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domingo, 15 de outubro de 2023

CONFISSÕES de Santo Agostinho

 LIVRO 112












Santo Agostinho nasceu em 354, apenas 41 anos depois da promulgação de Constantino do Edito de Milão, que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano.

Tive alguma dificuldade em me concentrar neste livro pelo modo como o Autor reverência as obras de Deus, a repetição de conceitos e a insistência em resolver enigmas principalmente do Gênesis.

Há que se ter muito compreensão. O livro foi escrito em 397/398 DC. Nas partes iniciais do livro que contém 416 páginas, na verdade ele se questiona e questiona Deus sobre os mistérios da criação — pouco dos Evangelhos ele explorou.

Ele fora até 387 quando foi batizado (aos 33 anos) um homem do mundo e nesse lapso ele confessa seus pecados perante Deus...

Na juventude, o orgulho, a vaidade pelo que sua mãe, Mônica, o incentivava à vida a serviço de Deus, da castidade prevendo que seus deslizes  mundanos poderiam ser perigosos.

Mônica fora um esposa (marido Patrício, que seria infiel e rude) e mãe exemplar que teve mais dois filhos (Perpétua e Navigius), a ponto de manter a paz no lar submissa ao marido seguindo, é possível, um preceito referido por Paulo na Carta aos Efésios:

05:22 - Vós, mulheres sujeita-vos a vossos maridos, como ao Senhor.

[Por ser muito religiosa, ter conseguido converter Agostinho à religião.  Ela faleceu aos 56 anos em 387 sendo foi canonizada em 1153 pelo papa Alexandre III].

Na verdade, Agostinho conviveu por anos com uma mulher sem ser casado e dela teve um filho, Adeodato (nascido em 372), inteligente que morreu jovem, com 17 anos. Ao se referir a ele no seu próprio batismo ao catolicismo,  Agostinho o qualificaria de "o filho carnal do meu pecado". 

Esses pecados até hoje estão presentes na vida de tantos — ele relata ate mesmo maldades praticadas por colegas de estudo aos calouros, tentativas de fraude as quais não aceitou — e, especialmente, os desejos sexuais, a luxúria que envolvem o homem e a mulher dificultando a todos aqueles que buscam a espiritualidade, encontrar Deus na sua alma. 

"Ora, a luxuria provém da vontade perversa; e, se não se resiste a um habito, origina-se uma necessidade.

Mas, ele sofria com os seus pecados, inclusive relatando sonhos sensuais. Disse ele:

"Eis que em Roma, sou acolhido pelo flagelo da doença. Já ia descer ao inferno. levando comigo todas as faltas que tinha cometido contra Vós (Deus), contra mim e contra os outros,"

"Procurei o que era maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade da substância suprema — de Vós, ó Deus...

Ele faz referência à carta de Paulo em "I Aos Coríntios" de que é bom o homem não tocar numa mulher porque aqueles que não têm esposa pensam nas coisas de Deus e os casados pensam nas coisas do mundo e em agradar sua esposa. 

Lembrando a idade da infância invoca os mistérios: "Que pretendo dizer, Senhor meu Deus, senão que ignoro donde parti para aqui, para esta que não sei como chamar, se vida mortal ou morte vital?"

Por longo período, Agostinho seguiu a doutrina do maniqueismo, fundada por Maniqueu (ou Manés) foi um admirador de seus oradores, mas à medida que ia absorvendo o cristianismo, foi dela se afastando.

Os tradutores do livro expõem ensinamentos sobre o maniqueismo, mas eu fico com o que disse Agostinho sobre a doutrina, ao a criticar:

"... afirmam (os maniqueistas) que temos duas almas de naturezas diferentes uma boa e outra má. Ora, esses tais são realmente maus ao seguirem essa má doutrina. Só serão bons quando sentirem a verdade e concordarem com os homens de verdade...  para que o Apóstolo possa também dizer: "Outrora fostes trevas mas agora sois  luz no Senhor."

Agostinho teve amigos num sentido de irmão que optaram pela vida religiosa. Destaco dois: Nebrídio que converteu a família ao cristianismo e Alípio, que se tornou bispo de Tagaste (Argélia), sua terra natal e a terra natal de Agostinho e de sua mãe Mônica.

REFLEXÕES DE AGOSTINHO

Será preciso sempre lembrar que "Confissões" foi escrito em 398.

Então, sobre dois temas que ele explana à exaustão, penso ter a ver com a sua época.

► O primeiro é sobre o tempo que não existiria: o futuro não chegou e, então ele não existe; o presente num instante se torna o passado naquela fração de segundos. Assim, o passado não existe mais, salvo na memória.

Não tenho o discernimento para avançar nas dúvidas do Santo, mas no tocante ao futuro, quantas vezes há um projeção mental, uma premonição, uma intuição do que advirá e também na vida material: "daqui a tantos dias, quando acontecer isto ou aquilo ou viajo..." (mas, nesta hipótese, seria apenas expectação).

Quanto ao passado, se psicologicamente ele não existe mas na memória é ele preservado, neste mundo tão complexo, do ponto de vista material, as pirâmides do Egito, por exemplo são a memória de mais de 2.600 anos antes de Cristo. As ruínas de Pompéia...

► Outro ponto, mas do Gênesis, Agostinho "sofre" em buscar o perfeito sentido:

"No princípio, criou Deus os céus e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas."

Ele discorre em muitas páginas na busca da exata interpretação desse texto.

Ele se refere aos abismos e nessa análise não menciona que também "os céus" foram criados. Parece que ele olha para a "terra" e certamente sabia que ela fazia parte dos... céus.

Se ele tivesse um telescópio e o mirasse a Marte, veria como era ainda no seu tempo, as condições inóspitas de sua superfície.

Somente muitas páginas a frente ele se refere ao Universo, suas estrelas, à Lua...

Nessa sua busca, transcreve interpretações de outros estudiosos e, nesse contexto, chega a mencionar uma questão: o que fazia Deus antes da criação? 

Não faltam mistérios que transcendem em muito a mente humana limitada.

Por fim, ele ora a Deus pedindo iluminação que confirme ou não se esse texto de Moises, no Gênesis, é verdadeiro ou tem algum outro significado. 

Agostinho em 395 torna-se bispo de Hipona (atual Annaba, na Argélia). Falece em 28 de agosto de 430 com 76 anos. Foi canonizado em 1292 reconhecido como doutor da Igreja — pelos outros vários livros que escreveu — pelo papa Bonifácio VIII.  


O LIVRO: tem muito mais do que isso, e quanto a mim exigiu muito resignação em chegar à última das 416 páginas.

Os que desejarem criticar ou esclarecer, há espaço para tanto neste blog.