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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O SOL TAMBÉM SE LEVANTA de Ernest Hemingway

 LIVRO 115













O livro não deve ser a maior expressão do renomado Autor americano.

Quanto a mim não consegui situar o título do livro com o enredo da história.

Mas, foi um bom passatempo produtivo, digamos.

Os personagens são escritores, a maioria, "perdidos" em Paris e em outros recantos da França num país onde a "serenidade" de viver fora destacada pelo Autor,

A história está situada na década de 20 do século passado.

Os diálogos são curtos com bom efeito e as descrições da "fiesta", dos eventos e dos personagens, impressionam.

Nessa vida de escritores ou acompanhantes, se comportavam como desocupados, não falando em trabalho, de bar em bar, bebendo quase que sem parar a ponto de a embriaguez se constituir num ponto destacado do relato.

São personagens principais:

Jake Barnes: escritor, narrador da história que amava a França, apaixonado por Brett Aschley que, no entanto, iria se casar com Mike. Também um frequentador assíduo de restaurantes e bares, consumindo drinks em profusão.

Uma curiosidade, muito álcool e menos cigarro se se pensar nos filmes americanos nos quais a ligação de cena se dava pelo acender de cigarros. Naqueles idos!

Brett Aschley: linda, meio mundana, depressiva saíra com o judeu Robert Cohn o que o fez um ciumento doentio. Pendeu um pouco para Jake mas, por fim se apaixonou por um jovem toureiro, de beleza impar, com ele se une, mas depois volta a procurar Jake. Ficaria com ele, afinal?

Robert Cohn: boxeador, fora campeão de boxe dos pesos médios em Princeton, apaixonado por Brett com quem tivera um breve caso, ciumento, a ponto de socar Jake levando-o a "nocaute" porque não recebera dele a informação do paradeiro dela — quando ela viajou com o toureiro. Cohn era odiado pelo grupo.

Mike Campbell: falido, dependente de fundos da família seria o virtual marido de Brett mas ela tão libertina, teria evitado o casamento ao se unir ao toureiro Pedro Romero fugazmente .

Bill Gorton: faz parte do enredo, amigo leal de Jake, com ele convive nos momentos de ócio e bares. Odiava Cohn pelo modo como este se relacionava com o grupo:

"Mas, voltando a esse Robert Cohn, já estou farto dele. Pode ir para o inferno e estou contentíssimo porque vai ficar aqui. Assim não irá pescar conosco."

Essa pescaria se dera em Burgete, cidade da Espanha.

Cena "inspiradora" antes da pescaria como relata o personagem Jake:

"Na margem coberta de relva, onde a terra era mais úmida, enterrei a picareta... havia minhocas que desapareceram... Então cavei cuidadosamente e apanhei uma boa porção".

O grupo, mais tarde,  segue a Pamplona (Espanha) para a "fiesta" na qual se destacariam as touradas e a descrição de toda sua covardia, "heróis" da capa  bicolor nas quais até cavalos são vítimas dos ataques alguns fatais.

— É curioso — disse Brett —, mas a gente se torna indiferente ao sangue.

O livro conduzia para a vitória esperada do touro, mas tal não se deu.

Foi então que Brett se impressionou com o jovem toureiro Pedro Romero e com ele estabeleceu um romance. Viajou com ele. Mas durou pouco essas relações. Havia diferença de idade a considerar entre ela e o toureiro.

O livro é isso, mas não é só isso. São 260 páginas.

Foi um bom passatempo de fim de ano.


Outros livros que resenhei de Hemingway (acessar): 

PARIS É UMA FESTA

O VELHO E O MAR



terça-feira, 28 de novembro de 2023

JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO QUE JÁ EXISTIU de Mark W. Baker

 LIVRO 114












O Autor é psicólogo terapeuta e nessa sua obra diz que seus relatos são composição de várias  histórias "e não representa ninguém em particular".

Na questão religiosa como indica o próprio título do livro, diz o Autor que Freud "considerava a religião uma muleta que as pessoas usam para lidar com seus sentimentos de desamparo". E diz o Autor, que "esta postura deu início a uma guerra entre psicologia e a religião que continua até hoje".

Neste "até hoje" aqui no Brasil, proliferam seitas nas quais os seus condutores se tornaram recitadores dos Evangelhos e, diga-se, envolvem religião, rendas e rituais que podem até dar alguma razão a Freud. Se dá uma divisão entre os Cristãos e os evangélicos dessas seitas.

Mas, o Autor nos seus inúmeros relatos justifica aplicação dos ensinamentos de Jesus, porque ele "entendia as pessoas". E acentua: "sabemos disso porque talvez ele seja quem mais influenciou a história.” 

Nestes tempos, há que reconhecer o antes e o depois de Jesus. O que seria deste planeta violento sem as palavras do Evangelho muitas vezes freando os desatinos?

E, então, “independentemente das nossas crenças religiosas ou psicológicas, todos podemos nos beneficiar dessa eterna sabedoria.”

O Autor se refere muito ao inconsciente pelo qual as pessoas se tornam infelizes ou problemáticas porque não querem abrir essa porta de más lembranças ou experiências.

Para desvendar o que está por trás dessa porta é que o Autor, como psicólogo, trabalha nas suas sessões de terapia.

Quanto a mim, tenho dúvidas se as pessoas num momento de reflexão, mais maduras, não enfrentem esse “arquivo” e passem a viver com ele “aberto”, superando os traumas que provocou.

E há pessoas que são problemáticas independentemente do que há no inconsciente, aqueles indivíduos violentos sem causa. Mas, aí se ingressa num ambiente… metafísico.

Outro ponto importante posto no livro se refere ao cultivo do relacionamento com outras pessoas, com os amigos, podendo até, o paciente, dividir com eles seus traumas como um modo de superá-los.

Claro que para isso, os amigos têm que ser Amigos.

O Autor reconhece que há os tolos.

Tanto é assim, que Jesus se deparou com os fariseus invejosos e com a traição fatal.

O livro tem duas partes: I – Entendendo as pessoas e II – Conhecendo a si mesmo.

E é a partir dessas duas partes que vai relatando experiências e no final de cada uma as inclui com os ensinamentos de Jesus.

Alguns trechos porque nessa obra há que preservar os direitos do Autor:

Jesus sabia que as pessoas não poderiam entender completamente a vida se usassem apenas o intelecto. Ele dizia: “Vou ensinar a vocês o que é a verdade”. Eu sou a verdade”;

Com essa afirmação, Jesus excluía quaisquer outras “verdades” ele se apresentando como a verdade deveria ser considerada segundo seus ensinamentos.

A autocondenação envolve a crença em uma mentira a respeito de nós mesmos;

Os terapeutas precisam ser humildes a fim de receber os tesouros que aparecem a partir de um bom relacionamento;

O bom relacionamento deve se estender aos outros porque deles precisamos.

Jesus, porém, parecia continuar a dizer às pessoas que elas precisam se relacionar com Deus;

As pessoas sábias estão sempre preparadas para mudar de ideia e de atitude; as tolas, jamais.

No caso da idolatria, as leis e os rituais religiosos se tornam a “droga” proporcionando às pessoas a ilusão de serem melhores do que realmente são;

O ódio aos outros frequentemente é sintoma de uma ferida interna em nós mesmos.

No “Epilogo” há esta frase: “Espero que você tenha se reconhecido em alguma das situações apresentadas e que tenha conseguido se conhecer melhor.”

Eu tenho que confessar, encorajado nas “Confissões” de Santo Agostinho que me “reconheci” num dos relatos, mas que superei há muito. Mas a influência daqueles idos ainda tem resquícios: o alcoolismo paterno.

Eu nunca havia lido, que me lembre, livros de autoajuda.

Penso que este tenho fortes timbres de autoajuda mas num sentido de serenidade demonstrando como tanta gente é igual a tantas outras vivendo seus traumas e os superando.

O livro é bom com relatos sobre as mais diferentes situações psicológicas, incluindo relatos de casamentos salvos pela terapia. E há muito mais.



segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O PRÍNCIPE de Nicolau Maquiavel

 APÊNDICE: "DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

LI VRO 113

Pondo-se a ler Maquiavel, constata-se que seu maquiavelismo eclode do texto mas ele não deixa de acentuar sempre que possível, algumas boas práticas visando a harmonia do poder embora, de regra, acentue que o príncipe deve ser mais temido do que amado.

O Autor, nasceu em 1469 em Florença, "O Príncipe" foi escrito em 1513. 

Ele explica as distinções dos modos de poder que predominavam, as monarquias — até mesmo aquelas que decorram do poder usurpado —  mas no tocante ao mandatário, fosse qual fosse, era chamado de "o príncipe".

E é quanto a este ou estes, os príncipes,  faz ele observações de garantia do poder, o modo de agir em relação aos súditos e ao seu exército — acentuando uma má prática a defesa por legião de mercenários que podem se voltar contra o príncipe na vitória.

Esses mercenários, são "soldados desunidos, ambiciosos, sem disciplina é infiéis, ousados entre os amigos, covardes perante os inimigos; não temem a Deus nem são leais aos homens."

Maquiavel em princípio não defende a violência extrema e nem propõe manobras que visem prejudicar seus súditos, embora coloque sempre meios para que o príncipe se mantenha no poder incluindo o uso da violência.

Se o Estado for conquistado pela força, "não bastará aniquilar a família do príncipe, pois permanecerão os nobres, prontos a liderar novas revoluções". E, então, "incapaz de contentá-los ou de exterminá-los, na primeira oportunidade o conquistador perderá o domínio sobre o Estado."

Maquiavel apresenta exemplos de príncipes que assassinaram nobres e senadores para garantia de seu poder.

Se o Estado for organizado por colônias, é necessário tomar casas e terras de antigos moradores que servirão para alojar os novos habitantes. E então, nessas medidas, "os que forem escorraçados, pobres e dispersos nunca poderão fazer mal ao príncipe."

E, quanto aos povos, é fácil persuadi-los  porque sua natureza é "labial". E se não mantiverem sua opinião, "por isso convém ordenar tudo de modo que, quando não mais acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força."

"O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal". E o poder, claro.

Ao conquistador, tomado o poder, deverá ele fazer todas as crueldades desde logo, de tal maneira  a não renová-las. Feito isso seduzirá o povo que estará tranquilo, recebendo as benesses do príncipe que chegou ao poder. Se o conquistador assim não agir, estará sempre com as "armas em punho" para garantia de sua conquista.

“Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz será fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário.” 


E se o príncipe não ganhar o amor dos súditos, então que evite o seu ódio. O príncipe deve ser temido.


O príncipe deve evitar a expropriação de bens, porque é mais fácil o povo esquecer a morte do pai do que dos bens expropriados.


E, sempre que houver oportunidade, incentivar o comércio afastando do comerciante o medo dos tributos e manter o povo entretido com festas e espetáculos, "nas épocas convenientes".


Frase: "De fato, o povo tem objetivos mais honestos do que a nobreza; esta quer oprimir, enquanto o povo deseja apenas evitar a opressão."


Sobretudo, o povo ama a tranquilidade imposta pelo príncipe, embora os soldados no seu espírito belicoso, esperam dele que seja cruel e opressor, significando que eles, os soldados, com esse modo de agir possam dobrar seus salários.

O príncipe, nunca deve abandonar os exercícios bélicos mesmo na paz, sustentndo a  ação e o estudo. Um exercício é a caça porque expõe os soldados às agruras da região.

Os fins justificam os meios:

Porque "na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recursos, os fins justificam os meios". Para a conquista ou a manutenção do poder, todos os meios empregados são honrosos.

E as guerras não podem ser evitadas e, adiadas, porque beneficiam os inimigos:

"... a guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas reside a última esperança." E quanto a Deus, ele não fará tudo para não retirar o livre arbítrio e a glória que advém da luta.

Encerrando:

O pequeno volume não explana só isso. Há muito mais maquiavelismos. O que fiz, nesta pequena resenha foi destacar entre tantos, alguns pontos nos quais Maquiavel é "maquiavélico"...

Tudo para garantia do poder ao príncipe.

Fim: Maquiavel faleceu em 1527, aos 58 anos, pobre e esquecido.


APÊNDICE

"DOS DELITOS E DAS PENAS"  de Cesare (Bonesana) Beccaria

Explicação:

Eu estava em débito com essa livro porque fora ele recomendado por professor de Direito Penal da PUC de São Paulo há décadas. Saldei meu débito, lendo-o agora, em 2023 depois de 260 anos de sua publicação.

Este pequeno livro — não tão pequeno assim — foi escrito em 1764 quando o Autor contava apenas 27 anos. Beccaria nascera em 1738 falecendo em 1794 em Milão.

Na França fora traduzido por André Morellet em 1765/1766, economista e literato. A edição francesa recebeu elogios de filósofos renomados da França pelo modo como expôs Beccaria suas ideias que explicou assim:

"Minha única ocupação é cultivar em paz a filosofia, e contentar assim três sentimentos muito vivos em mim: o amor à reputação literária, o amor à liberdade e a compaixão pelas desgraças dos homens escravos de tantos erros",

[Escravos seriam os condenados submetidos a severos castigos e privação da liberdade pela condenação].

Então, ele preconizou que as nações se preocupassem em estabelecer um corpo de leis penais que impedissem a interpretação pelos juízes, que poderiam se exceder nas penas, levando injustamente o condenado às masmorras e aos suplícios.

A pena será justa se o grau de rigor e limite desviem os homens do crime. Deve haver uma proporção entre o delito e a pena.

As penas daqueles de "alta linhagem" devem ser as mesmas aplicadas ao "ultimo dos cidadãos". 

Um acusado só ficará detido no tempo necessário para a instrução do processo.

As provas do delito só serão perfeitas se não trouxerem no seu âmago a dúvida do crime praticado. E para os abusos, o povo dirá: "Não somos escravos, mas protegidos pelas leis".

Ademias, "a moral política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre sentimentos indeléveis do coração do homem".

Claro que no seu tempo ainda sobre os horrores da inquisição há esse princípio ideal do "coração" mas se sabe que o planeta é repleto de diferenças e crueldades. (*)

Ele não aceita o julgamento tomando como base "o espírito das leis" e também rejeita delitos punidos de modo diferente em tempos diferentes pelo mesmo tribunal.

A graça dada pelo soberano a um criminoso pode soar como um aviso de impunidade geral?

Os cidadãos podem fazer tudo que não seja contrário à lei. Nulla poena sine lege.

Beccaria rejeita a tortura de modo veemente porque exige do acusado sob castigo físico que seja acusador de si mesmo e por essa violência, extrair uma "verdade" como se estivesse ela nos músculos do torturado.

Um homem honesto desarmado favorece o bandido armado. 

A pena de morte não é útil nem necessária. Ela se constitui uma 'guerra' contra o homem que a nação a impõe mas quem perde é a humanidade.

O suicídio só pode ser punido por Deus.

O verdadeiro tirano: é aquele que começa reinando sobre a opinião — quando é senhor dela comprime as almas corajosas, das quais tem tudo a temer...

CONCLUINDO:

Sempre digo que essas resenhas tentam trazer as linhas gerais da obra. Mas, o livro de Beccaria  tem mais, muito mais e, reconheça-se, que muito dos conceitos que ele defendeu há 260 anos estão consagrados em muitos códigos penais modernos, inclusive na legislação penal brasileira. De um modo ou outro ele se posicionou em "todos" os crimes mas com base na sua cultura de meados do século XVIII.

Beccaria, à frente do seu tempo, é um desses luminares que de vez em quando aportam no planeta.

Nota:

(*) No tocante à inquisição, em resposta a uma crítica, esclarece Beccaria que a ela não se referiu nem direta nem indiretamente. Mas, a leitura atenta do livro revela que há nas suas linhas e entrelinhas a condenação dos modos perversos adotados pela inquisição.



domingo, 15 de outubro de 2023

CONFISSÕES de Santo Agostinho

 LIVRO 112












Santo Agostinho nasceu em 354, apenas 41 anos depois da promulgação de Constantino do Edito de Milão, que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano.

Tive alguma dificuldade em me concentrar neste livro pelo modo como o Autor reverência as obras de Deus, a repetição de conceitos e a insistência em resolver enigmas principalmente do Gênesis.

Há que se ter muito compreensão. O livro foi escrito em 397/398 DC. Nas partes iniciais do livro que contém 416 páginas, na verdade ele se questiona e questiona Deus sobre os mistérios da criação — pouco dos Evangelhos ele explorou.

Ele fora até 387 quando foi batizado (aos 33 anos) um homem do mundo e nesse lapso ele confessa seus pecados perante Deus...

Na juventude, o orgulho, a vaidade pelo que sua mãe, Mônica, o incentivava à vida a serviço de Deus, da castidade prevendo que seus deslizes  mundanos poderiam ser perigosos.

Mônica fora um esposa (marido Patrício, que seria infiel e rude) e mãe exemplar que teve mais dois filhos (Perpétua e Navigius), a ponto de manter a paz no lar submissa ao marido seguindo, é possível, um preceito referido por Paulo na Carta aos Efésios:

05:22 - Vós, mulheres sujeita-vos a vossos maridos, como ao Senhor.

[Por ser muito religiosa, ter conseguido converter Agostinho à religião.  Ela faleceu aos 56 anos em 387 sendo foi canonizada em 1153 pelo papa Alexandre III].

Na verdade, Agostinho conviveu por anos com uma mulher sem ser casado e dela teve um filho, Adeodato (nascido em 372), inteligente que morreu jovem, com 17 anos. Ao se referir a ele no seu próprio batismo ao catolicismo,  Agostinho o qualificaria de "o filho carnal do meu pecado". 

Esses pecados até hoje estão presentes na vida de tantos — ele relata ate mesmo maldades praticadas por colegas de estudo aos calouros, tentativas de fraude as quais não aceitou — e, especialmente, os desejos sexuais, a luxúria que envolvem o homem e a mulher dificultando a todos aqueles que buscam a espiritualidade, encontrar Deus na sua alma. 

"Ora, a luxuria provém da vontade perversa; e, se não se resiste a um habito, origina-se uma necessidade.

Mas, ele sofria com os seus pecados, inclusive relatando sonhos sensuais. Disse ele:

"Eis que em Roma, sou acolhido pelo flagelo da doença. Já ia descer ao inferno. levando comigo todas as faltas que tinha cometido contra Vós (Deus), contra mim e contra os outros,"

"Procurei o que era maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade da substância suprema — de Vós, ó Deus...

Ele faz referência à carta de Paulo em "I Aos Coríntios" de que é bom o homem não tocar numa mulher porque aqueles que não têm esposa pensam nas coisas de Deus e os casados pensam nas coisas do mundo e em agradar sua esposa. 

Lembrando a idade da infância invoca os mistérios: "Que pretendo dizer, Senhor meu Deus, senão que ignoro donde parti para aqui, para esta que não sei como chamar, se vida mortal ou morte vital?"

Por longo período, Agostinho seguiu a doutrina do maniqueismo, fundada por Maniqueu (ou Manés) foi um admirador de seus oradores, mas à medida que ia absorvendo o cristianismo, foi dela se afastando.

Os tradutores do livro expõem ensinamentos sobre o maniqueismo, mas eu fico com o que disse Agostinho sobre a doutrina, ao a criticar:

"... afirmam (os maniqueistas) que temos duas almas de naturezas diferentes uma boa e outra má. Ora, esses tais são realmente maus ao seguirem essa má doutrina. Só serão bons quando sentirem a verdade e concordarem com os homens de verdade...  para que o Apóstolo possa também dizer: "Outrora fostes trevas mas agora sois  luz no Senhor."

Agostinho teve amigos num sentido de irmão que optaram pela vida religiosa. Destaco dois: Nebrídio que converteu a família ao cristianismo e Alípio, que se tornou bispo de Tagaste (Argélia), sua terra natal e a terra natal de Agostinho e de sua mãe Mônica.

REFLEXÕES DE AGOSTINHO

Será preciso sempre lembrar que "Confissões" foi escrito em 398.

Então, sobre dois temas que ele explana à exaustão, penso ter a ver com a sua época.

► O primeiro é sobre o tempo que não existiria: o futuro não chegou e, então ele não existe; o presente num instante se torna o passado naquela fração de segundos. Assim, o passado não existe mais, salvo na memória.

Não tenho o discernimento para avançar nas dúvidas do Santo, mas no tocante ao futuro, quantas vezes há um projeção mental, uma premonição, uma intuição do que advirá e também na vida material: "daqui a tantos dias, quando acontecer isto ou aquilo ou viajo..." (mas, nesta hipótese, seria apenas expectação).

Quanto ao passado, se psicologicamente ele não existe mas na memória é ele preservado, neste mundo tão complexo, do ponto de vista material, as pirâmides do Egito, por exemplo são a memória de mais de 2.600 anos antes de Cristo. As ruínas de Pompéia...

► Outro ponto, mas do Gênesis, Agostinho "sofre" em buscar o perfeito sentido:

"No princípio, criou Deus os céus e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas."

Ele discorre em muitas páginas na busca da exata interpretação desse texto.

Ele se refere aos abismos e nessa análise não menciona que também "os céus" foram criados. Parece que ele olha para a "terra" e certamente sabia que ela fazia parte dos... céus.

Se ele tivesse um telescópio e o mirasse a Marte, veria como era ainda no seu tempo, as condições inóspitas de sua superfície.

Somente muitas páginas a frente ele se refere ao Universo, suas estrelas, à Lua...

Nessa sua busca, transcreve interpretações de outros estudiosos e, nesse contexto, chega a mencionar uma questão: o que fazia Deus antes da criação? 

Não faltam mistérios que transcendem em muito a mente humana limitada.

Por fim, ele ora a Deus pedindo iluminação que confirme ou não se esse texto de Moises, no Gênesis, é verdadeiro ou tem algum outro significado. 

Agostinho em 395 torna-se bispo de Hipona (atual Annaba, na Argélia). Falece em 28 de agosto de 430 com 76 anos. Foi canonizado em 1292 reconhecido como doutor da Igreja — pelos outros vários livros que escreveu — pelo papa Bonifácio VIII.  


O LIVRO: tem muito mais do que isso, e quanto a mim exigiu muito resignação em chegar à última das 416 páginas.

Os que desejarem criticar ou esclarecer, há espaço para tanto neste blog.




sexta-feira, 25 de agosto de 2023

DOUTRINA DE BUDA de Siddharta Gautama

 LIVRO 111













Trata-se a obra explanada num volume aparentemente pequeno — apenas 195 páginas. Porém, em cada página conceitos que vão se multiplicando sobre os ensinamentos de Buddha bastante abrangentes avançando mesmo nos melhores conceitos a serem aplicados na administração pública. (*)

Mas, sobretudo, sobre a iluminação de homens e mulheres que buscam atingir esse estágio de paz e santificação seguindo os ensinamentos de Buda trilhando caminhos difíceis, de renúncia aos "apelos" da vida comum, vencendo o egoísmo,  ira, a luxúria, a corrupção... e o esforço para manter a mente desprovida de tais sentimentos e outros que atrapalhem a senda.

Mas, 

"Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto..."

O NASCIMENTO DE BUDA E SUA ILUMINAÇÃO

O seu nascimento é, também, envolto em fenômeno místico, isto é, fora do normal dos demais seres humanos.

O rei Shuddhodana Gautama e sua esposa Maya durante 20 anos não tiveram filhos.

Ela engravidou quando num sonho viu um elefante branco entrar no seu ventre pela axila direita.

Então, ela volta para a casa dos país esperando em repouso, o nascimento de seu filho.

"Maravilhada com a beleza das flores de Asoka (...), estendeu seu braço direito para apanhar um ramo; ao fazer esse movimento de à luz um príncipe".



Entre as várias espécies esta pode ser a flor asoka, perfumada.



O pai o chamou de Siddhartha que significa "todos os desejos cumpridos".

Houve a preocupação da família real quando um ermitão, ao ver um brilho ao redor do castelo e lá chegando profetizou que, se a criança ficasse no castelo seria um rei generoso mas se dele saísse tornar-se-ia um Buda, o Salvador do Mundo.

"Buddha significa "o sábio, o iluminado, o homem que adquiriu o perfeito conhecimento da verdade e que, por causa disso, libertou-se de todo e qualquer apego à existência, revelando a todos o método de alcançar essa iluminação..."

 Siddhartha chegou a se casar, mas aos 29 anos de idade mas a vida de conforto e prazeres não o satisfaziam. 

Deixou o castelo e saiu em busca de respostas à sua "inquietude mental" decidindo-se a se tornar um monge mendicante. Foi tentando pelos demônios para voltar ao castelo e, assim o fazendo, "o mundo será seu". 

Buscou sábios para obter a iluminação, sem resultado. Permaneceu por seis anos na floresta.

Sozinho, após abandonado por seus cinco seguidores por um evento banal, empenhou-se na meditação, enfrentando os demônios, as dúvidas, as dores até que, "quando a estrela Dalva despontou" ela encontrara o caminho da iluminação. Ele tinha 35 anos.

Essa Iluminação — resultado da meditação sob a árvore (Bodhi-Ficus religosa) — se dera provavelmente no século V antes de Cristo. 

Por 45 anos Buda percorreu o país, pregando seus ensinamentos, até que, doente, postado entre duas árvores sempre ministrando seus ensinamentos, "o maior de todos os mestres" partiu adentrando ao "almejado Nirvana". (**) 

[Na ocasião da morte, o rosto de Moisés brilhou e o corpo de Buda iluminou-se. Ambos tinham chegado ao estado em que o espírito começa a brilhar de dentro e, então, morreram] (***).

"Este é o estado a que se chega quando, através das práticas e meditação baseados na Sabedoria Correta, extinguem-se  completamente toda a corrupção e paixão mundanas".

ENSINAMENTO SE DE BUDA

É bastante vasto, mas selecionarei alguns conceitos. Além desses conceitos muito claros e diretos há, ilustrando, fábulas e parábolas, uma leitura bastante atraente:

Iluminação

"O corpo de Buda é a própria iluminação!

Sendo assim, Buda jamais desaparecerá enquanto existir a Iluminação."

O esplendor de sua Verdade "se irradia para além dos limites exteriores e interiores das terras de Buda; é porque a vitalidade de sua compaixão nunca fenece através das incalculáveis vidas e eras."

"Buda é aquele que alcançou a perfeita Iluminação e a usou para  salvar e proteger toda a humanidade. O Dharma é a verdade, a essência da Iluminação e o ensinamento que a explica. A Sangha é a perfeita fraternidade daqueles que acreditam em Buda e no Dharma."

Causalidade

Todo o sofrimento humano tem a ver com os desejos humanos, a paixão, o egoísmo, distante das Verdades que transcendem dessa existência mundana.

Todo esse sofrimento é resultado do encontros de causas e condições que mudam se tais elementos deixam de existir.

"Os mais perversos dos homens, que cometem nefandos crime, aqueles cujas mentes estão cheias de cobiça, ira e estultícia; aqueles que mentem, tagarelam, abusam e trapaceiam; aqueles que matam, roubam e agem lascivamente; aqueles que estão próximos da morte, após anos de maus atos; todos eles estão destinados a longos anos de castigo, mas todos podem ser salvos."

A lei da causa e efeito. Mas, 

"A natureza de Buda não se perde nem é destruída, tão logo toda a corrupção seja removida ela sai de sua latência e reaparece."


Caminho do meio

Aqueles que buscam a iluminação devem se afastar dos extremos e seguir o "Caminho do Meio" — que leva à sabedoria e à paz da mente. E não deve alimentar tristes recordações do passado, nem se antecipar ao futuro, mas "com uma mente justa e tranquila acolher aquilo que vier." 

Paixões

A cobiça, a ira e a tolice são os "fogos do mundo". A cobiça aos que perderam a mente pela avidez, a ira aos que se perderam no ódio e a tolice aos que perderam a mente no insucesso em apreender os ensinamentos de Buda.

A luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o demônio que devora todos os atos do mundo".

À uma pergunta como podem os jovens que seguem o budismo poderem superar os desejos da luxúria? A resposta:

"Buda nos ensinou a respeitar todas as mulheres. Ele nos ensinou a considerar as velhas mulheres como nossas mães, aquelas de nossa idade, como nossas irmãs e a considerar as mais novas como nossas filhas. Com este ensinamento os discípulos  de Buda são capazes de manter puros seus corpos e mentes e não são afetados pela luxúria, embora sejam jovens,"

Embora num certo estágio dos ensinamentos é recomendado se afastar das mulheres; elas seguindo os mesmos princípios de Buda, também podem atingir a Iluminação como relatado no livro.

Outros ensinamentos

"Assim como o vento carrega o pó, a Compaixão de Buda varre a poeira do sofrimento humano."

Para manter o corpo puro "não se deve matar qualquer criatura vivente". Não se deve roubar ou cometer adultério, manter pura a fala, não mentir, abusar, ludibriar...

"Aquele que, verdadeiramente, buscam o caminho da iluminação devem controlar a mente e prosseguir com firme determinação."

"A prática da caridade afasta o egoísmo."

"A fé abranda as nossas empedernidas e egoístas mentes, dando-nos uma mente amistosa e simpática."

"A família é o lugar onde as mentes estão em contato umas com as outras." Se se amarem, o lar será tão belo como um jardim florido. E devem estar presente os ensinamentos de Buda. 

"O dever do governante é proteger o seu povo. Ele é o pai do povo e o protege por meio de leis. Ele deve despertar o povo, assim como os pais despertam seus filhos, dando-lhes roupas secas para trocar com as molhadas, sem esperar que a criança chore. Da mesma maneira, o governante deve afastar todo o sofrimento e proporcionar felicidade, sem esperar que o povo se queixe. Seu governo não será perfeito até que o povo fique em paz. O povo é o tesouro do seu país."

O Budismo começou na Índia, avançou pela China, Japão espalhando-se a muitos outros países asiáticos e no mundo todo.

O livro tem MUITO mais do que isso!

Referências

(*) As citações do livro que fizemos, são autorizadas com "créditos" a BUKKYO DENDO KYOKAI (Fundação para propagação do Budismo - Tókio - Japão)

(**) Acessar: SIDARTA de Herman Hesse

(***) Conceito Rosacruz do Cosmos de Max Heindel


TEMPLO BUDISTA ZU LAI EM COTIA - SÃO PAULO

(Zu Lai, traduzido do chinês = "aquele que foi / veio")

Esse templo é o maior da América Latina com área construída de 10 mil m2 ocupando área de 150 mil m2.




segunda-feira, 7 de agosto de 2023

K. de Bernardo Kucinski

LIVRO 110 












Diz o Autor que "tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu".

Com efeito, quase tudo aconteceu.

A obra contém alguns capítulos com timbre de crônica mas o que destacado é o relato amargo de um pai, judeu  — que sofrera os efeitos do nazismo, na Polônia — sobre o desaparecimento de sua filha mais querida, em relação aos outros dois filhos nos tempos da ditadura militar no Brasil.

O que, afinal, acontecera com ela depois de notar, K., que sua filha estava há dez dias sem fazer qualquer contato?

K. era um literato, poeta que, com outros judeus, preservava a língua iídiche já então considerada morta, "uma língua cadáver, isso sim, que eles pranteavam nessas reuniões  semanais, em vez de cuidar dos vivos"

Com suas preocupações literárias, surpreendeu-se K. ao saber que sua filha era casada. A modesta cerimônia se dera aos parentes do noivo. Ele sequer fora informado dessa união. Seu genro também era da comunidade acadêmica — não chegara a o conhecer — e como ela desaparecido.

Para desvendar o paradeiro da filha, preocupado, vai ao Departamento de Química onde lecionava. Seus alunos de modo discreto, informaram que ela, que nunca faltava em suas aulas, estava ausente da faculdade havia 11 dias.

A partir daí, no começo de modo tímido, depois fazendo todos os contatos possíveis e até mesmo com falsos "informantes" sai em busca do paradeiro da filha. E do marido.

Conversou com militares, com religiosos e com quem mais lhe fosse indicado para alguma informação que desvendasse o desaparecimento dela.

O que nunca havia feito: procurou a Catedral Metropolitana da Sé, templo católico que nunca entrara antes e ali se uniu ao grupo de pais e parentes que, como ele, procuravam informações dos seus desaparecidos.

De rabinos supostamente influentes no meio político pouco ou nenhuma ajuda recebeu.

Já não duvidava da ação politica antiditadura de ambos. E já ia se convencendo que sua filha poderia ter sido morta nos porões da ditadura.

► Ana Rosa, a filha de K., esse era o seu nome segundo livreto 'Tag' de junho de 2023 que acompanhou o livro, "desaparecera" em 1974.  O Autor era seu irmão.

O Autor se refere ao agente Fleury que naqueles prédios clandestinos do Doi-Codi praticava a tortura e assassinatos contra os militantes capturados.

Nas páginas finais, a "transcrição" de uma carta remetida por "Rodriguez" ao "companheiro Klemente" na qual faz ele ponderações amargas por não terem parado as ações de luta à iminência da derrota do movimento, inclusive lamentando  execuções de membros que queriam deixar as células por vislumbrarem uma "guerra perdida" e, pior,  tratados injustamente como traidores.

Há o nome mencionado nessa suposta carta de um militante (Márcio) que fora executado pela célula.  Esse nome, Márcio (Toledo), é mencionado, também, por Alfredo Sirkis relatando que membros da ALN já praticamente desarticulada, o executaram na rua porque temiam que  saindo da luta, poderia denunciar os que ficaram. Um "estupido crime". (*)

Na resenha do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkis:

"Num dado momento, vendo que a guerrilha perdia terreno, membros de outras siglas com o mesmo objetivo, iam sendo mortos ou presos, Sarkis resolveu deixar a VPR, descrevendo seu constrangimento perante os demais companheiros revolucionários". 

E reconhece:

"Doze meses depois, estávamos ali, dizimados, reduzidos a menos de um quarto do que fora a organização. Um pensamento sombrio me assaltou. Será que chegava ao réveillon de 71?" (*)

Kafka

Há no livro referências a Kafka (também a Milan Kundera).

"O Processo" de Kafka, de família judaica, é anterior ao nazismo, de 1925. Nessa obra  seu personagem Joseph K. acusado por um crime que desconhecia, até porque não havia crime, não se sentia culpado, tanto que busca nas teias judiciárias saber do que tratava a acusação.

O final trágico é consequência da perseguição da qual fora vítima na trama, sem descobrir do que era acusado, revelando-se cansaço psicológico, dando-se espécie de desistência, entregou-se aos algozes, algo como o suicídio.  (**)

É sempre bom cuidar que a interpretação não vá além do que pensou o autor da obra.


O livro K. contém 196 páginas e nelas há muito mais a ser conhecido.


 APÊNDICE

Naqueles idos das décadas de 60 e 70 como acadêmico de direito na PUCSP, um dia apareceu na classe José Dirceu para umas palavras sobre a oposição à ditadura (talvez em 1969). Questionei-o apontando as dificuldades, porque o lado que combatia era o Exército. Manifestação muito rápida, houve algumas vaias e aplausos.

Referência no texto.

(*) Acessar: OS CARBONÁRIOS

(**) Acessar: O PROCESSO de Kafka




quarta-feira, 26 de julho de 2023

PROMOTEU ACORRENTADO, ÉDIPO REI e MEDÉIA de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes

 EDIÇÃO ESPECIAL

TRAGÉDIAS GREGAS - O DESTINO ESTAVA ESCRITO












ÉSQUILO:  "PROMETEU ACORRENTADO"








Ésquilo nasceu por volta de 525 AC em  Elêusis, próximo de Atenas e faleceu em 456 na Sicília. 

A obra, escrita em 470 AC é mais uma tragédia grega. 

Nas três obras a predominância do cumprimento inexorável do destino. 

Nesta obra de Ésquilo o destino tem a ver com o castigo de Zeus tal qual proclamam correntes espirituais que falam na "lei do retorno", na "lei da causa e efeito."

Mas, há que se afirmar que Zeus é um deus pagão e se envolve como se constata em outras obas com certa paixão na vida dos mortais.

Essa tragédia tem os personagens seguintes além de Prometeu:

Poder e Força: Sob cujas ordens é executada a punição a Prometeu;

Hefesto: designado para acorrentar Prometeu numa "rocha varrida", que lamenta muito cumprir a missão imposta mas a executa, deixando Prometeu numa situação "ultrajante".

Oceano: Aliado de Prometeu que dele se aproxima em seu local do castigo e demonstra o desejo de interceder perante Zeus para minorar seus sofrimentos. E chega a aconselhar: "E por inteligente que sejas, desejo dar-te o mais salutar conselho. Conhece-te a ti mesmo e adota modos novos, pois um novo senhor reina sobre os deuses". Prometeu, porém, rejeitou a ajuda porque receava que Zeus fizesse contra o Oceano, algum tipo de retaliação.

Io: filha de Ínaco: que Zeus amava, mas pelo ciúmes de Hera (esposa de Zeus) foi expulsa pelo pai de casa e deixada à própria sorte no deserto, por terras estranhas, habitantes perigosos. Ela chega até Prometeu mas segundo as profecias dele, Io finalmente, pelo "capricho do Destino, uma grande colônia será fundada por ti Io e pelos teus filhos". 

Hermes: filho de Zeus que vai até Prometeu para saber de suas previsões sobre a perda do trono pelo pai, após um casamento...

Coro das Oceânidas: Aliado de Prometeu que sofre com ele o castigo que lhe impôs Zeus. 

Prometeu fora duramente castigado por Zeus por ter dado aos mortais, aos homens, ensinamentos e segredos conforme explana já acorrentado nas rochas. Ele se refere ao que ensinou e inventou em benefício dos mortais:

 ● A construir moradias  com tijolos e madeira para que saíssem os mortais das cavernas escuras;

 ● A distinguir as estações de inverno e a das flores , dos frutos e da colheita;

 ● Inventou o sistema de números e o alfabeto;

 ● A subjugar os animais para fazerem os trabalhos mais pesados;

 ● Os navios para os marinheiros correrem os mares;

 ● A utilização do fogo...

"Vede como está preso em correntes o miserável  deus que sou, o inimigo de Zeus, que incorreu no ódio de todos os que frequentam a corte de Zeus porque amou demasiado os homens."

Mas, Prometeu exalando o ódio contra Zeus, declara que ele perderá o trono depois de um casamento do qual se arrependerá, porque a esposa lhe dará um filho mais forte que ele.

Então, a tais presságios se apresenta Hermes a mando de seu pai Zeus para saber "que casamento é esse que fazes tanto barulho".

Prometeu, ao ser acusado por Hermes de que delira e está doente, ele responde:

"Se estar doente e odiar os inimigos, então, sim, estou doente."

Então, Hermes, agrava o castigo de Prometeu informando que o "cão alado" de Zeus, o "abutre sanguinário", devorará "com voracidade grandes pedaços do seu corpo (...) que virá todo o dia fazer seu repasto e o dia inteiro vai mastigar a negra iguaria que é o teu fígado". 

No dia seguinte, o fígado recuperado era novamente devorado.

E Hermes não lhe dá esperança de breve reparo ao castigo, mas lhe diz:

"Então olha ao teu redor, reflete, e não acredites que a teimosia valha mais que uma sábia deliberação."

E o Coro aliado de Prometeu, no final, sob ameaça de Hermes a possíveis retaliações de Zeus contra ele, Coro, diz:

"Usa de outra linguagem e dá-me conselhos que eu possa escutar. Acaba de dizer frases intoleráveis. Como podes ordenar que eu cometa uma covardia? O que ele deve sofrer, quero sofrer com ele. Aprendi a odiar os traidores. De nenhum outro vício tenho mais horror."

E a frase final de Prometeu:

"Ó minha venerável mãe e tu, Éter, que fazes rodar ao redor do mundo a luz comum a todos, vede o tratamento ultrajante que me infligem?"


Em Prometeu Acorrentado, o destino dele está ligado aos desígnios de Zeus que o castiga pela ajuda aos mortais e mesmo ao ódio externado ao deus.

Há excessos? 

Depois de 2500 anos, até hoje, com tanto "progresso" sabemos ou controlamos o essencial da vida? Como explicar tantas diferenças entre os semelhantes, as dores físicas, morais? Seriam castigos? Se sim, por quê? Por quem?

O essencial da vida não entendemos ou não nos é dada a compreensão.


SÓFOCLES"ÉDIPO REI"











Sófocles nasceu em 496 e faleceu em 406 a.C
Além de dramaturgo premiado  na Grécia, ocupou altos cargos políticos pela amizade com Péricles, este um estadista influente, orador emérito e líder da democracia na "era de ouro" de Atenas.

"Édipo Rei" de Sófocles. escrita lá pelos anos 427 antes de Cristo constitui-se amarga tragédia grega.

Essa peça teria inspirado Sigmund Freud no desenvolvimento de sua teoria psicanalítica do "complexo de Édipo", por esta frase proferida por Jocasta na peça:

"Não tenhas medo da cama de tua mãe:
quantas vezes em sonho um homem dorme com a mãe!

A lenda de Édipo que antecede a peça teatral de Sófocles contém estes episódios conhecidos:

Édipo era filho do rei Laios e de Jocasta, reis de Tebas.

A profecia obtido no oráculo de Delfos, dera ao menino um destino horrível: mataria seu próprio pai e desposaria sua mãe.

Por isso , fora ele atirado ao abandono numa várzea do Citerão pela própria mãe, Jocasta, com um grampo que prendia seus dois pés para ser morto. 

Mas salvo por um pastor e depois adotado como filho legítimo pelos reis de Corinto, Políbio e Mérope que não tiveram filhos.

["Édipo" tem o sentido de "pés inchados", exatamente pelos grampos que prendiam seus pés, quando encontrado].

Édipo soube da profecia e imaginando que fosse Políbio e Mérope, seus pais verdadeiros deixa Corinto e ruma para Tebas.

No trajeto, por um motivo fútil, uma rusga, Édipo mata quatro dos cinco viajores.

Tebas era atormentada pela esfinge, monstro com cabeça de mulher e corpo de animal que devorava a todos que não desvendassem seus enigmas.
Na vez de Édipo o enigma proposto pela esfinge já se preparando para o banquete:

Qual o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite”?

Édipo dá esta resposta:

— É o homem. Pela manhã ele engatinha com quatro ‘patas’; ao meio-dia é o adulto que anda com as duas pernas e à noite (na velhice) ele se vale de uma bastão, três pernas. 

Vencida, a esfinge se destrói atirando-se num precipício.

Havia a promessa de desposar Jocasta e se tornar rei de Tebas aquele que vencesse a esfinge.

E Édipo casa-se com Jocasta tornando-se rei de Tebas.

ÉDIPO REI

A tragédia de Sófocles, escrita em 430 AC tem os seguintes personagens principais:

 ● Édipo, rei de Tebas
 ● Sacerdote
 ● Creonte, irmão de Jocasta
 ● Tirésias, o adivinho cego
 ● Jocasta, rainha de Tebas
 ● Emissário de Corinto
 ● Pastor da casa de Laios
 ● Arauto do palácio real
 ● Coro dos anciãos de Tebas.

Édipo se depara com multidão nas suas portas e indaga os motivos  daquela aproximação.

O sacerdote ressalta as tragédias que  assolam Tebas e acentua:

"Com seu archote flamejante a peste lança-se sobre nós e dizima a cidade; fica vazia a casa dos tebanos e o reino tenebroso dos infernos vai-se enchendo de lágrimas e gritos."

Édipo respondeu que esperava por Creonte, seu cunhado, que fora consultar o oráculo de Delfos.

Creonte se aproxima e diz que os males de Tebas se devem à morte de Laios, o rei que Édipo sucedeu pelo que haveriam que ser descobertos os seus assassinos e punidos severamente. 

Acreditava-se que Laios fora morto por um bando de ladrões.

Édipo ordenou que fossem os assassinos descobertos.

Então, fora chamado Tirésias, um vidente que poderia desvendar o assassinato de Laios.

Édipo o interroga e ancião Tirésias que reluta em fazer revelações mas é de tal modo desafiado que acaba dizendo  que o rei teria um grande revés e que o homem procurado "passa por estrangeiro mas se verá que é natural de Tebas e essa descoberta lhe será cruel..."

Édipo se revolta e ataca Creonte por ter trazido Tirésias e diz que ele conspirava e desejava conquistar o trono.

Creonte diz, 

"Que caia sobre mim a maldição de Zeus, se fiz alguma coisa do que dizes". 

Quando Jocasta entra em cena tentando apaziguar o marido e o irmão, repete a versão de que Laios fora assassinado numa encruzilhada por salteadores.

Édipo então indaga da compleição de Laios e se era grande sua comitiva ao ser morto.

À resposta de Jocasta de que Laios tinha semelhança com ele e de que eram apenas cinco na comitiva, Édipo passou a se preocupar. 

Jocasta informa que um servo se salvara do massacre. 

Era um pastor que ao ver Édipo como rei antes pedira para se afastar de Tebas. 

Foi, então, chamado para explicar o que vira naquele dia do assassinato.

Entra o emissário vindo de Corinto e informa que a cidade deseja que também seja de lá, Édipo, o rei, porque Políbio falecera de velhice.

Acreditando que Políbio fora seu verdadeiro pai, Édipo revela sua "libertação" da profecia trágica poque não fora ele quem provocara a morte do rei de Corinto.

O emissário informa a Édipo que Políbio e Mérope eram seus pais adotivos e revela que ele salvara o bebe recém nascido abandonado na várzea do Citarão entregue por um pastor. 

Jocasta, a partir daí começa a ficar preocupada,

"Pelos deuses! Se tens amor à vida, põe fim a essa busca! Eu não suporto mais!"

Chega o pastor e depois de muito ameaçado diz a verdade. 

Recebera das mãos da rainha o menino para ser morto porque dele havia grave profecia.

Amaldiçoa Édipo aquele que o salvara, que desprendera seus pés propiciando que a profecia se cumprisse e que,

"Eu não viria a assassinar meu pai 
nem seria culpado como amante
da criatura que me pôs no mundo...
Agora não há deus que me redima:
sou filho de uma mulher corrompida,
rival do homem que me deu a vida. 
  
Foi então informado de que Jocasta estava morta. 

Édipo em desespero,

"Onde está minha esposa que não é esposa alguma, é um útero danado que me pariu e pariu filhos meus!"

Ela praticara o suicídio por enforcamento e Édipo ao ver a cena fura os próprios olhos que sangram.

Então é chegada a hora de sair de Tebas, no cumprimento de seu castigo.

Creonte não consente que com ele, cego, vão suas filhas:

"Vai, mas deixa as meninas!

Édipo:

"Não! Não me tirem minhas duas filhas!"

Creonte:

"Não queiras dar mais ordens, obedece! Teu poder terminou."

E o Coro conclui melancólico:

"Concidadãos de Tebas, pátria nossa,
olhai bem: Édipo, decifrador de 
intrincados enigmas, entre os homens
e de maior poder - aí está!
Quem, no país, não lhe inveja a sorte?
E agora, vede em que mar de tormento
ele se afunda! Por esta razão,
enquanto uma pessoa não deixar 
esta vida sem conhecer a dor,
não se pode dizer que foi
feliz."

"Moral da história": Ninguém escapa do que está escrito a passar na vida, o destino; a busca implacável pela verdade, qualquer que fosse; os mistérios da vida humana a serem desvendados pelo simbolismo da esfinge e as benesses e os castigos a receber e a enfrentar, cada um segundo o seu merecimento. Mas, quem dita essas regras, Zeus?

Esse rigor do destino, afinal de contas não é uma constante até hoje, a despeito do livre arbítrio? O livre arbítrio interfere em experiências essenciais da vida?


EURÍPEDES"MEDÉIA"










Eurípedes nasceu na Grécia a data que parece a mais consentânea seria 484 AC. A tragédia "Medéia" fora escrita em 431 AC. 

Trata-se de uma tragédia, sem exageros, "superlativa".

É a narrativa de ciúmes doentio de Medéia, porque seu marido Jasão a abandonou pela "cama" de uma princesa, Glauce, filha de Creonte, rei de Corinto.

Os personagens da peça, são além de Medéia, Jasão, Glauce e Creonte:

● A Ama

● Escravo que conduz as crianças, filhos de Medéia e Jasão

● Coro das mulheres de Corinto

● Egeu, rei de Atenas

● Mensageiro que traz a notícia da morte de Glauce e Creonte;

● Filhos de Jasão e Medeia

A Ama num longo prólogo explica o ódio de Medéia por ter sido abandonada e seus filhos pelo marido e pai, Jason, O casal exilado em Corinto, vivia bem ali e que "tudo está salvo, quando nenhuma dissensão separa a mulher do marido".

Ela revela que, além do ódio que nutre pela marido que a abandonou, odeia os próprios filhos e ameaça os assassinar.

Diz ela rejeitando a vida isenta de perigos como dizem os homens das mulheres, que "preferiria tomar parte em três combates a dar à luz uma só vez."

O Coro das mulheres lhe dá razão pela revolta, mas aconselha Medéia e não macular de sangue de seus próprio filhos.

Tais queixas e ameaças ao casamento de sua filha com Jasão, faz com que o rei Creonte expulse de suas terras a "intratável" Medéia, dando-lhe um dia para partir com seus filhos.

Jasão insiste que se Medéia se conformasse, poderia viver em Corinto, porque o exílio lhe será caro. E diz que a abandonara pela princesa para garantir o futuro dela própria e dos filhos.

Mas, Jasão é repreendido pelo Coro por ter abandonado Medéia,

Então, surge Egeu, rei de Atenas (*)

Diz ele que por lá estava em busca de respostas para ter filhos tendo consultado mesmo o oráculo de Apolo que lhe dera uma resposta que precisava ser desvendada por um sábio, Piteu, e Egeu seguia até ele.

Medéia diz a Egeu sobre a traição do marido e, então, promete ele protegê-la em Atenas.

Essa promessa de Egeu incentiva Medéia ainda transtornada pelo ciúme doentio a praticar sua vingança cruel.

Então, demonstrando falsamente que se conformava com a traição do marido,  amenizando o seu ódio presenteia a princesa Glauce um vestido e joias preciosas para persuadi-la a manter seus filhos em Corintos, sendo somente ela, Medéia, exilada.

Jasão promete que interviria por seus filhos de modo a que ficasse, em Corinto sendo desnecessários os presentes que oferecia à princesa Glauce.

Medéia não aceita e remete os presentes

Mensageiro, então, a informa de que seus filhos estariam a salvo em Corinto, mas o veneno nas vestes presenteadas e as joias envenenadas mataram tanto a filha como Creonte.

"Do que te toca, não quero dizer nada; aprenderás suficientemente por ti mesma que o mal recai sobre aquele que faz". 

E Medéia mantém o ódio aos seus filhos e os assassina.

Diz o Coro das mulheres: "Miserável! Tens então um coração de pedra ou de ferro, para ferir com tua mão teus próprios filhos, fruto de tuas entranhas?"

Segue-se uma discussão entre Medéia e Jasão exalando ódios, de acusações mútuas mas foi a mulher que atingiu o auge da insânia.

A peça se refere ao destino que se cumpre até porque "Zeus, do alto do Olimpo, determina o rumo de muitos acontecimentos, e muitas vezes os deuses enganam nossas previsões na execução dos seus desígnios,"

O destino e as tragédias.

Depois dessas obras (Prometeu, Édipo Rei e Medéia) filósofos gregos tentaram mudar os rumos adotando a liberdade de pensar se afastando dos desígnios do destino.


Referência no texto:

(*) Mitologia: Egeu deu nome ao  mar Egeu, em sua homenagem,  por nele se atirar e se afogar, julgando que seu filho Teseu fora devorado pelo monstro Minotauro. Teseu fora a Creta para matar o monstro nos labirintos da Ilha.