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sábado, 11 de novembro de 2017

OS EXILADOS DA CAPELA de Edgard Armond

Livro 29

Relendo esse pequeno livro me dei conta de que suas páginas podem não ser muito organizadas do ponto de vista dos relatos. Sendo edição não esmerada talvez resida aí essa constatação.
As proposições que o autor explana no livro, diz ele, seriam intuições não necessariamente prestigiadas por círculos religiosos e espíritas.













Começa o autor descrevendo onde se situa a estrela Capela, na Constelação do Cocheiro. Capela é uma estrela “inúmeras vezes maior que o Sol” distando da Terra cerca de 45 anos-luz ou seja, 45 seguido de 12 zeros.

Nessa estrela vivem seres, almas em alto grau de evolução mas que contava com espíritos que não se coadunavam com o nível espiritual alcançado.

E esses seres inadaptados àqueles sentidos superiores da Capela, foram exilados naqueles períodos remotos que se perdem na escuridão do tempo. Foram designados a encarnar na Terra com a missão de auxiliar os nativos em sua evolução material e espiritual.

Para aqueles indivíduos primitivos, selvagens, que aqui viviam, esses exilados que foram nascendo na Terra passaram a ser vistos como deuses.

Mas, a vida na Terra: “E quando os anjos – Os Filhos do Céu – as viram (‘as Filhas da Terra’), por elas se apaixonaram e disseram entre si; vamos escolher esposas da raça dos homens e procriemos filhos”.

“Compreendemos afinal que Adão e Eva constituem uma lembrança dos espíritos degredados na paisagem escura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das criaturas”.      

Caim e Abel seriam “símbolos das tendências do caráter dessas legiões de emigrados, formados em parte, por espíritos rebeldes, violentos e orgulhosos...”

E, ademais:

Caim e Abel não poderiam ter sido os primeiros filhos de Adão e Eva (o "primeiro casal") porque Caim se casou com mulher da Terra:

“É, pois, evidente que os capelinos, ao chegar, já encontraram o mundo habitado por outros homens.”

Mas, a degeneração que se verificara, mesmo com os exilados, medidas reparadoras foram impostas pelas divindades crísticas para que a Terra fosse purificada - como se deu com o dilúvio.

O livro prossegue fazendo proposições sobre o submersão da Atlântida – que deu o nome ao Oceano Atlântico – e a Lemúria nesses ciclos evolutivos em períodos milenares. Esses fenômenos resultaram em novos continentes no planeta.

Diz o autor que os atlantes tinham profundo conhecimento das leis da Natureza, terra, água e ar. Conheciam a metalurgia e no que concerne ao ouro, era abundante. “Cultivavam a magia negra e utilizavam-se grandemente dos elementais e de outros seres do submundo”.

Nas partes finais do livro, o autor enaltece a presença de Jesus Cristo na Terra, seus evangelhos e seu sacrifício de salvar a humanidade, porque o “pecado original não podia ser apagado senão com sangue”.

E foi no Calvário que os pecados foram resgatados por Jesus, “pelo preço do seu sangue, afastando dos homens, a responsabilidade do “esforço próprio para a redenção espiritual”.

[Há que reconhecer que a história de Jesus representa realmente um antes e um depois. Fico a imaginar como estaria a humanidade se parte dela não tivesse a oportunidade de se valer dos Evangelhos e à sua própria passagem pela Terra].

Na última parte da obra há previsões apocalípticas provindas de várias fontes que se referiam a grandes catástrofes iminentes no fim do século passado e início deste por suposta aproximação de astro celeste cujos efeitos seriam “tenebrosos” para a humanidade, mas que novamente depuraria a Terra exilando os pecadores incorrigíveis, como se dera na depuração da Capela.

Nada ocorreu até agora embora a Terra, no geral, venha enfrentando tempos difíceis, de violência crescente, de egoísmos exacerbados, de desprezo ao que mais necessitam, imoralidade e, sobretudo, com a devastação ambiental que afeta de modo irreversível o clima do planeta.
Nota-se até com facilidade que nosso planeta é composto de almas que se situam em estágios evolutivos diferentes: ao lado de um sábio pode estar um assassino degenerado respirando o mesmo ambiente.

Lê-se o livro de Edgard Armond com facilidade. A leitura é leve e há muito mais a refletir.




domingo, 5 de novembro de 2017

O REI DE FERRO de Maurice Druon

Livro 28

Do Autor para mim não é desconhecido. Lera há muito uma obra dita infantil, “O menino do dedo verde”, a história de Tistu que com o toque de seu polegar convertia tudo em plantas e flores, sempre numa mensagem de paz, antiguerra. 

Druon foi Ministro da Cultura francês no governo Pompidou,

O “Rei de ferro” é um romance histórico que tem como enredo central o reinado do rei Felipe, o Belo no extermínio da Ordem dos Templários.
















Para explicar o que fora a Ordem dos Templários, um apêndice do próprio livro começa assim:

A soberana ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém foi fundada em 1128 para garantir a guarda dos Lugares Santos da Palestina e proteger as peregrinações.

Suas regras recebidas de São Bernardo eram severas. Impunham aos cavaleiros castidade, pobreza, obediência. Não deviam “olhar demais para o rosto das mulheres”, nem “beijar fêmea, nem viúva, nem donzela, nem mãe, nem irmã, nem tia, nem qualquer outra mulher”. Devia na guerra, aceitar o combate de um contra três, e não podiam se resgatar mediante pagamento. Não lhes era permitido caçar a não ser o leão”.

A Ordem, porém, com o passar dos séculos, tornou-se poderosa, rica, fazia empréstimos e passara a gozar, por essas novas atribuições de forte influência política.

Lá pelo ano de 1314, o rei da França, “Felipe, o Belo” – diziam dotado de beleza incomum – pretendera ingressar na Ordem Templária e se tornar o grão-mestre.

A recusa fora inevitável e sem apelação porque havia princípios próprios a serem observados: “Eu não podia agir de outra forma”, refletira de Molay se questionando se não fora ciumento demais em relação sua autoridade se o rei Felipe ingressasse na Ordem, “nossa regra era formal: não podíamos ter príncipes soberanos em nossa comendadoria”.

Para o rei aquela recusa fora um insulto.

Começara ali a destruição dos Templários.
Tiago (Jacques) de Molay, o grão-mestre a Ordem fora preso e torturado de modo implacável num processo que durou sete anos. As torturas foram tantas, impondo sofrimento sobre-humano que confessara tudo de que fora acusado:

“Sim, os templários davam-se à sodomia, entre eles; sim, adoravam ídolos um ídolo com cabeça de gato; sim, entregavam-se à magia, à feitiçaria, ao culto do Diabo; sim, desviavam os fundos que lhes eram confiados; sim, tinham fomentado uma conspiração contra o papa e o rei...”

E o que mais tivesse.

Tiago de Molay e outros templários foram condenados à fogueira por Felipe, o Belo. E o papa Clemente V fora instado a concordar com a pena.

O grito profético de Tiago de Molay, antes que o fogo o consumisse gritou:

“- Papa Clemente... Cavaleiro Guilherme de Nogaret... Rei Felipe: antes de um ano eu vos intimo a comparecer diante do tribunal de Deus, para ali receberdes o justo castigo. Malditos! Malditos! Todos malditos, até a décima terceira geração de vossas raças!”

Essa profecia se realizou em menos de um ano: em abril de 1314 faleceu o papa Clemente V, seguiu-se a morte por envenenamento de Guilherme de Nogaret, secretário geral do reino – relatado com detalhes no livro de Druon - e em novembro daquele ano o rei Felipe, o Belo, ele de possível apoplexia cerebral (hoje mais conhecida por AVC).

O livro tem episódios de corrupção, romance, adultério das noras de Felipe, o Belo, duramente castigadas e os amantes mortos após torturas cruéis.

É um livro a ser descoberto ou redescoberto.


terça-feira, 24 de outubro de 2017

RAÍZES DO BRASIL de Sérgio Buarque de Holanda



Livro 27

Trata-se de uma obra que exige concentração mais apurada na leitura de tal modo que se obtenha o preciso sentido dos conceitos emitidos pelo autor. 




A 1ª edição de Raízes é de 1936

A referência às 'raízes do Brasil', significa que o autor voltou aos tempos da colonização portuguesa e bom que se diga que não é ele crítico na medida em que afirma que não é (sempre) possível subestimar a “grandeza dos esforços” de Portugal na exploração das novas terras, embora não nega que tudo se fez “com desleixo e certo abandono”.

Mais a frente, ao tratar da “persistência da lavoura de tipo predatório”, a exemplo do que denunciara Euclides em “Os Sertões”, destaca o autor o uso do fogo para o desmatamento:

“Mostra-se nesse trabalho como o recurso às queimadas deve parecer aos colonos estabelecidos em mata virgem de uma patente necessidade que não lhes ocorre, sequer, a lembrança de outros métodos de desbravamento”.

E as consequências:

"Além de prejudicar a fertilidade do solo, as queimadas, destruindo facilmente grandes áreas de vegetação natural, trariam outras desvantagens, como a de retirar aos pássaros de construírem seus ninhos". E sem os pássaros, não há predador contra toda espécie de insetos e, como decorrência, o prejuízo à lavoura que fica exposta a essas pragas. 


E nessa linha, "a colheita do milho plantado em terra onde não houve queimada e duas vezes maior do que em roçados feitos com o auxílio do fogo."

No livro ainda se descobre que em terras paulistas a língua falada era, predominantemente, a indígena segundo, entre outras fontes citadas pelo autor, as observações do padre Antônio Vieira: “É certo que as famílias dos portugueses e índios de São Paulo, estão tão ligadas hoje umas às outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que as ditas famílias se fala é a dos índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.”

Aponta no meio do capítulo “novos tempos”, que autores românticos tornaram “possível a criação de um mundo fora do mundo, o amor às letras não tardou em instituir um derivativo cômodo para o horror à nossa realidade cotidiana. Não reagiu contra ela, de uma reação sã e fecunda, não tratou de corrigi-la ou dominá-la; esqueceu-a, simplesmente, ou detestou-a, provocando desencantos precoces e ilusões de maturidade. Machado de Assis foi a flor dessa planta de estufa.”

[Mas, como negar a inspiração que resultou num um livro escrito, da poesia, saindo o poeta da realidade dura e buscando um mundo individual, superior, ideal que ele cultiva e expressa?]

Sobre o Segundo Reinado e a Primeira República, “as constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e de oligarquias, são fenômeno corrente em toda a história da América do Sul” – o significado de tal afirmação no fundo se refere “às primazias das conveniências particulares sobre os interesses de ordem coletiva...”   

Há um sentido crítico à “cordialidade” brasileira que sempre prevaleceu por aqui e até hoje visitantes de outros países ressaltam essa característica que nem sempre seria saudável quando se trata de relações impessoais, do Estado impessoal – separação do público e do privado. 

[Talvez houvesse algo com o "estágio alegre" do jeitinho brasileiro em tudo, verdadeira "prática cultural" que se contrapõe às relações impessoais saudáveis.]

Mas, ressalte-se que esse conceito, no livro, não é muito claro e pode ser exagerado. O brasileiro não parece ser tão cordial assim.

Bem, paro por aqui, reafirmando a dificuldade do texto do autor Sergio Buarque de Holanda em sua obra “Raízes do Brasil”, um clássico muito citado mas tenho dúvidas se lido na mesma proporção.

Mas, há muito que conhecer, muito que aprender na obra que deve ser lida com reflexão. O livro como se tentou trazer uma amostra nestas linhas, é um tratado sociológico e histórico da evolução brasileira em campos diversos, como o rural, urbano e político.





segunda-feira, 23 de outubro de 2017

MINHA FORMAÇÃO de Joaquim Nabuco

Livro 26


Há alguns anos, uma edição de bolso, a obra “Minha Formação” de Joaquim Nabuco veio às minhas mãos duma dessas gôndolas giratórias de livraria.

Livro com texto rebuscado, porque Nabuco fora, sobretudo, um intelectual, ao chegar à última página lamentei, sabendo que um dia desses teria que reler a obra. E reli.

Pouco sabia de Joaquim Nabuco que nascera no Recife em 1849, era rico, monarquista e abolicionista ferrenho. Faleceu em 1910 em Washington, como embaixador do Brasil. Viveu 61 anos.















Trata-se de uma obra valiosa porque abrange as últimas três décadas do século XIX, período em que se desenvolveu a campanha abolicionista e de certo modo, o início de uma perspectiva republicana, alternativa para a monarquia.
Nabuco era monarquista e tinha como modelo a monarquia inglesa. Era admirador do estilo inglês, da civilização e da cultura inglesa e houve momento em que vacilava entre Londres e Paris, que continha mais obras de arte visível, disponível por suas avenidas.
Esse encanto francês seria lembrado por Ernest Hemingway, “Paris é uma festa”, nos primeiros anos da década de 20 do século XX (v. resenha n° 19).
Relata Nabuco:
“A minha passagem pela Inglaterra deixou-me a convicção, que depois se confirmou nos Estados Unidos, de que só há, inabalável e permanente, um grande país livre no mundo. A Suíça é um país livre, mas é um pequeno país. Os Estados Unidos são um grande país, mas há nele, sem falar da sua justiça, da lei de Lynch, que lhe está no sangue, das abstenções em massa da melhor gente, do desconcerto em que caiu a política, uma população de 7 milhões, toda a raça de cor, para a qual a igualdade civil, a proteção da lei, os direitos constitucionais são contínuas e perigosas ciladas. A França é um grande país e um país livre, mas sem espírito de liberdade arraigado, sujeito sempre às crises das revoluções e da glória.”
Os Estados Unidos, ademais, segundo Nabuco, não tinham o potencial artístico relevante, os políticos eram os de categoria inferior. O Autor relata eventos em eleições presidenciais cujo resultado, tal como recentemente tem ocorrido, fora incerto e tudo confuso:
Em julho de 1877:
“A posição do presidente Hayes é a mais singular que já se viu neste país. Ele chegou ao poder por fraudes eleitorais sem exemplo” (...) deve, assim, a sua eleição, ou, melhor, o seu posto, a um sem-número de politicians de todos os matizes, desde os fabricadores de atas falsas até os juízes da Corte Suprema, que as apuraram. Chegando ao poder, porém, tem vergonha de tudo isso e torna-se ele o representante da pureza administrativa e eleitoral.”  
E então afasta, enxota, despreza todos aqueles políticos, senadores, funcionários públicos que participaram das fraudes que o ajudaram a se eleger.

A origem e lutas de Nabuco pela abolição da escravatura têm páginas emocionantes:

Desde a mocidade e depois ingressando na politica, como deputado dedicou-se de modo incansável à abolição da escravatura.
Outros abolicionistas se uniram ao movimento. Entre eles, Nabuco enaltece André Rebouças, negro:
“Matemático e astrônomo, botânico e geólogo, industrial e moralista, higienista e filantropo, poeta e filósofo, Rebouças foi talvez dos homens nascidos no Brasil o único universal pelo espírito e pelo coração... Pelo espírito teremos alguns, pelo coração outros; mas somente ele foi capaz de refletir em si ao mesmo tempo a universalidade dos conhecimentos e a dos sentimentos humanos.” (*)



André Rebouças,  amigo de Dom Pedro II, embarcou com a família real para o exílio na Europa com a proclamação da República.






Morando com a madrinha, ainda menino tivera Nabuco uma primeira experiência com o temor de um escravo que fugira duma senzala e agarrara seus pés, implorando que fosse comprado por sua madrinha porque o seu senhor, muito severo, castigava seus escravos com crueldade.

A partir dessa experiência, revelando que absorvera a escravidão “no leite materno que me amamentou” [de uma negra], “uma carícia muda” que o envolveu diria: “Assim eu combati a escravidão com todas as minhas forças, repeli-a com toda a minha consciência, como a deformação utilitária da criatura...”

Com a morte de sua madrinha, dona do engenho Massangana, relata ele quando de sua volta 12 anos depois, referindo-se aos escravos que o serviram:

“Não só esses escravos não se tinham queixado de sua senhora, como a tinham até o fim a abençoado. Eles morreram acreditando-se os devedores (...) seu carinho não teria deixado germinar a mais leve suspeita de que o senhor pudesse ter uma obrigação com eles, que lhes pertenciam.” (...) Oh! Os santos pretos! Seriam eles os intercessores pela nossa infeliz terra, que regaram com o seu sangue, mas abençoaram com seu amor!”

Claro que esse sentimento de gratidão de Nabuco provinha do que recebera de seus escravos que, no fundo, fora viva retribuição pelo modo como foram tratados no engenho de sua madrinha Ana Rosa.

Fora o Brasil o último país a promover a abolição dos escravos, fato que “humilhava a nossa altivez e emulação de país novo”, embora ocorressem muitas libertações gratuitas. Há referências de que na Província (Estado) de São Paulo, até 1885, cerca de 11 mil escravos haviam sido libertados, embora Nabuco revelasse que em 1879, quando iniciada a campanha abolicionista estavam ainda sob jugo quase dois milhões de negros.

O tráfico deixara de ser praticado em 1850. Em 1871, a Lei do Ventre Livre determinara que os filhos dos escravos, até que completassem oito anos ficariam com a mãe. Depois dessa idade, até os 21 anos, prestariam serviços aos seus senhores, o que significava “um regime igual ao cativeiro.”

Em 1888, Nabuco, como deputado, depois de constatar que o clero saíra da neutralidade em relação à abolição, resolvera ir a Roma e obter uma audiência com o papa Leão XIII – subscritor da encíclica “Rerum Novarum” de 1891 que entre outros temas apontou as condições subumanas de trabalho e as extensas jornadas exigidas aos operários – na qual solicitaria uma declaração do pontífice contra a escravidão no Brasil. Fora muito bem recebido e sensibilizara o papa. Mas a abolição viria logo, poucos dias depois com a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13.05.1888.

Nabuco explana que ao assinar tal lei, sabia a princesa que dos negros só poderia contar com seu sangue e “ela não o queria nunca...” e que a classe proprietária “ameaçava passar-se toda para a República...”

Ela seria proclamada 18 meses depois.

Com a República, Joaquim Nabuco, monarquista, se afasta da vida política mas em 1910 falece em Washington como embaixador do Brasil nos Estados Unidos.


(*) A Avenida Rebouças em São Paulo é uma homenagem a André Rebouças

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO de Stephen W. Hawking

Livro 25

O livro de Hawking, para leitores fora do ambiente da física, da cosmologia é muito difícil.  A maior parte das páginas explana sobre teorias cósmicas, de criação do universo e, tantos os debates e as discussões que o livro discorre que, no final de tudo, “tudo é relativo”. Pela minha formação, só cheguei ao final da leitura do livro porque me propusera a tanto.




Hawking sofre da doença degenerativa “ela” – esclerose lateral amiotrófica. Quando tinha 21 anos a doença foi diagnosticada vindo com o diagnóstico a informação de que não viveria muito tempo. Hoje, completamente imobilizado, se comunica por um programa que transmite mensagens pelos movimentos de seus olhos, já com 75 anos de idade (em 2017).

Hawking começa o livro com aqueles princípios elementares, teorias primordiais, a partir de Aristóteles que entendia a Terra estática no cosmos e, em torno dela, giravam o Sol e os planetas então conhecidos.

Copérnico corrigiu Aristóteles bem assim Ptolomeu, divulgando anonimamente sua teoria, afirmando que  a Terra e os demais planetas giravam em torno do Sol. E por que a divulgação anônima? Porque ele receava represálias da inquisição.

Kepler e Galileu defenderam a teoria de Copérnico. Galileu, físico brilhante, mas advertido pela inquisição a não prosseguir nos seus estudos porque não havia provas suficientes de que a Terra girava em torno do Sol.

Hawking se refere à descoberta da “lei da gravidade” por Isaac Newton  e divulgada em 1687 num momento contemplativo do  célebre matemático quando viu uma maçã cair no chão.

[A maçã não teria caído sobre sua cabeça]. 

Pelo conceito de gravidade, era possível compreender que os corpos celestes, embora atraíssem uns aos outros, segundo seu tamanho, permitia o equilíbrio do universo porque o número de estrelas seria infinito.

No final da década de 20 do século passado, Edwin Hubble sugeriu que o universo fora constituído a partir de uma grande explosão, o Big Bang. Se aceita essa teoria, não seria possível pensar no que existia antes da ocorrência desse fenômeno.

Nota-se no livro que entre “idas e vindas”, inclusive para Hawking, essa teoria acabou sendo aceita por muitas cientistas.

A Igreja católica em 1951 pronunciou-se oficialmente sobre a teoria do Big Bang porque estaria ela em harmonia com a Bíblia.

Mas, o que fazia Deus antes da grande explosão?

Essa explosão teria ocorrido a dez bilhões de anos. A evolução dos seres inteligentes teria se dado, também, nesse tempo.

A incerteza das teorias:

“Qualquer teoria física é sempre provisória, no sentido de que não passa de uma hipótese, não pode ser comprovada jamais. Não importa quantas vezes os resultados da experiência concordem com uma teoria, não se pode ter certeza de que, da próxima vez, o resultado não vá contradizê-la.”

A mecânica quântica “introduz um inevitável elemento de imprevisibilidade ou casualidade da ciência”. Ela não prevê um único resultado para um número definido de observação mas um número de diferentes e possíveis resultados.

Einstein, que defendia os conceitos da mecânica quântica tendo mesmo papel destacado no seu desenvolvimento não aceitou a sugestão de que o universo fosse gerido pela casualidade e diria: “Deus não joga dados”.

“Parece que o princípio da incerteza é ainda uma característica fundamental do universo em que vivemos.”

Porque “na teoria clássica da relatividade geral, não se pode prever como o universo teria começado porque todas as leis científicas conhecidas teriam falhado na singularidade da grande explosão.”


(A teoria da relatividade foi proclamada por Einstein em 1905 e a teoria da relatividade geral em 1915. Ela afirma que tempo não é o mesmo em qualquer circunstância, ele é relativo, podendo variar de acordo com a velocidade, a gravidade e o espaço percorrido).

Mas, descoberta uma “teoria unificada e completa, portanto, talvez nos ajude a sobrevivência de nossa espécie. Pode até não afetar nosso estilo de vida”, mas “ansiamos por saber porque estamos aqui e de onde viemos”.


O universo está em expansão entre cinco e dez por cento a cada bilhão de anos. As distâncias são incertas e imensuráveis. Alias, chegamos ao “conceito atual de que a Terra é um planeta de tamanho médio (não será minúsculo?), girando em torno de uma estrela média (?) nas regiões periféricas de uma galáxia espiral comum, que é apenas uma das aproximadamente um trilhão que se observa no universo” (“trilhão”!).

Buracos negros:

Definição difícil de decifrar no livro. O glossário explica o “buraco negro primordial” formado no início do universo. Mas, o que se aplica no livro sobre esse tema teórico, seriam estrelas que perderam a força como tal, mas permaneceram como massa no universo, com forte atração gravitacional que não poupa nem a luz.

Deus e o ateu:

Hawking tem se proclamado ateu.

Mas, as teorias “relativas”, inconclusivas o levam a pensar em “alguém” que arquitetou isso tudo, esse universo inexplicável que às vezes coloca em questão a própria existência da humanidade.

[Eu é que pergunto: onde, afinal, nos situamos, nessa imensidão sem começo e sem fim, para que servimos? E não entendendo ou não tendo lógica para pensar sobre isso, ocorre terrível predação que ironicamente coloca em risco, nalgum tempo futuro, a própria sobrevivência da humanidade, a nossa, não a do planeta]

Na introdução do livro, Carl Segan, observa:

“Hawking, como ele mesmo afirma explicitamente, tenta compreender a mente de Deus. Isso torna a conclusão deste esforço completamente surpreendente: o universo sem limites no espaço, sem começo ou fim e sem nada que um Criador pudesse fazer.”

Hawking admite que poderia existir um criador dessa imensidão universal, um eterno desafio à inteligência que nenhuma teoria explica, tudo é “relativo”, observando:

“Mas se realmente o universo é completamente autocontido, sem limite ou margem, não teria havido começo, nem haverá fim, ele seria, simplesmente. Que papel estaria então reservado ao criador?”

Por fim, ele chama ao debate cientistas, filósofos e mesmo leigos para estabelecer razões dos motivos que o universo e nós existimos.

E afirma:

“Se encontrarmos a resposta para isto teremos o triunfo definitivo da razão humana: porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus.”

Esses elementos que colhi no livro de Hawking são alguns princípios, em alguns pontos até notando contradições. O livro não é só isso. Isso é pouco. Ele contém um forte encaminhamento científico no qual se destacam conceitos elevados de física. E sobre esses conceitos, não tenho condições mentais de discutir.
Por isso aceito críticas e correções.


O HOMEM QUE CALCULAVA de Malba Tahan

Livro 24



Malba Tahan é o pseudônimo de Julio Cesar de Mello e Souza.

Quem não ouviu alguma coisa sobre esse livro clássico do educador e matemático Malba Tahan?
Mas, o título do livro já revela, por si só, a que se refere: fórmulas matemáticas, algumas interessantes que o brilhante Bereniz, “o homem que calculava”, as usava com sabedoria, resolvendo todas as questões e desafios que lhe eram submetidos. Sempre pela matemática.


A história se situa no século XI e Bagdá era a célebre cidade, “a pérola do Oriente”.

As narrativas se dão entre personagens árabes-muçulmanos.

A história começa com o encontro do seu narrador e o “homem que calculava”, quando “voltava eu, certa vez, ao passo lento do meu camelo, pela Estrada de Bagdá, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens do Tigre, quando avistei, sentado numa pedra, um viajante, modestamente vestido, que parecia repousar das fadigas de alguma viagem.”

Era Bereniz. “o homem que calculava”. Nasceria naquele encontro uma forte amizade entre eles.

Uma primeira disputa que Bereniz resolveu deu-se com a divisão de 35 camelos herdados por três irmãos: ao mais velho caberia a metade(17,5 camelos), ao irmão do meio a terça parte (11,67)  e ao caçula, a nona parte (3,15 camelos).

A divisão não seria exata, dai os desentendimentos entre os irmãos.

O que fez o “homem que calculava”?

Tomou emprestado o camelo do narrador e amigo, inteirando 36 camelos.

A divisão:

Ao herdeiro mais velho, coube 50%, 18 camelos: (em vez de 17,5);
Ao herdeiro do meio: 1/3, 12 camelos (em vez de 11,67)
Ao herdeiro mais moço: a 9° parte, 4 camelos (em vez de 3,88)

Todos foram beneficiados pela divisão. A soma: 18 + 12 + 4 = 34

Sobraram 2 camelos: um  foi devolvido ao amigo-narrador e o outro,  aquele um que sobrou, Bereniz se apossou como seu.

Os irmãos ficaram contentes com a fórmula da divisão praticada pelo “homem que calculava” e não se opuseram em entregar o camelo que “sobrou”.

Outras formulações matemáticas ocupam todo o livro.

Bereniz se casou com Telassim, que era cristã (filha de 17 anos do poeta Iezid Abul Hamid). Bereniz repudiou a religião de Maomé e adotou integralmente o Evangelho de Jesus.

Fez questão de ser batizado por um bispo que sabia a Geometria de Euclides.


Em 1258, relata o livro, “uma horda de bárbaros e mongóis atacou a cidade de Bagdá.” (...) A cidade foi saqueada e cruelmente arrasada.”
“A gloriosa Bagdá, que durante 500 anos fora um centro de ciências, letras e artes, ficou reduzida a um montão de ruínas.”

Apêndice

Linhas acima foi destacado que "Bereniz repudiou a religião de Maomé e adotou integralmente o Evangelho de Jesus".

um apêndice que trata do islamismo para a devida reflexão pelo que se passa nos tempos atuais:


A forma “Islã” é derivada do árabe “assalã”, que significa paz, harmonia, confraternização. Islã exprime, afinal, resignação à vontade de Deus.

Para o árabe muçulmano, a denominação de infiel é dada a todo indivíduo não-muçulmano, isto é, ao indivíduo que não aceita os dogmas do Islã e não segue a trilha do Alcorão, que é o Livro de Allah. (*)

Um muçulmano piedoso, sincero, quando se refere a um infiel (cristão, idolatra, pagão, judeu, agnóstico ou ateu), isto é, quando cita o nome de um servo de Allah que viveu no erro, nas trevas do pecado (depois da revelação do Alcorão), por não ter sido esclarecido pela fé muçulmana, acrescenta este apelo:

- Allah se compadeça desse infiel!

Ou recorre a esta fórmula, que é, igualmente, piedosa:

- Com ele (o infiel) a misericórdia de Allah!

Aceitam os muçulmanos, como dogma, que o infiel, depois da vitória do Islamismo, tendo vivido na heresia, longe da verdade, estará, fatalmente, depois da morte, condenado às penas eternas. É preciso, pois, implorar sempre para os infiéis (especialmente para os sábios), a clemência infinita de Allah, o Misericordioso. 


(*) O Alcorão foi “sistematizado” entre 632 a 650 dC.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MARIA MADALENA E O SANTO GRAAL de Margaret Starbird

Livro 23

(Subtítulo: “A mulher do vaso de alabastro”)

Na capa do  livro de Margaret Starbird há indicação de que é um dos que inspiraram “O Código Da Vinci” de Dan Brown.
A autora que inseriu em sua obra inúmeros quadros antigos e imagens que indicavam o simbolismo do "sagrado feminino", o Santo Graal, a própria Maria Madalena, esposa de Jesus, não se aproveitou da célebre pintura “A Santa Ceia”, de Leonardo Da Vinci como fez Dan Brown em seu “O Código Da Vinci”.



















A essência do livro se refere à possibilidade de ter sido Jesus casado com Maria Madalena e, nessa condição, não tinha ele, a tão apregoada pureza sexual.

Nos primórdios do catolicismo, essa ideia era rejeitada de modo radical. No prefácio de livro, o Rev. Terrance A. Sweeney, Ph.D critica a Igreja pela sua posição antissexual, descrevendo religiosos que chegaram ao extremo: “Justino Mártir era tão avesso à intimidade conjugal que não podia imaginar Maria concebendo Jesus por meio do sexo. Em vez disso, ele afirmou que ela concebeu ainda virgem. Orígenes, que acreditava que Jesus fizera voto de castidade, castrou-se a si mesmo.”

A Autora era (ou é) católica fervorosa e ao ler o livro “O Santo Graal e a linhagem sagrada” decidiu pesquisar para desmentir seus autores que imaginava faria com facilidade mas, à medida que avançava nos estudos percebeu que a “heresia Maria Madalena” possuía inúmeros indícios que poderiam indicar a sua veracidade, isto é, de que fora ela esposa de Jesus.

Essa ideia crescente nos primeiros séculos foi violentamente combatida pela Igreja.

Nesse passo, passou a predominar aquilo que a autora qualifica como prejuízos da predominância do masculino (), nas relações com o mundo. O equilíbrio entre o masculino e o feminino fora rejeitado, significando, com a predominância do homem, materializou-se um mundo, ao longo dos séculos, belicoso, “brandindo armas irresponsavelmente, atacando com violência e destruição.”

Não houve, então, a união espiritual dos Noivos, o que constituiria o sagrado feminino representado por Maria Madalena, qualificada nas escrituras como prostituta. Jesus não poderia ter uma esposa...

Maria Madalena - o Santo Graal - fora alijada, então, desse equilíbrio de sentimentos.

[Nestes tempos tecnológicos, não houve de modo decisivo em considerar a natureza como elemento de inspiração a ser respeitado, advindo a poluição ameaçadora e, no tocante ao celibato católico, os escândalos da pedofilia – por muitos anos abafados pelos escalões da Igreja].

Jesus, casado com Maria Madalena, fora condenado pelos romanos não só pela blasfêmia ao se opor aos sacerdotes mas também pela insurreição latente  que ele personificava. A cada dia aumentavam seus seguidores que aceitavam suas pregações e milagres.

Por esses crimes, que resultaram na sua crucificação, sua família corria perigo sério de severas represálias pelo poder romano. 

Guiada por José de Arimatéia – amigo de Jesus – Maria Madalena viajou para o Egito, Alexandria, grávida.

Ela era o Santo Graal. O Sangraal - o sangue real. ()

Deu a luz a uma menina que seria filha de Jesus. Estranhou muito porque esperava um menino que seria o condutor de outras profecias bíblicas.

Mas, assim não se deu.

Fugitiva, esquecida, tomou seu lugar, Maria, a mãe de Jesus que tivera outros filhos. Em muitas imagens e lendas a referência a Maria Madalena fora trocada por Maria mãe de Jesus considerada virgem fora posta como a figura feminina a ser reverenciada.

Mas não a Noiva de Jesus.

Na capa do livro há referência à mulher do vaso de alabastro.

O vaso de alabastro, um tipo de cerâmica era utilizado para acondicionar óleos e produtos especiais, como o perfume naqueles tempos.

A autora acredita que a passagem do Novo Testamento, em Marcos, 14,3, a mulher ali referida, que derramou unguento perfumado de muito valor sobre a cabeça de Jesus, fora Maria Madalena.

Relata a autora a vida espiritual dos cátaros, que tinham as mulheres num mesmo nível e direitos dos homens. Levavam vida simples, eram vegetarianos, praticavam o evangelho nos seus mandamentos originais. Não reverenciavam a cruz e a crucificação porque representavam sofrimento. Não precisavam de sacerdotes nem de igrejas. O evangelho era difundido nas casas de seus moradores. Rejeitavam, então, os dogmas distorcidos da Igreja que no seu âmago, identificavam-se pela soberba, pela vaidade e pelo autoritarismo.

Tanto que a inquisição, atacando a região da Provença, França, em 1244 vencendo a resistência dos cátaros que se recusavam a seguir os dogmas da Igreja, cerca de 200 deles foram queimados vivos.

Por tudo, insiste a autora a falta do “sagrado feminino”, um fator de equilíbrio nas ações humanas.

Há muito mais no livro.