Translate

segunda-feira, 29 de junho de 2020

O ANTICRISTO de Friedrich Nietzsche


"Ensaio de crítica do Cristianismo"

LIVRO 73



















Nietzsche na sua maturidade pelos 46 anos de idade foi perdendo a razão, num grave colapso mental. Atribui-se sua loucura ao avanço da sífilis, que adquirira na juventude. Com a doença “viveu” por cerca de 11 anos. Ele faleceu em 1900 aos 55 anos de idade (seu nascimento: 1844 na Alemanha).

No capítulo “Mater Dolorosa” do velho livro (1948) “A Marcha do Tempo” de Stefan Zweig é relatado o drama de sua mãe, cuidando do doente famoso no dia-a-dia:

“Vê-se agora uma velhinha a conduzir, de vez em quando, o seu doente, como a um urso grande e pesadão, pelas ruas e a longos passeios. A fim de o distrair, recita-lhe intermináveis poesias, que ele escuta em torpor. Guia-o jeitosamente; fá-lo desviar-se das pessoas que o fitam curiosas e dos cavalos que detesta. Sente-se feliz toda vez que consegue reconduzi-lo à casa, sem que ele desperte a curiosidade popular com sua “voz muito alta” (como a senhora delicadamente classifica seus berros selvagens).


O "ódio aos cavalos" que teria  Nietzsche tem este comentário de Milan Kundera no  livro "A Insustentável Leveza do Ser":

Nietzsche já afetado pela loucura: sai o filósofo alemão de um hotel em Turim, ano de 1889, no momento em que um cocheiro espanca seu cavalo com um chicote: “Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços.” (...) Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão por Descartes – que considera o animal um autômato, uma máquina animada...” Quando um animal geme, não é uma queixa, é apenas o ranger de um mecanismo que funciona mal.” (*)

(*) Livro de Milan Kundera - acessar

Friedrich Nietzsche é um autor que me incomoda. Sempre presente o desafio de ler "Assim falava Zaratustra” (escrito em 1883/5) tenho consciência de que preciso ler essa obra mesmo na dúvida se obterei no final algum proveito, tal as  ambiguidades, contradições em páginas desconexas. Ora, é preciso "interpretar". Mas, interpretar o quê? (*)

Mas, há os que se debruçam sobre as obras de Nietzsche, e se tornaram estudiosos de seu pensamento. Se entendem o que quis transmitir o autor é algo sempre a ponderar.

A filósofa Scarlett Marton, é estudiosa das obras de Nietzsche. Sobre "Zaratustra" diz se tratar de um texto "hermético", pelo que difícil.


O ANTICRISTO


No livro "Assim falava Zaratustra", Nietzsche afirma o Super-homem, mas em "O Anticristo" ele o chama de "homem-superior" cuja essência de viver com liberdade, não comporta a presença de Deus.

Ele  começa assim: "olhamo-nos no rosto, somos hiperbóreos..." - essa é uma região referida pela mitologia grega que se situaria ao norte da Europa e da Ásia na qual o povo vivia despreocupado,  feliz, usufruindo de vida longa muito superior aos demais homens. Essa região hiperbórea só poderia ser alcançada com a ajuda dos deuses.  

Mas, não nas terras de Nietzsche...

Ele, o homem-superior deve ter, então, a liberdade de usufruir da vida sem a presença, por exemplo, dos sacerdotes cristãos que conduzem os "fieis" nas mentiras contidas na Bíblia que enaltece o judaísmo e, no "novo testamento", o evangelho cristão ("as boas novas") mentiras, não poupando nem mesmo a todos os ensinamentos de Jesus Cristo.

O cristianismo tolhe a liberdade de pensar, tolhe os instintos naturais da vida, impedindo a felicidade dos fiéis porque os mantém na mentira.

E, nesse rumo, para o homem-superior, a  compaixão não pode ser aceita, porque ela significa um sofrimento contagioso e leva a uma perda da energia vital. Então, um sentimento inútil ao "homem-superior". 

Pergunta ele: "o que é mais nocivo que um vício qualquer? A compaixão em um ato para todos os fracassados e os fracos - o cristianismo".

Ataca também os teólogos porque aquilo que consideram verdadeiro seria uma falsidade difundida insistentemente.

Diz mais que a crença ou em Deus ou no diabo, são produtos da decadência, esse Deus que hostiliza a vida.

E ao continuar a "condenar" o cristianismo, se refere ao budismo que seria "cem vezes mais realista que o cristianismo", mas também uma religião decadente, embora mais amena nos seus princípios (talvez  seja o budismo decadente pela compaixão um princípio que transmite a partir dos ensinamentos do Buda). 

No meu modo de interpretar Nietzsche não interpretou  e parece ter mencionado  o budismo apenas para estabelecer  um novo ângulo crítico em relação ao cristianismo. E ele também não explica sua afirmação de que o budismo não promete nada, mas cumpre; "o cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada". (?)

Faz duras crítica a Jesus por não ter resistido às acusações falsas de que era vítima, não ter se defendido diante dos juízes, diante dos acusadores.

Mais a frente, seleciona versículos dos Evangelhos e faz sua crítica àquilo que considera contradições da palavra de Jesus.

Menciono este, no qual a crítica  é mais contundente:

"E tantos quantos vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância no dia de juízo para Sodoma e Gomorra, do que para os daquela cidade.(Marcos 6.11). Como é evangélico!..."

Nietzsche selecionou outros  versículos para criticar os Evangelhos, a Jesus Cristo que qualifica de "impostor", mas claro que, de modo ao seu próprio convencimento, não ousou se referir ao "Sermão da Montanha", aos milagres de Jesus àqueles necessitados, seus embates com os filisteus...

E, então, volta a negar "Deus como Deus", e mais: "Se alguém nos provasse esse Deus dos cristãos, ficaríamos ainda menos inclinado a crer nele."

E Deus inventa as guerras, separa os povos e permite que se exterminem reciprocamente. Os sacerdotes, precisam da guerra.

Interessante que Nietzsche critica a doutrina do perdão, da graça, da  salvação, por significarem a negação da causalidade,  "um ataque contra o conceito de causa e efeito" (?)

Estaria remotamente se referindo ao carma ("conceito de causa e efeito") aceito pelo budismo?

Do convertido Paulo, o autor o converte num farsante e aproveitador dos ensinamentos cristãos. 

E no prosseguimento das acusações e críticas, seguem páginas a frente, concluindo que a igreja cristã "não poupou nada em sua corrupção".

Por fim, quanto as cristãos, "a natureza os dotou mal - esqueceu de lhes atribuir um modesto quinhão de instintos respeitáveis, convenientes, limpos... Dito entre nós eles não são sequer homens... Se o islamismo despreza o cristianismo, tem mil razões para isso: o islamismo tem como condição, verdadeiros homens..."

MORAL DA HISTÓRIA

As críticas principalmente ao catolicismo são contundentes no livro. O que pensaria hoje com o escândalo da pedofilia? Desses "evangélicos" que negociam o Evangelho? Nietzsche nesse conceito de homem-superior é muito limitado pelo que a vida oferece e há o momento da própria decadência física. Não haveria como imaginar viverem ele e seus adeptos na região mítica dos hiperbóreos. Pelas limitações da vida pareceu muito de utopia, um delírio,  mesmo que rejeitando Deus. Ele viveu apenas 55 anos na "terra" do seu Zaratustra e os seus últimos anos (11) foram vegetando por causa da doença mental progressiva. 

O livro "O Anticristo" é oferecido ainda hoje pelas livrarias.

Referências:

quarta-feira, 17 de junho de 2020

SENHORA de José de Alencar

Livro 72





















É o segundo livro que leio do Autor. O primeiro foi Til. (*)
"Senhora" foi publicado em 1875.

Resolvi "encará-lo" para sair daquilo que já chamei nestes comentários e resenhas, de livros "cabeça".


"Senhora" é um romance de "amor" cheio de voltas e o casamento dos apaixonados Seixas e Aurélia demora o livro todo para se consumar.


Fernando Seixas não era rico, mas frequentava a alta sociedade do Rio de Janeiro. Era honesto mas não se descuidava em levar alguma vantagem em operações pouco ortodoxas.

Ajudava a família, querido pela mãe e irmãs mas havia um distância entre a vida delas, muito humildes e ele assíduo frequentador dos salões de baile costume que exigia estampa, boas roupas e relacionamentos.

Uma frase bem atual ainda nesses tempos, referente a 12 contos de réis que sobrara à viúva encerrado o inventário de seu falecido marido:

"Partilhados os bens, D. Camila, a mãe de Seixas, por conselho de amigos, pôs o dinheiro a render na Caixa Econômica, donde ia tirando os juros semestrais com que acudia os gastos da casa, ajudada dos aluguéis de dois escravos e também de algumas costuras dela e das duas filhas."

Nesse romance pouco de comenta da escravidão: esse trecho acima foi um das poucos, esse dos dois escravos "alugados".

A escravidão notória naqueles tempos fora "escondida" pelo autor, realçando apenas a felicidade da classe alta nas suas festas e bailes.

Mas, e a Aurélia, quem era?

Uma menina lindíssima, filha de dona Emília, mulher pobre e doente, que fora casada com Pedro, um estudante que se apaixonara por ela.

Pedro, embora tivesse uma vida simples no Rio de Janeiro, era filho "natural" de fazendeiro rico.

Tiveram dois filhos, Emílio e Aurélia.

Pedro foi chamado pelo fazendeiro Lourenço, ao saber que seu filho se relacionava com uma "rapariga" no Rio de Janeiro, obrigando-o a que voltasse à fazenda do pai.

Ele deixa Emília e o filho mas promete voltar e todo o tempo remeteu meios para a manutenção da família.

Quando voltou por um tempo, nasceu Aurélia.

Ao retornar à fazenda por imposição do pai acabou falecendo por uma "febre cerebral".

Emília e seus filhos passaram muita privações.

Já crescidos, Emílio revelou-se um jovem frágil e de pouca inteligência e morreu logo. Aurélia, ajudava a mãe. Esta se preocupava muito com o futura da filha, tanto que queria vê-la casada.

E a incentiva a se por na janela e ser admirada pelos jovens em idade de casamento situação que Aurélia que a constrangia.

E aí aparece o Fernando Seixas que a pede em casamento mas não consuma o matrimônio porque se encantou com um dote de 30 contos que o pai de Adelaide lhe oferecera se se casasse com sua filha.

Aurélia sofreu muito com o rompimento de Seixas.

Nem com Adelaide Seixas se casou não muito explicado no livro.

Mas, então o sogro descobriu em documentos do filho que o casamento Emília-Pedro era de papel passado.

Vai, então conhecer a família de Pedro e se encanta com ela.

Passado um tempo, morre sua mãe e Aurélia fica órfã e vai morar com uma tia.

Morre o avô que lhe deixa uma fortuna em testamento. E Aurélia assume grande riqueza e passa a frequentar a sociedade do Rio de Janeiro. 

Lindíssima, era cortejada por muitos "partidos", mas ela ironizava, não esquecia Seixas.

Obriga seu tio e tutor Lemos, a oferecer um dote a Seixas para que com ela se casasse, sem que noivo "comprado" soubesse quem seria a noiva.

Não muito explicado, porque Lemos já se encontrara com Seixas nos tempos do noivado quando Aurélia era pobre. Então não poderia haver nada muito secreto.

O acordo do dote é fechado em cem contos.

Dá-se o casamento mas ele só se consuma porque Aurélia passa a humilhar o marido "comprado".

Dá-se troca de farpas que se estende por páginas e páginas. Aurélia até oferece a liberdade a Seixas pelo divórcio mas ele se mantem firme porque havia um contrato a cumprir. Ele não assume a riqueza da mulher, continuando seu trabalho numa "repartição".

Cenas de ciúmes ocasional de parte a parte.

Mais para o final do romance Seixas obtém o valor de quinze contos de operação financeira que havia esquecido e com reserva de seu trabalho completa 20 contos - porque havia pedido adiantamento dessa quantia quando do acordo do dote para resolver pendência de sua própria família - não tendo apresentado o cheque de 80 contos (e Aurélia não se deu conta disso?), devolve os cem contos do dote e pede para recuperar sua liberdade livrando-se do casamento não consumado e da humilhação. E porque a riqueza de Aurélia seria um impedimento permanente para se obter uma relação conjugal aceitável, feliz.

Mas, então, Aurélia, que ansiava por sinais de que Seixas a amava, nesse momento de entendimento, ela revela de joelhos que o testamento que assinara designava o marido como seu herdeiro universal.

E ai entre beijos e declaração de amor, depois de 11 meses, "as cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal".

Até que enfim, após 11 meses nas suas 277 páginas.




Acessar: Til

segunda-feira, 25 de maio de 2020

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA de Edmund Wilson

Livro 71







Para mim um livro importante. Eu já o lera há décadas e resolvi pela releitura, considerando a polêmica e o "medo" do comunismo que grassa em países do 3º mundo porque nas suas bases, permanecem os mesmos problemas do século XIX quando eclodiu o marxismo pela publicação em 1867 de "O Capital" de Karl Marx. Esses problemas são: a pobreza absoluta, trabalhos degradantes e mal remunerados, falta de saneamento, falta de assistência digna a esses marginalizados pela sociedade que a eles é indiferente.

Marx e seu parceiro Friedrich Engels amadureceram o marxismo tendo por princípio essas aberrações sociais, No seu tempo, além de um salário de escravidão, os operários passavam fome com sua famílias e crianças na tenra idade trabalhavam em fábricas até à exaustão.

Bom que se diga que no livro e de um modo geral, as palavras "comunismo" e "socialismo" são empregadas como sinônimas, mas no seu conceito há diferenças: o socialismo pode existir ao lado de atividades capitalistas e num processo que pode ser mais lento, os trabalhadores vão se assenhorando dos meios de produção e do poder que pode se dar num processo democrático.

O comunismo por sua vez insere no seu bojo, a revolução do proletariado pela tomada do poder extinguindo por esse meio, as fórmulas capitalistas de produção, a extinção da propriedade e a implantação da "ditadura do proletariado" na qual se sobressaem a igualdade e a a plenitude das relações de trabalho. Trabalhadores irmanados no "bem comum".

E de onde pode se encontrar de modo expressivo a origem da palavra "comuna".

Um exemplo significativo pode ser a "Comuna de Paris", de 1871. Essa Comuna fora constituída por trabalhadores que se opuseram ao armistício entre a Franca e a Prússia, cujos soldados cercavam Paris. A Comuna, apoiada pela Guarda Nacional se destacara por um governo operário, de igualdade entre eles, até que massacrada pelas forças ditas oficiais - da burguesia expulsa da cidade pela comunidade que assumira o poder, vitimando mortalmente milhares de seus defensores e presos outros tantos. Não chamados de comunistas, mas de comunardos. Mas, "comuna" de comum, comunidade. A Comuna de Paris teria sido elogiada por Mark-Engel como uma experiência de sociedade comunista ainda que durasse pouco.

O subtítulo do livro "Rumo à Estação Finlândia" é este: "Escritores e Atores da História".

Então, o autor antes de chegar a Marx-Engels, fez uma explanação sobre os escritores Michelet, Renan, Taine e Anatole France e suas ligações contra e pró-socialismo.

Michelet: um autor brilhante, contemporâneo de Marx, rejeitara o socialismo, porque "a propriedade na França já foi demasiadamente subdividida, e o sentimento de propriedade do francês é muito forte."

Renan: não encontrei laços fortes nas obras analisadas por Wilson no tocante ao socialismo, sim ou não, observando-se que "o objetivo de Renan é nos levar a percorrer os textos religiosos e filosóficos da antiguidade - muito embora, graças ao encantamento da imaginação que ele induz à medida que lemos, a atmosfera da época em que tais textos foram escritos seja recriada. Há a menção ao livro de Renan, "As origens de cristianismo".

Taine: na sua mente, as multidões da grande Revolução e o governo revolucionário de Paris identificaram-se com a revolução socialista da Comuna cujos membros, é bom que se ressalte, foram massacrados. Todavia, "Taine defende a lei e a ordem da burguesia assim que sente ameaçadas pela espécie errada de homem superior". Homem superior é aquele que mais integralmente representa o povo.


Anatole France: ele politicamente era socialista, mas em suas últimas obras "têm como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar".

No tocante aos nomes que o autor já qualifica como socialistas, dois se destacam, Graco Babeuf e Saint-Simon.

Babeuf, no leito de morte, seu pai o fez jurar sobre sua espada que defenderia até a morte os interesses do povo.

No cumprimento desse juramento manteve intensa atividade política, denunciou lá pelo fim do século XVIII que o povo perdera a liberdade de reunião e de imprensa. Descobriu no exercício de cargo no Depto. de Subsistência da Comuna uma falha contábil, concluindo que as autoridades estavam deliberadamente  criando uma situação de fome para explorar a demanda por alimentos. Pelas suas atividades acabou sendo preso deixando sua família sem quaisquer recursos numa época de fome terrível na França a ponto de morrer de inanição sua filha de sete anos e muito magras suas outras crianças. "A maior parte da população de Paris" andava pelas ruas cambaleando pela fome.

Foi guilhotinado.

Saint-Simon que tentara o suicídio, nos seus escritos, invocara Deus aos "príncipes, que ouçam a Sua voz e se tornem bons cristãos (...) e que o cristianismo obriga aos poderosos a tarefa de melhorar o mais depressa possível a situação dos miseráveis!"
"Toda a minha vida pode ser resumida numa única ideia: garantir a todos os homens o livre desenvolvimento de suas faculdades."

Morreu com a mão à cabeça que fora baleada na sua tentativa de suicídio.


O livro de Edmund Wilson explana, também, na linha das origens do socialismo, as comunidades de Fourier e Owen.

Ambos pensaram numa nova fórmula de convivência, após assistirem o sofrimento impostos aos trabalhadores. Fourier vira a população de Lion "ser reduzida à mais abjeta degradação com o desenvolvimento da indústria têxtil e viu, num quadro de população esfomeada, carregamento de arroz ser inutilizado pelos patrões para que o preço aumentasse. 

Owen, por sua vez notou que as novas máquinas de tecer tinham toda a atenção, enquanto desprezada a "máquina humana".

De se notar que o pensamento socialista sempre esteve ligado ao sofrimento da massa trabalhadora.

Fourier imaginou uma sociedade não de igualdade absoluta, mas premiando aqueles trabalhadores mais talentosos com algumas vantagens a mais. Os trabalhos desagradáveis teriam melhor compensação como também os trabalhos necessários. Mas, essa comunidade de capital privado - os investidores receberiam porcentagem sobre a renda auferida - não foi avante. Não houve interesse capitalista nos seu projeto.

Owen pensava na igualdade absoluta e enquanto administrador de um cotonifício na Escócia, converteu trabalhadores miseráveis, em profissionais bem remunerados, que trabalhavam menos horas, pelo que era adorado.

Owen em declarações públicas passou a atacar a religião, a propriedade e a família. "Uma força idealista subversiva". Então viajou aos Estados Unidos em 1824 na esperança de instituir por lá sua comunidade. Foi enganado por interessados e sócio desonestos e a despeito de seu idealismo as coisas não andaram bem. Comunidades owenistas surgiram. Mas, voltou em 1838 e morreu pobre em País de Gales.

O livro relata outros comunidades semelhantes nos Estados Unidos destacando-se a Comunidade de Oneida, havida no estado de Nova York que durou 30 anos (1847-1879), fundada por  Humphrey Noyes gerida por princípios coletivistas-socialistas. Do ponto de vista da procriação na comunidade, um grupo de administradores escolhia os casais que não poderiam se unir, para conseguir sempre crianças melhores. A comunidade foi se extinguindo à medida que Noyes foi envelhecendo, enfrentando críticas quanto aos métodos adotados e porque não havia um líder que o substituísse.

Socialismo utópico, mas expressivo nos seus ideais.

KARL MARX e FRIEDRICH ENGELS

Karl Marx era judeu, alemão, nascido em 1818 de uma família tradicionalista e religiosa. Ele escapou dessa influência, enveredou para a literatura desde jovem e estudou direito. 

Escreve artigos para jornais, busca a pesquisa ao mesmo tempo em que desvenda os filósofos alemães. E diria: "Até agora, os filósofos só fizeram interpretar o mundo de maneiras diferentes; cabe transformá-lo".

Karl Marx aos 25 anos se casou com a linda Jenny von Westphalen, quatro anos mais velha que ele de quem era apaixonado. Jenny ao lado dele e dos filhos, passaram as maiores privações, humilhações porque o marido não tinha aptidão para um trabalho regular, ganhava valores esporádicos com os artigos que escrevia.

Foi sustentado Engels amigo e parceiro inseparável quase sua vida toda.

Passou a estudar filosofia, principalmente o pensamento de Hegel além de se aprofundar nas teses socialistas desenvolveu conceitos que se projetariam no futuro. E nesse objetivo, com seus estudos e artigos e então sob a influência do amigo Engels 
conhecendo a miséria das classes trabalhadoras pensou uma revolução que desse a eles sua importância real, derrubando os capitalistas e a burguesia que dominavam os meios de produção e os oprimia com total indiferença.

O seu amigo e parceiro inseparável fora,

Friedrich Engels
, alemão, nascido em 1820, filho de industrial da indústria têxtil era entusiasmado pela literatura e a música, mas se deparara com a miséria absoluta dos trabalhadores explorados nas fábricas e que, na sua infelicidade, enveredavam para o alcoolismo. Não tinham, afinal, o direito à felicidade como proclamara Saint-Simon, com o desenvolvimento de suas faculdades?

Engels começara um romance com Mary Burns, uma operária da fábrica Ermen & Engels que fora promovida a manejar uma nova máquina automática de fiar. Ela recusou a oferta de Engels em sustentá-la para não mais trabalhar mas aceitou que ele a instalasse com a irmã numa casinha suburbana modesta.

Marx se aproximou de Engels após receber dele um artigo para publicação num jornal alemão no qual era este colaborador. Marx gostou do artigo.

A partir dai as ideias e os ideais de ambos se uniram num trabalho intenso pensando numa revolução que mudasse a vida dos trabalhadores.

Mas, Marx não era dado a trabalho fixo. Claro que ocasionalmente recebia compensações pelo que escrevia. Esse ócio profissional que não fosse a atividade intelectual, levou sua família e seus filhos em épocas frequentes à miséria absoluta, a ponto de serem penhoradas até roupas de Jenny e filhas.

Então, sem se preocupar muito como Engels poderia obter renda e ajudá-lo Marx o cobrava de modo constante que lhe enviasse recursos para sobrevivência dele próprio e de sua família.

Em artigos a serem escritos em inglês, idioma que Marx não dominava bem, quem os escreveu foi Engels, mas a remuneração foi recebida por seu amigo.

Nessa parceria sobretudo intelectual escreveram o "Manifesto comunista" divulgado em 1848 um documento que deu uma direção ao pensamento de Marx-Engels, com os seguintes princípios básicos da proposta, a "derrubada à força de toda a ordem social vigente":

1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto de renda fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo;
6. Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado;
7. Multiplicação das fábricas e meios de produção nas mãos do Estado, aproveitamento das terras incultas e melhoramento de terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos; organização de exércitos industriais, particularmente na agricultura;
9. Combinação de trabalho agrícola e industrial, de modo a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre cidade e campo;
10. Educação pública gratuita para todas as crianças, abolição de trabalho de menores e na indústria tal como é praticado atualmente. Combinação da educação com a produção material.

["Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar."] 

E então o mote: "proletários de todos os países, uni-vos".

Ate chegar ao "O Capital" de Marx, os parceiros do comunismo abriram debates em relação ao pensamento do filósofo Georg W. F. Hegel (alemão, nascido em 1818 e falecido em 1883) especialmente a dialética que significa o estabelecimento de fases de mudança do mundo. Em três fases: a tese - um processo de unificação; a antítese - um processo de negação da tese e a síntese - a conciliação da tese com a antítese.


Para a dupla Mark-Engels, então, a tese era a sociedade burguesa que mantinha uma mentalidade feudal desagregadora, a antítese, o proletariado que nascera com o desenvolvimento industrial aviltado por esse sistema e a síntese a sociedade comunista que resultaria do conflito entre a classe proprietária e patronais e os operários mas o controle passaria a ser da classe operária, harmonizando os interesses de toda a humanidade. 

Um outro conceito não bem resolvido por Marx-Engel se refere à "mais-valia", segundo a qual o operário vende sua capacidade de trabalho como qualquer outra mercadoria: e esse valor é mínimo o tanto para mantê-lo vivo, numa jornada de 6 horas, mas obrigado a trabalhar oito ou dez horas. Então o empresário "rouba" do trabalhador de 2 a 4 horas sendo essa margem o seu lucro, ou o que denominava "mais valia", tornando-o rico e arrogante.

Mas, qual a polêmica não resolvida? É que no preço de um produto pode conter outros elementos e não somente a "mais-valia". Essa equação não chegou a ser resolvida nem por Marx nem por Engels.

Sustentado por Engels, pode Marx concluir sua obra "O Capital" que influenciaria decisivamente os meios sociais e políticos no final do século XIX e XX com discussões chegando mesmo ao século XXI.

O que disse Mark ao concluir a obra que se constituíra numa "tarefa pela qual sacrifiquei minha saúde, minha felicidade e na vida e minha família" 

"O Capital" foi publicado na Alemanha em 1867 e depois se espalhou pela Europa. Na Rússia em 1872.

NOTA: na grande "aventura" socialista na qual se destacaram Marx e Engels, há outros atores importantes mencionados pelo autor Wilson contemporâneos dos parceiros comunistas a saber: Ferdinand Lassalle, precursor da social-democracia", autor de uma obra, "A Essência da Constituição", de 1862, ainda hoje estudada e Mikail Bakunin um grande defensor do anarquismo, isto é, um sociedade sem governo porque todo governo oprime a sociedade. 


E foi na Rússia que não demoraria muito teria o marxismo e efeitos políticos graves.

LENIN e TROTSKI

Lenin

Vladimir Ilyich Ulianov nascera em 1870, na Rússia. Tivera como pai um educador dedicado e sua mãe influenciava bastante os filhos. 

Naqueles tempos do império russo, no qual o czar detinha poderes absolutos não foram poucas as conspirações com o objetivo de assassiná-lo. Numa dessas conspirações descobertas a tempo de interrompê-la foi preso seu irmão Alexander que preparava explosivos para tornar eficaz o golpe. Fora ele enforcado.

Claro que a comoção na família foi grande inclusive para a mãe, Maria Aleksandrovna que por um mês estivera São Petersburgo visitando o filho.

Com a morte do irmão, coube a Vladimir dar apoio maior à família. Estudou direito em Kazan, teve dificuldades em obter a certificação pela 'fama' deixada por seu irmão, até que conseguisse o documento.

Sua mãe o afastou desse borborinho conspiratório, com medo de que Vladimir tivesse o mesmo fim de Alexander, Mas, ele não se adaptou na vida rural.

E Vladimir conheceu a obra de Mark, "O Capital".

Enquanto isso, e não pode ser deixado de lado um evento interessante patrocinado pelo famoso escritor Leo Tolstoi nessa época de ideias novas que eclodiam: o autor da obra "Guerra e Paz" tentara em 1880 se desapossar de suas propriedades e estabelecer uma forma de vida cristã, pela ausência de posses, não resistência, abstinência sexual e trabalho braçal.


Vladimir Ulianov avança nos estudos do marxismo, envolve-se com conspiradores, e "liberto", muda seu nome para Vladimir Lenin.

Torna-se líder influente e respeitado, lidera greves, participa de convenções e movimentos conspiratórios contra a czar, um imperador que se valia da truculência para coibir atos contra seu poder absoluto. 

Lenin é preso por essa atuação política, na celas da Sibéria. Casado com Nadejda Krupskaya, mudam-se para Genebra.

Trotski

Lev Davidovitch Bronstein, russo, judeu, nascera em 1879, filho de um agricultor que, pelos seus próprios esforços enriquecera.

Emocionara-se com as dificuldades enfrentadas pelos camponeses na sua luta pela sobrevivência. Chorara quando viu o desespero de um camponês implorando pela devolução de uma vaca que invadira a propriedade de seu pai que relutava em devolvê-la.

Rejeita o marxismo porque significaria tirar a liberdade individual das pessoas. Seguindo a ideologia do populismo, pela sua eloquência é posto em confronto com Aleksandra Lvonvna, quatro anos mais velha que ele, marxista.

Argumento de Lev: "Não consigo entender como uma moça tão cheia de vida pode aguentar aquela coisa árida e teórica". Argumento dela: " Eu não consigo entender como uma pessoa que se considera tão lógica se contenta em andar por aí com a cabeça cheia de vagas emoções idealistas". Porque o conceito de populismo é vago.

Mas, Lev, mais tarde por tentar organizar trabalhadores, distribuindo panfletos proibidos, foi preso, permanecendo três meses numa solitária imunda e fria e depois de dois anos libertado teve que cumprir ainda pena de exílio por mais quatro anos.

Mas, no período de ida à Sibéria ouviu falar de Lenin  e leu sua obra "O desenvolvimento do capitalismo na Rússia". Já na Sibéria leu "O Capital" e se tornou marxista convicto.

Quando deixou a prisão, agora com sua companheira Alexsandra e aconselhado por ela, resolveu fugir e em 1902 no passaporte falso que amigos lhe apresentaram, ao o preencher usou o primeiro nome que lhe ocorreu: Trotski - o nome do carcereiro da prisão de Odessa.

E, então, mais a frente, aliou-se a Lenin de quem recebeu elogios. Estavam em Londres, Lenin o leva a passeio pela cidade. Ao se deparar com à abadia de Westminster diz: "Essa é a famosa abadia de Westmeister deles" (*)


Lenin e outros exilados em 1917 após a notícia da queda do czar resolveram em abril voltar à Rússia. Da Suiça chegaram de trem à Suécia e de lá chegaram à Estação Finlândia de Petersburgo na Rússia em abril de 1917.

Antes, em março após revoltas e greves, recrutas se unindo aos grevistas deu-se a deposição do czar Nicolau II. Em outubro com Lenin já no poder foi destituído o Governo Provisório constituído após a deposição do czar.

Não é atribuído a Lenin o fuzilamento de toda a família Romanov (do czar Nicolau II) que se deu em julho de 1918.

Lenin, em outubro de 1917 depois de voltar da Finlândia onde se refugiou para escapar de acusações de adversários de que seria um "agente alemão",  implantou o regime comunista, com distribuição de terras aos camponeses, nacionalizou bancos e empresas. Governou a Rússia e depois a União Soviética (constituída em 1922) de 1917 a 1924 quando faleceu.

[O "castigo" é que seu cadáver, embalsamado, até hoje não foi sepultado, permanecendo exposto num mausoléu em Moscou.]

Na disputa pelo poder entre Trotski e Stalin, venceu a proposição deste que defendia, entre outros princípios, que o socialismo deveria se fixar na União Soviética enquanto Trotski defendia que o socialismo deveria se expandir pelo mundo. Há outros elementos que resolveram essa discussão entre ambos.

Com o poder nas mãos de Stalin, foi estabelecido o partido único, não sendo aceita a oposição. Um regime de terror e assassínio que  fez milhões de vítimas em nome do regime. Seu governo perdurou até 1953.

Repetindo Anatole France: embora socialista, revelou em suas obras que "tinha como único objetivo mostrar que as revoluções terminam gerando tiranias pelo menos tão opressoras quando aquelas que visaram derrotar". 

Trotski foi expulso da União Soviética em 1929. Depois de exilar-se em outros países, fixou-se no México, sendo assassinado em  1940. (**)


APÊNDICE

Leão XIII e a Encíclica "Rerum Novarum" (alguns aspectos em relação ao tema)

Com a explosão dessas ideias na Europa, reafirmadas em inúmeros congressos operários, como uma resposta ao comunismo proposto por Mark e Engels, em 15 de maio de 1891, o papa Leão XIII, difundiu a Carta Encíclica “Rerum Novarum”(Condição dos Operários).

Nesse documento, o papa refutava com veemência as teses comunistas, além de explanar com clareza todas as questões que então preocupavam: a propriedade privada, a questão social, as condições subumanas de trabalho, a longa jornada diária, a greve, os salários, o conflito entre o capital e o trabalho, etc. 

Como se constata nestes trechos:

"A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular”.

O papa Leão XIII preconizava por uma jornada de trabalho compatível com a dignidade do homem, pois “não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo”. 

Recomendava ainda jornada mais curta para os que trabalhavam na extração de pedra, ferro, chumbo e “outros materiais escondidos debaixo da terra”.

O salário deveria ser suficiente “para acorrer com o desafogo às suas necessidades e às necessidades da sua família” e, “se for avisado, seguirá o conselho que parece dar-lhe a própria natureza: aplicar-se-á a ser parcimonioso e obrará de forma que com prudentes economias, vá juntando um pequeno pecúlio, que lhe permita chegar um dia a adquirir modesto patrimônio”. Pois, “a terra produzirá tudo em maior abundância pois o homem é assim feito: o pensamento de que trabalha em terreno que é seu redobra o seu ardor e sua aplicação”.

Incentivo ao entendimento entre operários e patrões: 

“Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem inclusivamente a acordar na cifra do salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado”.

As associações operárias deveriam ser livre e prudentemente organizadas ponderando: “se, pois, como é certo, os cidadãos são livres para se associarem, devem sê-lo igualmente para se dotarem com os estatutos e regulamentos que lhes pareçam mais apropriados ao fim que visam”. E mais adiante: “É necessário ainda prover de modo especial a que em nenhum tempo falte trabalho ao operário; e que haja um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial mas ainda à doença, à velhice e aos reveses da fortuna”.

Quanto à greve, o papa Leão XIII a entendia danosa aos interesses comuns, propondo ao Estado, como remédio mais eficaz e salutar “para prevenir o mal”,(...) “a autoridade das leis (...), removendo a tempo as causas de que se prevê que hão de nascer os conflitos entre os operários e patrões”. 

Propunha o papa para aqueles “embebidos de máximas falsas e desejosos de novidades”, que “procuram a todo custo excitar e impelir os outros à violência”, devem ser refreados pelo Estado que, “reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu.”


MORAL DA HISTÓRIA

1. O surgimento do socialismo nasceu da tragédia operária nos séculos XVIII ao XX. Trabalhadores explorados, vivendo miseravelmente, sem assistência, sem condições mínimas de higiene. 

Todos os apontamentos nos rumos do socialismo culminando com o comunismo de Marx-Engels tem esse fio condutor, qual seja a de dar à época, o poder e a dignidade ao operário, com ideais de igualdade;

2. O comunismo / socialismo é até hoje invocado e preocupa porque há legiões de esfomeados, vivendo em condições precárias, inimagináveis, sem saneamento mínimo, sem vida digna. Os "sem vida" não têm nada a perder dai a aceitação do discurso próprio dessas ideologias à esquerda ou radicais;

3. Para mim, todavia, o comunismo como praticado, foi um fracasso. Com efeito, na União Soviética um ditador assassino, para manter-se no poder executou milhões de opositores ou apenas suspeitos. A Rússia hoje é um misto de república mas ainda com a cultura da manutenção no poder de presidente "eleito" mas que, pelos meios legais oficiais, vai se mantendo no comando, talvez, até o fim da vida, como se deu com Stalin. Putin está no poder desde 1999.

4. A China nos primeiros anos da década de 80, anunciou que se abriria para o mundo...capitalista. Hoje é uma potência econômica, faz sombra aos Estados Unidos, tornou-se uma referência tecnológica, mas parece que aqueles nichos de população perdidos no seu imenso território tem uma vida meio bárbara, pelo fome que passaram nos tempos de Mao Tse-Tung pelos alimentos que consomem. No que se transformará a China seguindo nessa marcha semi-capitalista? Não otimista, pode ser uma ameaça imperialista no futuro não tão distante. E, então, como se comportará?

5. A Coreia do Norte tem um povo infeliz que é obrigado a rir ou a chorar segundo o ânimo do seu ditador. Uma ditadura fechada que assim se mantém até pelo apoio e proteção chinesa.

Cuba perdeu aquele influxo comunista. Os cubanos fugitivos em Miami não pensam em voltar à pátria. Os poder cubano continua culpando o embargo americano para de certa maneira justificar sua decadência material;

6. Urge, principalmente no Brasil, resolver as tantas dificuldades de milhares de cidadãos que sobrevivem sem um minimo de recursos que lhe deem dignidade, negando a felicidade de viver. Ao propor tais medidas, não significa que se envereda pelos princípios do comunismo, mas de Humanidade.

7. Filosofando, espiritualmente ou não, não vejo muito possibilidade para a vida igualitária neste planeta, porque é o planeta das desigualdades e das penitências que tende a entra em crises profundas com o aumento maior da população e com a devastação ambiental. Não é aqui que atingiremos a Civilização mas temos ainda que por caridade menor o sofrimento de quem sofre.

Referências (*)

(*) No Brasil governado pelo Partido dos Trabalhadores, os políticos desse partido, ao se referirem aos adversários, diziam "eles", algo assim "nós" e "eles" separados no mesmo território. O modo de separar as ideologias, como se vê, vem de longe.

(**) Um filme de 1972, "O assassinato de Trotsky" dirigido por Joseph Losey, com Richard Burton ("Trotski"), Alain Delon (Ramon Mercader, espanhol, assassino de Trostski) e Romy Scheneider (amante do assassino), na sua introdução, informa que o enredo tenta mostrar a verdade dos fatos ocorridos no tempo em que o líder comunista estava exilado no México com sua companheira Aleksandra Lvonvna. O assassinato se deu em 21 de agosto de 1940.

O assassino foi apresentado claramente com distúrbios de personalidade, com timbres de homossexualidade e histérico. Quando é interrogado "quem era ele" apenas disse: "eu matei Trotski". A arma utilizada foi uma picareta de alpinista, um golpe na cabeça. Trotski resistiu ao grave ferimento, foi hospitalizado, mas faleceu. 

Historiadores informam que a ordem de assassinato partir de Stalin. O assassino seria um espião de ditador russo, espanhol, mas o filme deixa no ar se a ordem partiu mesmo de Stalin. Bom filme. 

Acessar: https://youtu.be/OLK6C6ekS-8




















































sexta-feira, 17 de abril de 2020

CRIANÇAS DE GROZNI de Åsne Seierstad

  [Um retrato dos órfãos da Tchechênia]

LIVRO 70























Grozni é a capital da Chechênia.

Sim da Chechênia um estado que faz parte da Federação Russa. 
Ora, um região tão distante. Qual o interesse?

Mas, o livro de Åsne Seierstad embora possa ter alguns páginas além do necessário (são mais de 400 páginas), houve momentos  bastante interessante porque, sobretudo, revela costumes muçulmanos moderados da Chechênia e dos próprios russos que se expostos durante conflitos sangrentos.


A Autora muito jovem, nascida no ano de 1970 com poucos mais de 20 anos, se embrenhou naquela região de conflitos, tragédias e ódios como jornalista, correspondente de guerra


Ela é autora da obra "O Livreiro de Cabul" livro que se tornou um best-seller até porque o indigitado livreiro contestou seu relato. (*) 

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3CyFYlXMaEjEPSRkiCzLbRrLWsCbAOR_aEtcA03MyiRWG5tTQo5DwoJXsnaBuM1R2Ky0iIQfKzqN2QiVFoadkBq_bRdiSmpPNW3CES0h8ZS_XBF2Qxb107mIB8aYrYcvjjvwtnEhTpFBO/s320/Chechenia+1.jpg 

O povo da Chechênia durante a 2ª Guerra mundial, em 1944 foi acusado de estar aliado aos nazistas (chamados de fascistas no livro). Por essa desconfiança,  1/3 de sua população, por ordem de Stalin, coordenado pelo "carrasco" Beria foi deportado para a Sibéria em condições degradantes.

Somente em 1956, com a ascensão de Nikita Kruschev é que os sobreviventes puderam retornar à "pátria".

A Rússia em 1994 decidiu invadir a Chechênia que declarara sua independência 3 anos antes.

A invasão no geral foi um desastre, uma fragorosa derrota do exército russo surpreendido pelas forças chechenas muito além do esperado, que usaram granadas atiradas do alto dos prédios, incendiando os tanques russos. À fuga os soldados russos foram massacrados.


É que segundo revelado por altas fontes militares, o comandante russo Gratchov (Boris Ieltsin estava internado) teria resolvido atacar Grosni, a capital, por um capricho, após uma bebedeira.


Esse desastre humilhante foi transmitido pela televisão russa.


Em 1996 foi assinada a paz entre a Rússia e a Chechênia. Do ponto de vista político, a Chechênia tornara-se independente.

Mas, a paz fora relativa, porque ataques russos desde 1999 em solo checheno, revidavam escaramuças chechenas. O governo não conseguia controlar seus radicais. Mas, a Autora não diz isso.

Na sequência, violências extremas se deram por atos terroristas radicais chechenos, geralmente muçulmanos.

Em 2002, na invasão terrorista de um teatro nas imediações de Moscou, resultou em 200 vítimas. Um outro, mais grave, em 2004, ao invadir uma escola em Beslan com 1000 alunos (crianças), os terroristas executaram 314 pessoas a maioria crianças e ferindo cerca de 700 outras.

Já sob o poder de Vladmir Putin, nomeado que fora por Ieltsin, o conflito assumiu grandes proporções com milhares de vítimas de lado a lado e a capital Grozni destruída pelos russos e, nos seus escombros, as tragédias e o ódio mútuo entre os contendores.

O livro de Seierstad foi escrito em 2007. Ela revela que por ordem de Putin dera-se a reconstrução da Grozni e da Chechênia, a ponto de membros ligados à cúpula do governo checheno ou meros servidores o terem em boa conta, porque além das melhorias que patrocinava, houvera a paz relativa com governo nomeado e subordinado a Moscou. Desde então, 2007 até agora, a Chechênia e governada por Ramzan Kadyrov que a Autora entrevistou cujo teor da entrevista consta do livro.


Não vou a detalhes da obra com transcrições porque as advertências na edição, as impedem expressamente.

A Autora esteve pelos idos da primeira guerra Rússia-Chechênia em 1994/1996 viajando pelos dois países. Voltou depois em 2006 quando colheu mais informações e relatos das pessoas diretamente influenciadas pelos conflitos, convivendo com elas por algum tempo. 

Esse o "caldo de cultura" da obra da Autora norueguesa.


Para viajar à Rússia e à Chechênia, muitas vezes a Autora, clandestinamente, alojou-se em modestas casas de ex-insurgentes, daquelas vítimas irrecuperáveis física e moralmente, ou que perderam membros da família, sofreram prisões ilegais e sem causa vivendo com elas todas as angústias do ódio e da reparação impossível. Essas experiências humanas colhidas tinham por objetivo constituir um quadro para o livro.


Mas, e as crianças de Grozni?


Um relato emocionado dos atos de caridade incondicional do casal Hadizat e Malik que atenderam a pedido da nova "administração de paz" da cidade, receberam algumas crianças que dormiam nas ruas porque perderam os pais, os parentes e não tinham onde ficar. Com o tempo, com a ajuda das autoridades locais, ganhando dois apartamentos para tanto, cuidavam de 50 crianças incondicionalmente.


Hadizat e Malik foram apelidados de os anjos de Grozni!


Mas, é relatada a tragédia dos irmãos Timur e Liana que perderam os pais durante a guerra que a Autora parece estabelecer como uma média dos efeitos danosos sobre muitas dessas crianças.


Timur e Liana foram viver com um tio, um sujeito alcoólatra que chicoteava a ambos para que obtivessem algum dinheiro, diariamente. Liana fora violentada sem parar por esse tio.


Timur antes de chegar à casa de Hadizat era malvado, matava cachorros a pedradas e Liana por todos os traumas pouco conseguia aprender na escola. Ela roubava tudo o que podia da casa, trazendo muitos transtornos e desgostos a Hadizat que não a punira nunca severamente. 


Liana dizia que não conseguia parar de roubar. Timur, seu irmão, que prometia, um dia, matar o tio violento, deixara de a considerar sua irmã por causa desses roubos constantes.


Mas, Liana entregando a Autora um bilhete, pediu desculpas emocionadas à mamãe Hadizat que muito fazia por ela.


MORAL DA HISTÓRIA


Pelo que eu saiba aquele ódio pós guerras, depois de mais de um década pode ter arrefecido.


Mas, é justo perguntar: como estarão todas aquelas crianças que se assustavam, não dormiam ao ouvir os motores de um avião, de uma explosão, de se deparar com soldados fardados? Que faziam xixi na cama de medo? 


Como estarão hoje? Sobreviveram a esses traumas?


Nas guerras, as crianças são sempre as maiores vítimas. Uma frase padrão para essas tragédias.


Ah, sim, no geral gostei do livro.


(*) Acessar: O Livreiro de Cabul

sexta-feira, 20 de março de 2020

AUTOBIOGRAFIA DE UM IOGUE de Paramahansa Yogananda

LIVRO 69




















 
É no livro de Yoganada que todos os conceitos da meditação profunda, de manifestações místicas e milagres se sobressaem.(*)

Bom que se diga que, a despeito de suas próprias escrituras, principalmente o Bhagavad Gita, não poucas vezes Jesus foi citado por Yogananda, os evangelhos estudados, ora para afirmar seus ensinamentos, ora para comparar com as figuras crísticas de monges iogues, um deles seu guru.

Nesse livro, Yogananda não se refere Jesus como instruído nos ensinamentos indus, embora haja elementos para informar que a prática iogue poderia existir há mais de 2000 anos.

Os milagres praticados por esse iogues eram resultado da estreita intimidade com Deus, mercê da meditação profunda, da vida celibatária - embora um dos principais monges fora casado e trabalhara em serviços burocráticos antes - mas sobretudo pela fé inabalável na Divindade e na sua busca.

Para melhor entendimento dessa fé, dos milagres realizados por esses monges, de cura, de "dupla materialização" de seus corpos físicos se apresentando em locais distintos ao mesmo tempo, ressurreição como se se manifestou Sri Yukteswuar guru de Yogananda,  e tantos outros, transcrevo a passagem do Evangelho de Mateus um "exemplo" significativo tanto no que se refere ao milagre da fé, como nas consequências de sua desconfiança (14:22):

22. E logo ordenou Jesus que os seus discípulos entrassem no barco e fossem adiante para a outra banda, enquanto despedia a multidão,
23. E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar à parte. E, chegada já a tarde estava ali só.
24, E o barco estava já no meio do mar açoitado pelas ondas, porque o vento era contrário;
25. Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, caminhando por cima do mar.
26. E os discípulos. vendo-o caminhar sobre o mar, assustaram-se, dizendo. É um fantasma. E gritaram com medo.
27. Jesus, porém, lhes falou logo dizendo. Tende bom ânimo, sou eu, não temais.
28. E respondeu-lhe Pedro e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas.
29. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus.
30. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e,começando a ir para o fundo, chamou, dizendo: Senhor, salva-me,
31. E logo Jesus, estendendo a mão , segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
32.  E, quando subiram para o barco, acalmou o vento.

Nessa passagem, então, se constata o milagre e a pouca ou nenhuma fé de Pedro. O trecho diz tudo.


Pois o livro de Yogananda é tudo de fé, convivência com seres humanos santos, milagres, pureza extrema e vida simples. Yogananda no seu dia a dia, nas suas aspirações nunca duvidava do que desejava. E obtinha as graças pensadas.

Quem são os principais gurus que influenciaram sua vida e sua ida mais tarde da Índia para os Estados Unidos?

São eles: o grande iogue e mestre Babaji, monge que vivia havia séculos (imortal), habitava algum ponto do Himalaia, que foi guru de Lahiri Mahasaya a quem Babaji ressaltou o fato de ter sido ele casado e pai de família, mas que não seria impedimento em buscar a intimidade com Deus. Lahiri Mahasaya fora guru de Sri Yukteswuar e este guru de Yogananda,

E é a partir desses personagens reais, mas não só, que se desenvolve a autobiografia, um livro de mais de 600 páginas admirável, sincero e, mais, sem medo de revelar realizações espirituais (milagres) por seus gurus e outros que considerava santos, sem qualquer reserva.

Diria que para o ateu esse livro pode significar um impacto a essa negação às divindades porque suas páginas são de inspiração mística, de eloquência na simplicidade.

Por escolha do guru Babaji, fora Yogananda designado para mudar-se para os Estados Unidos para levar os ensinamentos orientais àquele pais sem perder a oportunidade do próprio aprendizado convivendo com os americanos.

Na Índia ele se tornou educador fundando escolas nas quais a yoga sempre esteve presente. Nos Estados Unidos e mesmo em seu país proferiu dezenas de conferências, palestras e aulas.

Tornou-se importante nos dois países. Pelo amor dedicado aos americanos que aos milhares se aproximaram de sua filosofia e na Índia por revelar sua cultura milenar aos ocidentais.

Sempre que chegava ao seu conhecimento Yogananda procurava conhecer aqueles pessoas que tinham atributos santificados. Então visitou Tereza Neumann, a estigmatizada católica, que atacada pelos ferimentos de Cristo crucificado e surgiam as feridas na cabeça e nos membros aos quais houvera a agressão da crucificação. Yogananda informa que pôde ver o que se passava com ela, transferindo ao seu corpo todo o sofrimento de Cristo na cruz. 

Também já na Índia visitou a "Mãe impregnada de alegria" (Ananda Moyi Ma) que na sua espontaneidade de criança teria profunda ligação com Deus. 

E visitou, também a mulher Iogue que não se alimentava desde os 12 anos, condição obtida com muita oração ao ser desprezada por sua sogra por comer muito quando jovem. Gira Bala se alimentaria, apenas do éter, do sol e do ar.


Paramahansa Yogananda desde muito jovem decidiu que renunciaria à vida material, dedicando-se à vida simples e espiritual. Ansiou muito por um guru que o encontrou, Sri Yukteswuar de quem recebeu muitas lições, algumas com rispidez mas nunca perdendo o objetivo de levar o discípulo à intimidade com Deus. Como me referi, foi escolhido pelo Mestre imortal Babaji para mudar-se para os Estados Unidos para transmitir os conhecimentos indus naquele grande país e o fez com muito brilhantismo, fundando em 1920, com apenas 27 anos, a Self-Realization Fellowship que obteve milhares de adeptos na busca da verdade (Deus) pela meditação da Kriaya Yoga. A SRF existe até hoje.

Essa entidade é a editora do próprio livro de Yogananda.

Todo o relato inspirador do Autor se dá entre a década de 20 até o início da década de 50.

Seu nascimento deu-se em 05.01.1893. Morreu jovem, aos 59 anos de idade em 7.03.1952, logo após discursar num banquete em homenagem ao embaixador da Índia nos Estados Unidos.

Hoje, não busquei informações da aparição de santos iogues da envergadura daqueles que Yogananda conheceu e amou.
Mas, muita coisa mudou na Índia. População de mais de 1 bilhão de habitantes. Graves problemas de saneamento. O rio Ganges, sagrado, é um dos mais poluídos do mundo.

Por onde andarão aqueles seus luminares?


Se me for permitido comparar os santos crísticos iogues gurus de Yogananda com Jesus Cristo, parece que este foi muito mais atuante, no meio de povo que o seguia admirado pelos seus inumeráveis milagres de cura, em criticar abertamente os fariseus e, por fim, seu sacrifício em deixar uma mensagem do antes Dele e depois Dele. Não parece que os pecados de todos foram salvos na cruz, salvo a dos seus apóstolos a quem receberam poderes divinos, mas exposta uma nova fórmula de vida especialmente do perdão e da caridade, até hoje tão carente. Os pecados, as guerras e as agressões aí estão vistos a "olho nu", pequenos e grandes pecados.

Pelo seu poder de meditação, relata Yogananda sua disposições em bem interpretar e entender os Evangelhos do Novo Testamento, em  oração silenciosa pediu a Jesus que o permitisse entender passagens de difícil compreensão nos relatos dos evangelistas.

Num dado momento sua sala de meditação se ilumina e Jesus chega até ele num "azul opalescente" e todo o esplendor de seu rosto jovem, seu olhar glorioso, diz Yogananda, "senti o poder que sustenta miríades de mundos".

Yoganada, na sua trajetória conviveu com inúmeras personalidades. 

Os editores da obra parecem não aceitar muito transcrições de trechos do livro. Mas, Yogananda visitou Mahatma (Grande Alma) Gandhi, um politico-místico que a Índia deve tanto e que venceu pregando a não-violência vivendo na absoluta simplicidade contribuiu decisivamente para a obtenção da independência de seu país em 1947, convencendo os dominadores ingleses, por vezes truculentos. Foi assassinado em 30 de janeiro de 1948 por um "desvairado".

Fiquei emocionado com o que disse Gandhi sobre uma simples vaca:

- Para mim a vaca representa todo o mundo infra-humano: ela amplia a solidariedade do homem para além de sua própria espécie. Por meio da vaca, o homem é impelido a perceber sua identidade com tudo o que vive. (,,,) A vaca na Índia era a melhor comparação: ela é que trazia a abundância. Não só dava leite mas possibilitava a agricultura. A vaca é um poema de compaixão; lê-se piedade neste manso animal. Ela é a segunda mãe de milhões de seres humanos. Proteger a vaca significa proteger toda a muda criação de Deus." (***)

Yogananda visitava frequentemente o americano Luther Burbank, "um santo entre as rosas" a quem qualificava de horticultor, um cientista que fazia experiências positivas com plantas e até conversava com elas: "Além do conhecimento científico, o segredo para melhorar o cultivo das plantas é o amor".

[Nestes tempos de devastação ambiental, é sempre bom lembrar que, no simbolismo do Gênesis, o "verde" foi criado antes dos animais e do homem. Gesto de amor do Criador].

Há muito a aprender na "Autobriografia", mas vou, ainda, me referir ao karma que significa o cumprimento da lei da causa e efeito. O karma é uma espécie de grilhão que impede o ser humano de atingir a divindade, se não reencarnando muitas e muitas vezes pelos séculos até atingir um grau de santificação e possa habitar outros reinos, superiores.

A Terra é um planeta de diferenças e penitências. Por vezes os castigos são tão cruéis, tragédias coletivas tão difíceis de aceitar considerando que há Deus cuidando do Universo e de todos. 

Mas, essas são as penitências que  advertem severamente que o mundo das divindades não é este. Mas, há que se reconhecer que convivam lado a lado almas de elevado nível espiritual e de baixo vigor mental.

Além das penitência, este é o planeta do trabalho, das aspirações realizadas ou não. As não realizadas ficariam pendentes nesta passagem pela vida tanto quanto e os pecados praticados. As aspirações pendentes seriam realizadas em futuras reencarnações como os pecados não purgados na vida presente.

Este planeta de lutas "de causa e efeito" me parece, pode ser confirmado num dos livros de Yogananda, "A lei do sucesso" -  que não li - mas ele trata do tema das aspirações com esta explicação resumida:

"Este livro explica os princípios dinâmicos para que a pessoa alcance as metas que tenha na vida e esboça as leis universais que produzem as realizações e o êxito, em termos pessoais, profissionais e espirituais."

Afinal de contas, nisso tudo não é criado o karma bom, nesses desejos e lutas realizados e não realizados?

Essas indagações são minhas mas claro que pelo que li no livro de Yoganada, admirável.

Tenho a impressão que um exemplo de remissão do karma (ou carma) se dá nos Evangelhos de Marcos 02.05.11.12. O karma é a lei da causa e efeito, tudo volta seja o que de bem seja o que de mal tenhamos praticado:

5. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico. Filho, perdoados estão os teus pecados.
(...)
11. A ti te digo. Levanta-te, toma o teu leito, e vai para casa.
12. E levantou-se, e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.


O perdão do pecado por Jesus, resultou, então, na remissão do carma, mas essa lei continua vigente constituindo-se um dos mistérios irrespondíveis

Com esses mistérios todos que eclodem, que nos desafiam ao olhar uma noite estrelado, a Lua brilhante ou mesmo no dia a dia se se prestar atenção, encerro com esta frase contida no livro:
 ´
"Os mistérios últimos de Deus não se acham "abertos ao debate". A decifração de Seu código secreto é uma arte que o homem não pode comunicar a outro homem; aqui, só o Senhor é o Mestre". 










O riso sereno de Yogananda momentos antes de sua morte.

REFERÊNCIAS

(*) Livros que podem ter relação filosófica com o Livro "Autobiografia de um Iogue":

 "Mistérios e Magias do Tibete" de Chiang Sing. Acessar: 
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/07/misterios-e-magias-do-tibete-de-chiang.html

"A Vida Mística de Jesus" de H. Spencer Lewis. Acessar:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/04/a-vida-mistica-de-jesus-de-h-spencer.html

(**) Crônica "A vaca e o bezerro sedentos"
Acessar:
https://martinsmilton.blogspot.com/2009/03/renuncia-carne-animais-brutalizados.html