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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

SUAVE É A NOITE de F. Scott Fitzgerald

 LIVRO 103













O Autor é americano nascido em Saint Paul, Estado de Minnesota (n. 1896 - m. 1940).

Essa obra foi lançada em 1934. 

Em 1962 foi lançado o filme dirigido por Henry King com o mesmo título inspirado na obra.

Curioso que esse Autor, também americano, faz seu romance se passar principalmente em Paris, assim como Ernest Hemingway ("Paris é uma festa") (*), W. Somerset Maughan ("O fio da navalha") (**) e Henry Miller ("Trópico de Câncer") (***)

A preferência especialmente por Paris talvez signifique um modo de sofisticar a história que cada um contou.  

Quando comecei a ler achei que o livro, a despeito de suas 320 páginas não teria muito a acrescentar, mas ele evolui a partir da parte 2. 

Estava, ainda, nessa dúvida quanto ao interesse do livro, afinal fora lançado em 1934, quando li que fora relançado agora em 2023, fazendo referência a notícia de que o obra poderia ser um "retrato autobiográfico de Fitzgerald e sua mulher Zelda". Com efeito, em momentos de um casamento feliz, com ambos levando vida conturbada ela começou a demonstrar distúrbios psicológicos.

Enredo

Uma história de ricos, americanos na maioria, que esbanjam riquezas em recepções constantes, predominante em Paris,  comandadas pelo casal Dick Diver e Nicole Warren.

Ele médico psiquiatra e ela com distúrbios mentais sérios, tendo como causa, tudo indica, após uma relação incestuosa com o próprio pai.

Como médico, Dick conhece Nicole, multimilionária, lindíssima, se apaixonam e se casam. Desse casamento nascem dois filhos.

Essa relação é relativamente normal, embora haja momentos em que Nicole tem recaídas de natureza psicológica, a ponto de chamar a atenção de uma das frequentadoras numa das recepções. Tentando a sra. Violet McKisco fazer fofoca sobre o que vira entre o casal Diver, fora ela proibida de continuar o relato por Tommy Barban. Chamado de prepotente pelo marido (sr. McKisco), Tommy o esbofeteou. A querela seria resolvida num duelo que se realizou sem consequências porque ambos erraram os tiros (?)

Dick num desses encontros num praia conhece a jovem e linda atriz, Rosemary. Nessa relação um tanto livre ela desde logo disse à mãe, que a dominava, que se apaixonara por ele. Dick por sua vez por ela também se apaixona, e dá-se "um caso" entre eles num hotel.

Há uma episódio mal contado de um assassinato no qual o cadáver do negro Jules Peterson é encontrado na cama de Rosemary. Para evitar um escândalo podendo afetar o nome da atriz, o cadáver e envolvido pelas roupas da cama, é transportado para o corredor, a polícia é chamada, não pergunta nada e tudo acaba bem, como um bom filme americano.

Mas, Dick refletindo sobre essa relação com Rosemary, vai confessar no final das contas que Nicole é a mulher de sua vida (!)

No decorrer do romance, Dick começa a dar mostra de decadência, bebendo além da conta, a ponto de, em Roma, se indispor com um motorista de taxi, por uma diferença de preço, o agredir, agredir um policial, é por sua vez agredido e é preso. Com muito esforço a cunhada Baby Warren com a ajuda do cônsul americano, consegue libertá-lo, muito ferido.

Dick, associado numa clínica com Franz montada com dinheiro de Nicole, fugia com alguma regularidade do trabalho, até para se afastar um tempo da esposa.

Então Nicole, já num estágio mais controlado de seus problemas psicológicos, reconhece amar Tommy, que fazia parte de suas relações e revela esse sentimento a ele que confessa que o amor é correspondido.

Diante do amor de Nicole, Tommy revela a Dick que seu casamento é insustentável, propõe o divórcio e assim se dá. Tommy e Nicole se casam.

Dick, então, volta aos Estados Unidos e passa a clinicar em pequenas localidades em volta de Nova York até que Nicole o perde de vista.

Há outros personagens que trafegam em torno de Dick e Nicole.

Dramalhão, hein?

Detalhes

O Autor, chega a fazer viagem para o futuro. Um relato nessa ordem se dá quando  relatada uma viagem de avião de Dick que vai de Zurique a Munique, "voando em meio às nuvens". E nessa viagem, "um inglês dirigi-lhe a palavra do outro lado do corredor..." (do avião). Isso na década de 20 (!)

Um relato "estranho" envolvendo duas personagens, mulheres ricas, detidas no posto policial de Antibes, Mary North e lady Caroline. Pediram ajuda de Dick para serem postas em liberdade o quanto antes, porque

"- Foi apenas uma brincadeira - dizia lady Caroline com desdém - Fingíamos que éramos marinheiros em férias, e apanhamos duas pequenas tolas. Elas desconfiaram e fizeram uma cena horrível, numa pensão."

Uma cena "camuflada" de lesbianismo?

 O livro não é só isso. Há muitas cenas do cotidiano dos ricos, descrição de paisagens europeias e outros episódios de interesse. Digo que acabei gostando do livro, a despeito do drama muito comum nos velhos filmes americanos. 

E não posso concordar com esta análise da obra na própria edição que li. O texto é esse:

"Suave é  Noite" é o romance mais amargo de todos. Com os mesmos traços autobiográficos de outros livros, a sociedade retratada por Fitzgerald está entregue ao ceticismo e ao desespero. A crise dos anos 20, particularmente a derrocada econômica de 1929, abalam a fé nas instituições, na moral e na religião. Apenas o prazer - imediato - parecia ter algum valor, e o amor reduzia-se a uma mera satisfação da necessidade física."

Ora, não há qualquer referência à religião, a busca de proteção das divindades, mas há um tipo de redenção de Nicole recuperada de suas crises psicológicas, cuidados com os filhos e a volta do amor ao se divorciar de Dick, decadente e, quem sabe, o Autor não disse isso, ser ele feliz à sua maneira, clinicando solitariamente em pequenas localidades.

Referências:

Acessar:

(*) PARIS É UMA FESTA

(**)  O FIO DA NAVALHA

(***) TRÓPICO DE CÂNCER