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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS de George Orwell


LIVRO 65







"A Revolução dos Bichos" é um livro de 1945.

Se o leitor se puser a ler, como fiz eu, sem ler a contra capa e nada pesquisar, o seu desenrolar, embora protagonistas fossem os bichos da uma granja começa a perceber que simboliza gradativamente a instituição de um regime totalitário, ditatorial.  

O proprietário humano era o sr. Jones  Ele submetia todos os bichos ao trabalho penoso, aos maus tratos e pouca ração..

O velho porco Major, muito respeitado na granja, após um sonho que tivera lembra, numa reunião com todos os bichos,  que suas vidas eram miseráveis com muito trabalho até a última parcela das suas forças e quando enfraquecidos pelos tempo, seu fim não era natural mas cruelmente trucidados:

"Que fazer, então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas, rebelião!

E ensina a melodia "Bichos da Inglaterra" que aprendera com sua mãe ainda como um leitãozinho em cuja letra enaltecia a liberdade dos bichos. Uma estrofe:

"Mais hoje, mais amanhã,
O Tirano vem ao chão,
E os campos da Inglaterra.
Só os bichos pisarão."

O porco Major logo morre de causas naturais, Afinal, fora ele um animal premiado.

Essas ideias passaram a fervilhar na mente dos animais até que um dia de revolta expulsaram da granja, violentamente, o sr. Jones e os demais humanos que com ele trabalhavam.

Dominada a granja pelos bichos, os mandamentos do animalismo eram sete, elaborados pelos porcos Bola-de-Neve e Napoleão:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo;
2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo,
3. Nenhum animal usará roupa;
4. Nenhum animal dormirá em cama;
5. Nenhum animal beberá álcool;
6. Nenhum animal matará outro animal;
7. Todos os animais são iguais.

E é fundada a Granja dos Bichos.

Bola-de-Neve e Napoleão enviavam pombos para outras granjas para que informassem sobre a rebelião que se dera na Granja dos Bichos ensinando a melodia do "Bichos da Inglaterra.

Então os bichos começaram a trabalhar muito, aumentando a ração de cada um.

Mas, já divisando a liderança absoluta da Granja, o porco Napoleão, incomodado com a influência de Bola-de-Neve que projetava construir um moinho de vento que, na sua concepção melhoraria a vida de todos, um dia lançou seus cachorros bravos contra ele. 

Bola-de-Neve fugiu da Granja e ao certo não se sabia do seu paradeiro. Estaria aliado com algum estancieiro vizinho?

Tudo o que de ruim acontecia, era obra clandestina do traidor Bola-de-Neve.

O porco Garganta, porta-voz de Napoleão e depois da casta dos porcos dirigentes sempre se referia à traição do porco expulso da comunidade.

A mudança mesmo da história porque Garganta fazia acreditar que Bola-de-Neve, herói da revolução fora nada mais que um oportunista.

Mas, sem mais Bola-de-Neve, Napoleão determinou que o projeto do moinho de vento fosse em frente, exigindo trabalho estafante dos animais que precisavam puxar pedras para suas paredes. Nessa tarefa o cavalo Sansão era um trabalhador incansável.

A Granja dos Bichos foi atacada pelos humanos enciumados pelos êxitos obtidos, inclusive do antigo dono, o sr. Jones, mas os animais venceram.

Então, Napoleão, porque os porcos eram os animais mais inteligentes, assumiu a liderança da Granja e passou a contrariar e modificar os mandamentos do animalismo; vestiu roupas que pertenciam ao sr. Jones,  arrumou umas insígnias fixando-as no peito, passou a dormir na cama da sede da granja - os outros animais continuavam dormindo nos estábulos sobre palha -, passou a consumir álcool "mas sem excesso" e alguns animais foram executados acusados de traição e por terrem mantido contato com Bola-de-Neve.

Por ordem de Napoleão, a Granja dos Bichos passou a fazer negócios com humanos (de duas pernas) vendendo parte da produção obrigando os animais todos a trabalharem mais e receberem menos ração.

A vida se tornara melhor ou pior se comparada aos tempos do sr. Jones? A ração era maior, a mesma ou menor do que a concedida pelo sr. Jones? Havia ou não mais tempo de trabalho?

Para surpresa geral dos animais os porcos dirigente começarem a andar sobre duas pernas (quem andasse sobre duas pernas era inimigo!)

Sansão que laborara tanto no carregamento das pedras para construção do moinho de vento, sentiu-se mal e foi encontrado estendido no chão. Seus colegas animais o socorreram e esperavam que Napoleão providenciasse ajuda médica para sua recuperação e depois, sua aposentadoria num terreno existente na granja.

Mas, para decepção geral, o carro que veio buscá-lo fora o do matadouro.

Mas, Garganta garantiu que aquele carro não era mais do matadouro, mas de socorro.

Mais tarde, anunciaria a morte de Sansão...

Por fim, os porcos dirigentes já aproximados dos humanos a ponto de fazerem recepções na casa grande.

Numa dessas recepções houve uma briga generalizada entre o humano sr. Pilkington numa trapaça havida num jogo de cartas.

Assim,

"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez, mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco."

Motivações

Na edição que li, só se vai descobrir a inspiração real da história pelo posfácio e no prefácio do próprio Autor inserido no final do livro.

Quanto aos animais, o Autor se inspirou num cavalo de porte bastante chicoteado por um menino quando o animal vacilava nos caminhos a seguir. 

Se esse animal tivesse consciência da força que tem não aceitaria esse tratamento... desumano!

No tocante à transformação política que se dera na granja seguira o Autor o que se dera na União Soviética: o porco Napoleão representaria Josef Stalin, com toda sua truculência e assassinatos. 

Bola-de-Neve representaria o dissidente Leon Trotsky, rival de Stalin no comando do Partido Comunista. Trotsky foi assassinado em 1940 a mando de Stalin, no México onde se exilara, E Stalin morreu em 1953 por causa de hemorragia cerebral.

1984

Muitos dos episódios da Revolução dos Bichos  se assemelham a cenas do romance distópico "1984" do mesmo Orwell.

"1984" foi escrito em 1949. Desta série "1984" é o livro 12, podendo ser acessado por este link:

https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/07/12-1984-de-george-orwell.html










quinta-feira, 3 de outubro de 2019

TUPARI de Franz Caspar (Entre os índios nas florestas brasileiras)

LIVRO 64





Capa do livro.

Legenda da foto: Os feiticeiros acompanham, atentos, o comportamento dos espíritos
















Este livro está comigo há muito. Resolvi lê-lo sem o compromisso de o incluir neste blog porque a motivação fora apenas obter elementos da vida de indígenas brasileiros, após dar uma folheada em algumas de suas páginas.

Resolvi, incluir aqui, porque gostei muito do relato do Autor, um suíço "encantado" com os índios brasileiros e, com os Tupari viveu por quatro meses todos os usos e costumes da tribo. Esse convívio se deu na segunda metade do ano de 1948. 

O livro foi publicado por aqui pela "Melhoramentos", pelos idos dos primeiros anos da década de 50.

Franz Caspar era suíço, nascido em 17.09.1916 e falecido na Áustria em 13.04.1977, de modo inopinado, embora residisse em Zurique, Suíça.

Relata o Autor que naquele ano de 1948 estava na Bolívia e num estalo, resolvera conhecer e até conviver em aldeias indígenas conhecer índios verdadeiros.

Veio até o lado brasileiro e, após longa viagem, seguindo o traçado do rio Guaporé Mato Grosso (que deságua no rio Mamoré em Rondônia).



Minhas indicações: o quadro da esquerda localiza a aldeia Tupari do ponto de apoio do rio Guaporé; o quadro da direita, a localização a partir do rio Branco.

A legenda no livro desse quadro 2 (da direita) tem a seguinte explanação no livro: "Esboço do itinerário da marcha de São Luis para os Tupari. Como modelo, serviu de rascunho de Pedro, o criado preto. A linha tracejada assinala uma segunda rota, não percorrida pelo autor."



Pelo rio Branco chega à aldeia Tupari, que contava com duas malocas, com cerca de 200 indivíduos.

Recebido no começo com reservas porque se apresentara vestido numa população toda nua, homens e mulheres, com o tempo passou a fazer parte da comunidade, sendo muito querido.

Com Waitó, o cacique e pajé, o Autor firmara amizade de valor. As amizades que se estenderam aos demais membros da comunidade indígena pode constatar Caspar como eram bons e puros os indígenas.

Os tuparis trabalhavam muito em suas plantações de milho, mandioca, inhame e amendoim, tarefas que o Autor se integrou totalmente, como se membro fosse da tribo.

Saíam à caça e Caspar com sua espingarda ajuda a derrubar macacos, cuja carne é saborosa e, pelo que se soube no decorrer do relato, as práticas de canibalismo do passado revelavam que a carne humana tinha sabor bem semelhante ao do animal...

Nessas caçadas, são relatadas cenas de crueldade contra os animais abatidos mas que não chegam nem perto dos abatedouros de sempre.

Então, a alimentação básica, era a carne dos animais abatidos, milho, aipim (mandioca) e amendoim.

Para preparação de suas culturas, havia com muita regularidade, desmatamentos e até mesmo incêndios perigosos mas que não avançavam, pelo que se depreende do relato do Autor, além do "planejado".

Disse Waitó:

"- Essas fagulhas são perigosas: uma vez, elas queimaram a choça e as plantações de Tokürüru. Perderam-se mesmo as redes e o pessoal teve de dormir no chão, por muito tempo. Até uma criancinha morreu queimada".

[A comunicação se dava pelo português precário aprendido por alguns dos indígenas e pelas palavras que ia aprendendo o Autor dos tuparis].

Um relato dos trabalhos de abertura de terreno para o plantio:

"Nas últimas semanas, haviam trabalhado com afã. Calculei a floresta derrubada em cerca de dois hectares. Uns trinta homens se ocupavam no trabalho. Cada um usava um machado de ferro, alguns dos quais já eram bem gastos."

[Machados, facões e outras ferramentas eram obtidas dos "homens brancos" após prestarem os indígenas pequenos trabalhos de carregamento incluindo porções da borracha extraída em grande quantidade das seringueiras].





Legenda da foto no livro: "O Autor com a filhinha de Waitó, Kabátoa e a pequena vizinha Nyänkiab. Fotógrafo: cacique Waitó












A importância do milho e do aipim na produção da chicha

A chicha, produzida em grande quantidade, não poderia faltar na tribo, era uma bebida fermentada preparada com o sumo do milho esmagado e mandioca.

O Autor não explicou como se dava a fermentação. 

Vez por outra, na obra ele qualificava a chicha como "cerveja".

Então, com a produção permanente de chicha, a bebida era servida em inúmeras festas dando-se verdadeira bebedeira coletiva. 

Alguns bebiam até não aguentarem mais, mas então provocavam vômito para continuar bebendo!

A bebedeira ocasionalmente poderia produzir violência contra a mulher.

Quando estava o Autor já cansado da vida 'selvagem', no que se refere ao consumo de chicha disse:

"Havia outras coisas que se estavam tornando intoleráveis. As bebedeiras me enojavam cada vez mais."

Nudez

Com exceções, homens e mulheres tuparis naqueles idos de final da década de 40, andavam nus e não revelou o Autor abusos sexuais.

Mas, claro que havia o assédio, quem sabe o "amor" escondido por aquelas matas.

Mas o casamento era uma "instituição" que era quebrada se, depois de um tempo, o casal não tivesse filho.

Tanto carinho recebeu o Autor que a tribo toda pedia que ele ficasse para sempre entre os tuparis, se casasse e esquecesse sua aldeia de outras terras.

Então, tanto o cacique como sua esposa se esforçaram muito para que ele aceitasse e se casasse com Tonga, uma índia já madura, vesga mas muito carinhosa.

E ela própria o assediava a ponto de deitar uns instantes em sua rede.

Mas, ele resistiu o quanto pode e ao se despedir ouviu de Tonga uma frase que disse jamais ter esquecido:

"Queria dar-lhe, pois, à despedida, uma pequena lembrança.

- O que você quer das minhas coisas? perguntei-lhe, um espelho, um pente ou o quê?

Tonga olhou-me com seus olhos vesgos e respondeu-me baixinho:

- Para que você quer dar-me alguma coisa? Você vai embora e eu vou morrer aqui.

Com lágrimas o Autor foi se despedindo e ao olhar para trás todos os tuparis estavam reunidos e acenando com as mãos, flechas, espadas... Francisco, Francisco...

A origem da humanidade

O relato inicial da origem da humanidade é curioso porque antigamente a terra não era povoada e no céu não havia nenhum Kiad-pod (pajés primitivos).

Havia somente um grande bloco de pedra. Esse bloco era uma mulher que se abriu e entre torrentes de sangue, deu à luz um homem, a Waledjád. Mais uma vez o bloco se abriu e nasceu um outro homem. Chamou-se Wab. Ambos eram pajés.

Como não tinham mulher, mataram um aguti (uma das espécies de roedores, gambá) e com os dentes da frente do animal, esculpiram uma companheira para cada um deles e, dai nasceram os outros pajés primitivos os Wamoa-pod.

Waledjád era muito mal e ao se zangar chovia copiosamente a ponto de inundar toda a terra, morrendo afogados Wamoa-pod.

E aí, o meio encontrado para se livrar de Waledjád foi desterrá-lo a um lugar ao norte vivendo numa choça de pedra.

Mesmo assim, quando se zanga faz chover muito nas terras Tupari,

Os que se interessarem em expandir esse tema, sugiro acessar o portal abaixo que até mesmo transcreve páginas do livro de Franz Caspar:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tupari



Diz o Autor que quando conviveu com os indígenas, eram certa de 200 indivíduos da aldeia Tupari. Quando voltou em 1955 não contou mais do que 60 sobreviventes, vítimas de epidemia de sarampo. E todos vestidos.


O livro é muito mais do que ora relato.

O que posso dizer é que gostei muito.

Tenho comigo obras do sertanista Willy Aureli que vou reler e ler e, com o tempo, farei a resenha, quem sabe, de mais de uma obra reunidas.