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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS de Machado de Assis

LIVRO 54



Partam do princípio de que eu não conhecia a obra nem por fragmentos e no conjunto sou obrigado a confessar que não gostei da obra.

Como o próprio festejado Autor revela, a “obra foi feita aos pedaços na Revista Brasileira pelos anos de 1880”.
Esses pedaços compuseram mais tarde o livro…

Por causa disso é que encontrei capítulos que no meu conceito, apenas preenchiam páginas, destoando da narrativa.

O narrador que conta sua história post mortem fora batizado com o nome de Brás Cubas. Seus pais, descendentes da família Cubas, deram-lhe o prenome de Brás, o mesmo nome do capitão-mor que fundou a Vila de São Vicente em São Paulo: “Brás Cubas”.

De família rica, adorado pelo pai, a vida de Brás Cubas fora dum desocupado, dum parasita como se disse nas páginas de introdução do livro (*).

Mas, na maturidade, sonhava em produzir o “emplastro Brás Cubas” ideia que não prosperou porque morreu antes, por causa da moléstia que o vitimou.

No seu leito de morte, às vezes assistido por sua antiga amante, Virgília, Cubas teve um delírio aparecendo para ele um hipopótamo que o “arrebatou” começando então uma viagem no seu dorso cujo destino seria, na verdade, “à origem dos séculos”.

Este ingênuo leitor de poucas letras imaginou que o nome Virgília de Virgílio e o hipopótamos, um animal poderoso poderia ser um cicerone caricato em relação ao privilegiado guia de Dante Alighieri, o filósofo, na Divina Comédia que o guiou nas plagas do inferno e do purgatório (**)

Teria Virgília algo com Beatriz a musa de Alighieri que o conduziu pelo céu?

Seria esperar demais, ora.

Nessa sua vida de prazeres e riquezas conheceu a linda Marcela, “dama espanhola” por que se apaixonou.

Vendo as dívidas pelos presentes caros que Brás lhe dava, seu pai interveio e o obrigou a estudar em Coimbra.

Ele tentou levar Marcela na viagem, mas foi frustrado por seu pai.

Já no navio, algo incomum: o capitão que tinha sua esposa a bordo muito doente era dado a recitar poesias tendo Brás como ouvinte (!)

Ao retornar ao Rio, um dia reencontrou Marcela, numa pequena loja. Com dificuldade a reconheceu, então com rosto inchado por moléstia, envelhecida. Tão logo pode Brás se afastou para encontrá-la anos depois nos momentos de sua morte.

E é aí que a Virgília se destaca porque apresentada como sua futura esposa, dentro do que pensara o pai de Brás, em arranjar um casamento e introduzi-lo na política.

Mas, Virgília pensava em obter títulos de nobreza e por isso casou-se com Lobo Neves político, indicado para um ministro, cuja nomeação não se efetivou porque se deram algumas coincidências com o número 13 do qual era supersticioso.

O amor entre Virgília e Brás se materializaria numa relação adúltera intensa.

Para facilitar os encontros, Brás aluga uma casinha na Gamboa, de bom padrão e lá o romance floresce.

Esse romance, então, se dá entre duas pessoas da sociedade, embora Brás fosse um bon vivant, desocupado.

Depois de algum tempo, o romance adúltero começa a ser percebido ou desconfiado. Só o marido, Lobo Neves nada desconfia (!).

Brás, começa a ouvir indiretas. Houve uma carta anônima remetida a Lobo Neves que Borba e Virgília desmentem vigorosamente.

[Esses rumores me lembram um pouco o que ocorre no romance de 1857 “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Madame Bovary frequentava seus amantes às claras; a comunidade sabia de seu adultério menos o marido médico Carlos Bovary que ela desprezava.] (***)

Outra noiva lhe é apresentada, D. Eulália mas ela falece prematuramente aos 19 anos de idade.

Mais tarde já nas páginas finais, a obra apresenta Brás Cubas como deputado, sem explicar como guindara ao posto.

E insere um novo personagem Quincas Borba, que pregava uma nova filosofia, o humanitarismo.

Borba quase um indigente, ao se encontrar com Brás, furta seu relógio. Mais tarde, após receber uma herança devolve outro relógio, não o mesmo que subtraíra de Brás, porém.

O humanitarismo exposto é constituído de frases interessantes e um tanto mundano:

- Imagina, por exemplo, que eu não tinha nascido, continuou o Quincas Borba; é positivo que não teria agora o prazer de conversar contigo, comer esta batata, ir ao teatro, e para tudo dizer numa só palavra: viver.

Quincas Borba passa a exercer forte influência sobre Brás.

Depois de viajar para Minas, quando volta revela distúrbios mentais e tempos depois morre semidemente na casa de Brás Cubas.

Brás Cubas, por sua vez, morre externando amarguras por não ter concretizado o sonho do emplastro que levaria o seu nome, o “divino emplastro” que lhe daria o “primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza porque era a genuína e direta inspiração do céu.”

Pelo que, “o acaso determinou o contrário e aí vos ficais eternamente hipocondríacos”.

E também, nas últimas linhas do livro, ao chegar a “este lado do mistério” (porque falecido) achou-se com um “pequeno saldo” no derradeiro capítulo de negativas:

- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.



Machado de Assis pelo seu personagem dândy pouco fala da escravidão, apenas uns comentários esparsos - nos tempos de criança fora maldoso com eles - e se apresenta um tanto preconceituoso com uma moça bonita, que lhe chamara a atenção e até se beijam, mas por ser coxa ele se afasta. Brás insiste em ressaltar essa deficiência.
Livro "realista" e fantástico? Nem pensar!


(*) A edição do livro foi promovida por um cursinho (“Objetivo”) no qual em notas de rodapé foram inseridos sinônimos de palavras sem ou de pouco uso e também sobre autores da literatura “universal” que Machado de Assis, mencionou à exaustão. Na introdução assinada por Francisco Achcar ele afirma que Machado de Assis é o maior escritor do Brasil na opinião de estudiosos da literatura brasileira… não sei!

(**) Resenhas da "Divina Comédia" de Dante Alghieri:
n° 36 - Inferno
n° 41 - Purgatório
n° 46 - Paraíso 

(***) Resenha de "Madame Bovary" - n° 3


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

URUPÊS de Monteiro Lobato

LIVRO 53

A primeira edição do livro Urupês de Monteiro Lobato é de 1918. Então, há um século, era a obra publicada com diversas particularidades.

Então, mato minha curiosidade sobre o livro.

Ele é, digamos, "datado". 

Vou começar pelo fim falando do Jeca Tatu;





















O livro teve origem com uma carta mordaz do autor, remetida ao jornal “O Estado de São Paulo”, na qual fazia duras críticas ao CABOCLO, incendiário que degradava de modo devastador as matas da Serra da Mantiqueira.

Lobato desmonta os romances sertanejos e indianistas, referindo-se de modo pouco lisonjeiro à descrição de personagens bem constituídas mas que estariam muito distante da realidade

Em vez da beleza natural de Peri, personagem do romance “O Guarani” de José de Alencar explana Lobato:

Contrapôs-lhe a cruel etiologia dos sertanistas modernos um selvagem real, feio e brutesco, anguloso e desinteressante tão incapaz, muscularmente de arrancar uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci.” (*)

Toda essa adjetivação depreciativa tinha como origem a preguiça do sertanejo que nada produzia, sempre acocorado, sentado sobre os calcanhares, bebedor de cachaça, de pito na boca e afeito a produzir grandes incêndios, 

Com os incêndios que provocava abria “clareiras”, não atinando para a beleza das árvores que eram ceifadas.

Enquanto a mata arde, o caboclo regala-se.

- Êta fogo bonito!

(...)

"Entrando setembro, começo das "águas", o caboclo planta na terra em cinzas
um bocado de milho, feijão e arroz; mas o valor de sua produção é nenhum 
diante dos males que para preparar uma quarta de chão ele semeou."




O inconformismo de Lobato com essa prática danosa tem um pouco a ver com incêndios florestais também devastadores praticados por sertanistas e exploradores relatados por Euclides da Cunha em “Os Sertões” (“os fazedores de desertos”).

Já ouviram falar de Jeca Tatu?

Pois foi conhecendo esses tipos, que Lobato “idealizou” o personagem no livro Urupês.

Jeca Tatu” pode até ser humanizado, afinal, mas ele foi inspirado nesses caboclos “ cheios de preguiça:

Esse funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive a beira dela na penumbra das zonas fronteiriças”.

Pois bem, com todas essas contrariedades, a carta referida remetida ao jornal foi publicada, teve repercussão e, como decorrência, Monteiro Lobato tornou-se o que ele chamou de “homem de letras”.

Hoje com tantas opções de comunicação não parece existam caboclos assim broncos, mas a queima florestal ainda é uma prática predadora.

Talvez, nos rincões escondidos do país, sobrevivam jecas tatus políticos.


Há outra particularidade no livro. Na edição em meu poder, talvez a 4ª, é registrado o desagrado de Lobato com os acentos ("acentismos") que complicariam a língua.

É questionado:

- Mas a acentuação já está imposta por lei.

- Não há lei humana que dirija uma língua é um fenômeno natural, como a
oferta e a procura, como o crescimento das crianças, como a senilidade, etc.

Então, concluiu a editora:

"Diante disso resolvemos respeitar nesta edição a ortografia de Monteiro
Lobato, realmente mais simples e comoda do que a aconselhada por nossa
academia."

Como se vê, a palavra "cômoda" não veio acentuada. O 'a' com crase na 
edição é grafado com acento agudo (á) e não grave (`). 

Raros circunflexos mas ocasionalmente a ortografia oficial aparece.  

Urupês que seria aquela espécie de cogumelo que pode ser encontrado em camadas, geralmente da cor vermelha que floresce em madeira em decomposição.
Urupês é também o nome de uma cidade do Estado de São Paulo a 54 quilômetros de São José do Rio Preto.

(*) Ceci (Cecilia) personagem de “O Guarani” romance de José de Alencar.

A "essência" do livro é essa acima, mas é ele completado por 12 contos alguns dos quais não posso elogiar.

CONTOS QUE FIZERAM O LIVRO

Esses contos explanam sobre tragédias, situações cotidianas e sobrenaturais. Como brinde o resumo do resumo desses contos situados naqueles recantos interioranas, caipiras:

OS FAROLEIROS

Num farol perdido, deu-se um crime passional.

Gerebita se casou com Maria Rita, "uma morena de truz ("distinta") perigosa como o demo". 

Maria Rita traia Gerebita com Gavriel.

Gavriel também foi abandonado por Maria Rita.

O mundo girou e os dois foram se encontrar no mesmo farol, "um modo de morrer p'r'o mundo."

Gerebita odiava Gavriel, causa de sua infelicidade e da infidelidade da esposa.

Gerebita assassina Gavriel e atira o corpo no mar. Dali o corpo nunca chegaria à praia. 

Lobato se refere a espécie de duelo havido com o pugilato até a morte de Gavriel e faz analogia com a ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni cujo significado é "cavalheirismo rústico".

"Reclama" Lobato que "cavalleria" fora traduzido como "cavalaria" razão pela qual alterou o nome do conto de "Cavalleria Rusticana" para "Os faroleiros".

O ENGRAÇADO ARREPENDIDO


Francisco Teixeira de Souza Pontes era um sujeito "engraçado".

Quando mencionado seu nome, desde logo provocava risos.

Já passando dos 30 anos resolveu cuidar seriamente da vida.

Mas, não conseguia. Tantas fora suas piadas e sua graça que não era levado a sério.

E, por isso, até chorava.

Um dia surgiu a possibilidade de trabalhar na coletoria ocupando o lugar do major Bentes, já velho e doente.

De todos os meios que dispunha, Pontes de aproximou do velho, pensando em substitui-lo quando morresse. Contava com a ajuda de um parente do Rio para que fosse nomeado.

Mas, Bentes se mantinha firme.

Pontes, então, depois de estudar as preferências anedóticas de Bentes, um dia lhe conta uma refinada anedota que surte efeitos: o velho explode numa sonora gargalhada dando-se o "estouro de uma artéria".

O velho Bentes morre.

Pontes assustado com a tragédia provocada pela piada esconde-se por um tempo, não avisando seu parente no Rio a tempo, perdendo a vaga.

O tom de tragicomédia se deu pelo suicídio de Pontes.

Ele se enforcou tendo como "instrumento" uma ceroula.

A COLCHA DE RETALHOS


A velhinha com seus 70 anos cozia uma colcha de retalhos e explicou:

- Esta colcha é o meu presente de noivado. O último retalho há de ser do vestido de casamento, não é Pingo? (A neta era assim chamada: "Pingo d'Água").

Mas, a neta um dia fugiu para não mais voltar. A colcha não foi concluída e a peça seria sua mortalha como pedira a velhinha.

Logo depois ela morreu, mas a sua última vontade não foi cumprida porque a mortalha não cobriu seu corpo.

"Que importa ao mundo a vontade última de uma pobre velhinha da roça?"

A VINGANÇA DA PEROBA


Nunes era um caipira afeito à cachaça. Meio que um"jeca tatu".

Sua propriedade fazia divisa com o sensato Pedro Porunga, de família numerosa.

Um dia Nunes se sente desafiado a um comentário que soubera, de Pedro Porunga.

E resolve construir um monjolo, aquele equipamento rústico triturador de grãos, movido pela queda de água corrente.

Para isso derruba uma perobeira que exatamente fazia divisa entre a sua e a propriedade de Porunga.

Houve estranheza deste, porque a peroba era o marco divisório.

Monjolo construído, um dia em meio à cachaça, convida seu filho pequeno a também beber. O menino fica tonto e vacilante desaparece dali.

É encontrado com a cabeça dilacerada no pilão pelo sobe e desce do monjolo, para horror da mãe e irmãs.

E o "cachaceiro do inferno" desmontando a pancadas o monjolo, ainda apalpava o fundo do pilão, "em procura da cabecinha que falava".

A tragédia poderia ser a vingança da peroba, sua praga.

MEU CONTO DE MAUPASSANT

Diálogo no trem entre dois "sujeitos". Um deles enaltece Guy de Maupassant se referindo ao seu pensamento sobre o amor e a morte.

Então, na visão de uma velha árvore saguaragi disse um dos interlocutores que fora ela "comparsa no meu conto de Maupassant".

Dissera que conhecera um italiano, mau encarado e beberrão que poderia ter assassinado uma velhinha com uma foice.

Mas, nada foi apurado. Tempos depois o italiano foi localizado em mau estado físico e moral, frequentador do xadrez até que no trem, ao passar por aquela árvores, atirou-se da janela para a morte.

Quem matou a velhinha a peso de foice fora o próprio filho (!)

"POLLICE VERSO"

(Tradução: "Polegar voltado para baixo")

Nico (Inacinho) 
era um caçula de dezesseis filhos do coronel Inácio da Gama. 

O pai descobrira a vocação do caçula ao vê-lo dissecando um sanhaço vivo: "médico".

Ele era cruel com os animais.

Durante o curso de medicina tinha lá sua turma e era apaixonado por Yvonne.

Mesmo médico de má fama, foi chamado para tratar o major Mendanha, capitalista aposentado.

Fez lá um diagnóstico "genérico" embora ninguém soubesse ao certo qual era a doença do major milionário de Itaoca.

Prolongando o tratamento poderia obter uma boa soma e ir para Paris para estar com Yvonne.

Mas, a despeito do "tratamento" Mendanha faleceu. O médico fez os cálculos das visitas e das injeções, apresentando aos herdeiros a soma vultosa de 35 contos de réis.

Ganhou na Justiça o valor que cobrara do inventário.

Embolsou a dinheirama e viajou para Paris falando que tinha lições na Sorbonne, mas passou a viver com Yvonne num apartamento em Montmartre e frequentadores de cabarés.

Quem sabe quando acabasse o dinheiro, o pai pudesse ajudá-lo a manter o "aperfeiçoamento de estudos".

O pai, já viúvo, que se orgulhava do filho médico, de sua presença na Sorbonne, relacionado a celebridades médicas daquela universidade.

BUCÓLICA

É a historia da menina "entrevada" e a mãe, "má como a irara": "Pestinha, porque não morre?"

Um dia a Inácia a negra que cuidava dela esteve fora e não pode voltar a tempo por causa de uma chuvarada.

A menina morreu de sede após se arrastar até perto do pote mas não o alcançando.

"Morreu de sede, o anjo!"

Enxugando as lágrimas na manga e indo embora e se o Libório não a quiser "sou bem capaz de me pinchar nesse rio. Este mundo, não paga a pena",

"Sol a pino. Desânimo, lassidão infinita..."


O MATA-PAU

Mata-pau é uma árvore parasita que com o tempo consome a árvore à qual se "uniu, isto é, mata a mãe que sem perceber ia sendo consumida.

Elesbão se casa com Rosinha.

Não tinham filhos, o que os tornava tristes.

Um dia no seu sítio, ouvem o choro de uma criança e acabam a adotando como filho.  

À medida que ia crescendo revelava suas perversidades: "É ruim inteirado". Era alcunhado de Ruço.

Rosa ia se desenvolvendo, ficando bonita, atraente. A relação mãe-filho degenerou para amantes.

Elesbão de nada desconfiava, até ser alertado pelo pai moribundo.

Um tempo e Elesbão foi assassinado a golpes de foice. Desconfiaram de Ruço, mas não havia provas para incriminá-lo.

Viúva Rosinha, Ruço a chantageou a vender tudo e se assim não agisse, ele a abandonaria.

O golpe final de Ruço contra sua "mãe-amante" foi incendiar a casa para se livrar da mulher e ficar com tudo o que amealhado na venda dos equipamentos do sítio.

Rosa se salvou das queimaduras, mas nunca mais do juízo

E, então,se disse filosoficamente que 

- Não é só no mato que há mata-paus !...

BOCATORTA

Bocatorta era um negro disforme que habitava  um casebre na fazenda, meio escondido.

Seria feio como Quasímodo? (*)

A ele se atribuíam sumiços de animais e malefícios.

Eduardo, noivo de Cristina quis conhecê-lo e um dia saíram a passeio, Don'Ana, o major - pai da moça - e mais Eduardo.

Cristina temia muito encontrar Bocatorta pelo que dele se contava, até mesmo  a violação de uma sepultura de uma jovem.

Foram até onde vivia Bocatorta mas Cristina se escondeu o rosto nos ombros da mãe.

Era a "hediondez personificada" com seu cachorro "atôa, todo ossos, peloe e bernes, rosnava contra os importunos."

Cristina amanheceu febril e faleceu depois de oito dias.

À noite Bocatorta desenterrara o corpo da jovem e fora visto pelo pai e o feitor a abraçando.

Uma cena de horror. Bocatorta foi contido e arrastado para um pântano cuja profundidade era desconhecida.

Houve o esquecimento da tragédia noturna, Bocatorta desaparecido no logo e Cristina em seu túmulo não sem antes o único beijo que recebera em sua vida.  

Que se dera com a violação de sua sepultura.

(*) Quasímodo, personagem do romance "O corcunda de Notre Dame" de Victor Hugo.

O COMPRADOR DE FAZENDAS 


Não havia pior fazenda que a do Espigão, arrematada por um Davi Moreira de Souza que esperara fosse um bom negócio.

Resolveu vendê-la e recebera carta de seu agente de negócios que informara haver um pretendente à compra.

Antes da chegada do comprador, toda a fazenda fora "maquiada" de tal modo que bem impressionasse o comprador a caminho.

Era o Pedro Troncoso, um jovem bem apessoado que contou grandes vantagens.

E ali foi ficando, aproveitando-se da hospitalidade ao exagero do vendedores.

Troncoso flerta com Zilda, a filha solteira de Moreira.

E à medida que o comprador elogiava o estado da fazenda, Moreira aumentava o preço.

Troncoso parte fazendo promessas vagas da compra e nada de fechar o negócio.

O tempo passa.

Quando volta com a decisão de finalmente comprar a fazenda foi recebido a chicotes pelos Moreiras e ouvindo desaforos:

- Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra  não hás de cair, ladrão de ovos e cará!...

Zilda assistia a tudo aquilo com os "olhos pisados do muito chorar".

E Moreira perdeu o grande negócio de sua vida: o duplo descarte - da filha e da Espiga...

O ESTIGMA

Fausto casara "rico". Sua fazenda viera de seu casamento. Sua esposa de feições duras, positivamente feia e "provavelmente má".

Via na fazenda a jovem e linda Laura, órfã de pai e mãe, prima de Fausto que na verdade fazia os trabalhos domésticos. Dele, ela era "um raio de sol matutino que folga e ri na face noruega da minha vida..."

Com o tempo, a beleza de Laura provoca ciúmes na esposa de Fausto que exige seja ela expulsa da casa.

Um dia Laura aparece mora, com um tiro no peito segurando o revolver da própria casa como se fora um suicídio. Como poderia ela ter acesso à arma?

Mistério.

O tempo passa e a esposa de Fausto dá a luz a um menino.

O menino nascera com uma estranha marca no peito, "uma cobrinha coral de cabeça preta".

"Denunciada" pela estranha marca, a esposa morre logo depois do parto por causa de suposta "febre puerperal".

O agora moço com sua marca no peito "ignorava o crime de que fora ele próprio o eloquente delator." 

















quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

OS TEMPLÁRIOS de Piers Paul Read

LIVRO 52


Querem se debruçar sobre um livro “cabeça”?

Pois então experimentem ler “Os Templários”.

Trata-se de obra densa demais que exigirá do estudioso da história dos templários mais do que uma única leitura do livro, porque muitos dos personagens do primeiro milênio e dos primeiros séculos do segundo milênio foram tratados na intimidade.

Nas 342 páginas do livro em letras miúdas se saberá quantas vidas foram perdidas em guerras sangrentas de conquistas entre monarcas que cobiçavam cidades e regiões pertencentes aos adversários. Essas distâncias imensas eram vencidas a cavalo e as batalhas a poder de flechas e espadas.

Então, para que seja absorvido parte ou o essencial de seu conteúdo, é necessária mais de uma leitura do livro.

Esta é uma mui limitada resenha





















É nesse período que surgiram as cruzadas e depois os templários.
Outra Ordem bastante destacado pelo Autor, foram os hospitaleiros, da comunidade “Hospital”.

O livro recua aos episódios em torno do nascimento do cristianismo estudo que não desmente como por vezes se dá nalguns meios de que Jesus Cristo seria nada mais que uma lenda.

Na sua origem os cristãos eram por demais massacrados pelos romanos até que houve aquela visão do imperador Constantino para que pintasse símbolo do cristianismo nos escudos para vencer uma batalha importante.

Assim se deu.

Vencedor, então Constantino passou a acreditar que chegara ao poder por obra do Deus dos cristãos, até que lá pelos anos de 333 ele praticamente abraçou a religião cristã.

Sua mãe, Helena, convertida ao cristianismo, viajou para a Palestina. Nas escavações para construção de igrejas em locais marcantes da vida de Jesus foi desenterrada uma peça de madeira, que seria parte da cruz considerada autêntica porque continha a inscrição “Jesus de Nazareno, Rei dos Judeus”.

Em 620 Maomé tivera uma visão pela qual cavalgava com o anjo Gabriel, “até o monte de Templo, em Jerusalém, para encontrar com Abrão.”

E Maomé rejeitava a crença de que Jesus fosse filho de Deus mas o considerava apenas um profeta.

E com Maomé profeta surgiu o islamismo que dominou Jerusalém.

Esses religiosos maometanos e outros grupos eram um entrave para a peregrinação cristã na Terra Santa, considerado como “o clímax espiritual de um homem”, visitando aqueles locais onde vivera, fizera milagres e fora crucificado Jesus. 

O Autor registra personagens histórias diferenciadas entre os muçulmanos e cristãos: entre os muçulmanos, Saladino que dominou o Egito lá pelos anos 1150.

Considerado benevolente, moderado, generoso, um comandante competente.

Seria sua generosidade uma forma de prudência? Sim, porque "quando parecia oportuno ser cruel, era cruel: ordenou a crucificação de oponente no Cairo, e de vez em quando mandava mutilar ou executar seus prisioneiros."

Mas, em todo o trajeto de sua influência, demonstrara urbanidade  para com os príncipes e reis cristãos.

Num tratado militar escrito por seu filho, ou por ele próprio diria que " a afabilidade para com os não-combatentes pode ser usada como uma demonstração de força, o que pode ajudar a intimidar o inimigo."

Para proteger os cristãos, foram organizadas a partir de 1095 as cruzadas por proposta do papa Urbano II composta por homens arregimentados em diversas regiões que ao aderirem teriam “recompensa espiritual”.

O papa Inocêncio III, entusiasta das cruzadas, para organizar a de 1199, concedeu indulgência total, o perdão a todos os pecados confessados para aqueles que aderissem...

A primeira cruzada, vencedora, se excedera massacrando judeus, mulheres e crianças praticando atrocidades.

As demais se revelaram ou num fracasso humilhante ou não atingiram os objetivos que eram reconquistar a Terra Santa dominada pelos muçulmanos.

Em 1189 assumiu o trono inglês Ricardo, chamado "coração de leão" pelo seu destemor em relação às batalhas que participou "pessoalmente" arriscando sua vida tanto que numa contra um de seus vassalos, foi atingido por uma flecha mortal. Veio a falecer em 1199 com 42 anos de idade.

Num dos confrontos com Saladino em 1191, aquele fora derrotado e para libertar os habitantes muçulmanos de Acre - a 162 quilômetros de Jerusalém - Ricardo Coração de Leão exigira elevado preço.

Saladino pedira ajuda dos templários para garantia de um acordo provisório. Mas, os templários não confiavam tanto em Ricardo.

Diante da "procrastinação" de Saladino, Ricardo "supervisionou pessoalmente a execução dos prisioneiros muçulmanos: 2.700, entre eles mulheres e crianças, foram chacinados por seus soldados ingleses."

Como se constata, em nome do Jesus Cristo, que pregava o amor, a paz e a benevolência, a violência e as mortes de inocentes sempre ocorriam de lado a lado.

São Francisco esteve em visita aos cruzados sendo autorizado pelo sultão al-Kamil a se aproximar de suas linhas e pregar sua fé como forma de reconciliação. Embora houvesse gentilezas mútuas, cada grupo permaneceu com sua fé e, por ela, muitas batalhas e, como visto, muitas mortes.

Já anos antes desses tempos, desde 1119, para proteger os peregrinos foi instituída a Ordem dos Pobres Soldados de Jesus Cristo, depois denominada, os Templários e o Templo.

Tinha o Templo o sentido de uma ordem religiosa na qual seus membros praticariam a pobreza, a castidade e a obediência.

Mas, eram combatentes. Muitos templários morreram em combate nas batalhas das cruzadas para recuperar Jerusalém aos muçulmanos.

No tocante à castidade uma virtude compatível com os ensinamentos de Cristo – que não negara o casamento, mas observara que “outros se fizeram eunucos por causa do reino dos céus”.

Então nessa decisão da garantia da castidade, a presença só ou a companhia de mulheres – seja viúva, moça, mãe, tia e outra qualquer -, “é muito perigosa, pois por causa dela o velho diabo tem desviado (os homens) do reto caminho do Paraíso”.

Pode estar aí a crença na Virgem Maria que trouxera ao mundo Jesus, sem que tenha havido o encontro e as tentações do sexo na sua concepção.

Pior é que, para evitar tentações de outras formas de pecado sexual (!), os templários tinham que dormir “vestidos com camisa e calções e sapatos e cintos”, num ambiente iluminado até de manhã.

Embora devotados à pobreza, o Templo (templários) recebeu valores e doações que o fez enriquecer começando aí indagações ou críticas ao seu poderio econômico.

Uma causa da inveja. O templários emprestavam dinheiro e valores a 10% de juros tornando-se "banqueiros da cristandade". 

Antes, lá pelos idos do ano de 1113, foi fundada a Ordem dos Cavaleiros do Hospital, devotada aos cuidados aos peregrinos pobres e doentes.

O rei Felipe IV ascendera ao trono francês em 1285 sendo qualificado como piedoso, praticante de penitências descrito como um homem muito bonito, daí o título de Felipe, o Belo.

Em 1305, foi aclamado papa, aquele que se designaria como Clemente V, que se revelara submisso a Felipe IV.

Com Felipe IV e o papa Clemente V houve de ambos a defesa de unificação das duas Ordens, pela semelhança de atuação entre Templários e Hospital proposta rejeitada por Jacques de Molay o Grão-Mestre dos Templários porque sobretudo acabaria a "concorrência" entre ambas.

Então, a cobiça à riqueza dos templários e inconformismos ao seu poderia, pelo modo como administravam os valores, cobrando juros aos empréstimos resultou na sua queda violenta.

Jacques de Molay confiando que seus argumentos pela não unificação das duas Ordens foram aceitos pela papa continuou suas gestões.

Mas seria traído.

Secretamente, Felipe IV determinara a detenção de todos os membros templários por crimes “horríveis de contemplar”, especialmente a prática da sodomia. E também a rejeição de Jesus Cristo, por adoração do diabo na figura de Baphomet,

E esses crimes foram confessados pelos templários submetidos a torturas “excruciantes”.

Quando se retratavam da "confissão" demonstrando as marcas físicas das torturas por que passaram eram condenados.

Jacques de Molay e Geoffroy de Charney foram condenados à fogueira.


Houve templários que escaparam do martírio.

Muitos se refugiaram em Portugal de Dom Dinis - rei avançado no seu tempo - que instituiu a Ordem de Cristo.

Historiadores concluíram que os templários eram inocentes, foram traídos pelo papa Clemente V, perseguidos implacavelmente pelo rei Felipe IV com falsidades para obter o que pudessem do patrimônio da Ordem.

O Hospital recebeu parte dos recursos expropriados dos Templários acentuando o Autor que os hospitaleiros, se mantiveram até hoje.

E quem sucedeu aos templários? Seriam os maçons com suas solenidades, seus ritos e suas tradições?