertação. Todos os amigos de Quaresma, mesmo os militares se omitem, não o ajudam. Nem mesmo o general Albernaz que se disse "do governo".

Então, o cancioneiro, sem mais a quem recorrer pede a ajuda de Olga a afilhada do major. Ela corajosamente se propõe a ajudar na libertação do padrinho mas não é conduzida à presença de Floriano.

Então, serenamente refletindo foi ao encontro de Ricardo Coração dos Outros que a esperava ansioso.

...


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

OS MENINOS DA RUA PAULO de Ferenc Molnár

 LIVRO 116











EXPLICAÇÃO:

Há muito lera esse livro que dissera algo da minha infância / juventude. Nunca o esqueci totalmente. Naqueles tempos com pouca televisão, sem computador, sem jogos eletrônicos e, principalmente, sem celular as aventuras se davam pelas ruas, os jogos de taco, as peladas de futebol em terrenos baldios. Mas, a busca pelo "tesouro" escondido, se dava num barranco na Vila Bela (SP), divisa com São Caetano pelo rio Tamanduateí.  Eu também tive uma espécie de forte. Tempos memoráveis.


O livro é considerado "juvenil". Nem sei se hoje, à idade da turma que compõe a história, em torno de 14 anos, com tantos recursos, será atrativo, despertará interesse. Para mim vale a pena.

O livro foi publicado em 1906. A historia transcorre bem no final do século XIX.

A turma da Rua Paulo, na Hungria tinha num terreno ocupado em parte por um serraria e montes de lenha, um barracão, seu reduto para o jogo da péla (jogo "ancestral" do tênis), No grund — um pedacinho de terra — , a turma era organizada em termos de padrões militares.

O presidente da turma era o Boka, um jovem com talento para liderar, muito ético, de poucas palavras muito respeitado pelos demais membros do... 'pelotão'. 

O único soldado raso era Nemecsek, um loirinho franzino. Será em torno dele que a história terá seu epílogo.

Os meninos da rua Paulo tinham rivais, a turma dos "camisas vermelhas" cuja "base" era o Jardim Botânico.

Um dia, os "camisas vermelhas" resolveram declarar guerra à turma da rua Paulo porque queriam o grund para jogar péla. 

Deu-se a batalha e, numa série de escaramuças, nas quais prevaleceram as bolotas de areia molhada, os rivais foram derrotados.

Havia um traidor Géreb, que se arrependeu amargamente, pediu perdão emocionado, sendo perdoado por Boka e pelo grupo e lutando ao lado do "exército" da rua Paulo.

Nemecsek não participou da batalha porque estava muito doente. Ele caíra na lagoa ao adentrar no barco quando já em fuga com Boka e Csónakos após a invasão no reduto dos "camisas vermelhas" uma retaliação à presença de Chico Áts comandante dos inimigos que estivera desafiante no grund. A segunda vez por ordem de Chico Áts quando Nemecsek enfrentou os inimigos no seu próprio reduto e, sendo franzino o soldado raso da rua Paula, determinou que fosse ele jogado na lagoa.

Com tais "banhos" — mal recuperado do primeiro —, adveio a grave doença que prostrou na cama com febre alta o franzino soldado raso.

Chico Áts presidente - general dos "camisas vermelhas" que demonstrara princípios éticos aproximou-se da casa de  Nemecsek como uma forma de se desculpar do "banho" que ordenara, mas não teve coragem de o visitar.

Pela derrota, ele foi demovido da presidência pelos membros da turma dos "camisas vermelhas".

Mas, Nemecsek, inconformado em ser o único soldado raso do grupo, por seus atos de bravura foi promovido a capitão. E seu nome no livro de atas da sociedade do Betume (da rua Paulo),  antes escrito em letras minúsculas, passou a ser escrito em letras maiúsculas: ERNESTO NEMECSEK.

E Nemecsek em desespero ao saber do resultado da batalha e a vitória da rua Paulo, no seu estado febril, disse agitado:

— O grund é um país inteiro! Vocês não sabem, porque nunca lutaram pela pátria."

Ele não acreditava na sua promoção a capitão e o nome escrito em maiúsculas no livro nem mesmo com o Boka confirmando.

Tudo num deslinde comovente naquela família modesta com a mãe carinhosa ao filho franzino e o pai, alfaiate, não menos modesto.

Eu acho que esse livrinho de 120 páginas foi bom pelas mensagens de verdadeira amizade e lealdade da turma da rua Paulo, para as festa de fim do ano de 2023.