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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O RETRATO DE DORIAN GRAY de Oscar Wilde

LIVRO Nº 66




















"O retrato de Dorian Grey" foi escrito em 1890/1891.

O nome completo do seu Autor, irlandês, que viveu de 1854 a 1900: Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde.

Considerado um poeta e escritor genial, mesmo com poucos recursos, frequentou a alta sociedade inglesa. Viajou para os Estados Unidos, para a França num período de sucesso de suas obras, embora algumas sem êxito.

Preso por homossexualidade em 25 de janeiro maio de 1895 pelas suas relações com um "belo jovem", Alfred Douglas (Bosie), este homossexual assumido, provocando ataques de seu pai a Wilde que por causa disso o processou por difamação. O processo não fora desfavorável ao escritor resultando em sua prisão por sodomia. 

Seus livros foram retirados da prateleiras, suas peças do mesmo modo e ele caiu no ostracismo. 

Ao sair da prisão em 19 de maio de 1897 foi morar na França, continuou escrevendo, voltou por um tempo a se relacionar com Bosie até que, em 1900 dores de cabeça se tornaram insuportáveis. 

Operado do ouvido, uma melhora momentânea  até que em  30 de novembro, entrou em coma e faleceu, "mas seu último desejo havia sido atendido: ser recebido na Igreja Católica Romana".



“O Retrato de Dorian Gray” teria por inspiração a lenda do alemão Johann George Faust (data imprecisa do nascimento e morte 1480/1540) médico, mago e alquimista que se desiludira com os conhecimentos de sua época. Fizera, então, um pacto com diabo para se superar no conhecimento e não envelhecer.

Eu nada li sobre "Fausto", essas são informações de fácil manejo na internet, mas um dia pretendo desvendar lendo alguma obra sobre ele.

O conhecimento era realmente difícil naqueles idos. Basta conhecer um pouco a história de Leonardo da Vinci, na Itália, contemporâneo de Faust (Fausto), alemão, para que se constate como buscou ele (Leonardo) o conhecimento quebrando paradigmas no seu tempo com suas experiências e pesquisas além de quadros que pertencem à humanidade como é, entre outros, Mona Lisa. E sem pacto com o demo...




Dorian Gray era um jovem de beleza "sublime", "incomum", "apaixonante", esses podem ser os qualificativos dados por Wilde ao seu personagem.

E por essa beleza, servia ele de modelo, posando para o pintor Basílio Hallaward que se apaixonara por Gray e sua beleza.

O quadro pintado fora a obra prima de Basílio.

Esse quadro perfeito fora dado a Dorian Gray.

Mas, com a presença de Lord Henry Wotton [seria o alter-ego do Autor?], amigo de Basílio, num dado momento começou uma discussão sobre a velhice período em que todas as belezas físicas desvanecem.

Uma frase de Henry, bem a propósito: 

- Para se voltar à juventude, basta repetir as suas loucuras." 

Esse perspectiva da idade que avança e suas consequências físicas, passou a preocupar o jovem Dorian Gray que invoca o desejo de permanecer sempre jovem.

Todos pertencentes à elite londrina, levam uma vida de faustosa, entre jantares, reuniões e teatros. E Grey com períodos colecionando futilidades.

Mas, algum tempo depois, sempre ouvindo as considerações de Lord Henry, Gray sai em busca de "aventuras" e se dirige à periferia de Londres.

Para na frente dum pequeno teatro onde a peça interpretada era "Romeu e Julieta".

Resolveu entrar e assistir pelo menos o primeiro ato.

E então se depara com a Julieta, a "criatura mais adorável que eu jamais tinha visto em minha vida".

Era a jovem Sybil Vane, menina de dezessete anos. 

Ele se apaixona por ela que também por ele se apaixona e Grey fala até em casamento.

O irmão de Sybil, James Vane se preocupa com a paixão da irmã e promete sérias intervenções se fosse ela magoada pelo seu "príncipe encantador".

Mas, a paixão que se assenhoreou de Sybil a fez interpretar muito mal a mesma peça num outro dia, tendo na plateia Basílio e Henry convidados de Grey. Ela fora apupada pela plateia. Sua decepção foi tão grande que resolve interromper seu romance com ela.

Sybil desesperada, perdida na paixão, estirada no chão, lhe pede perdão.

Mas, ele se afasta. Ao chegar em casa, se depara com o seu quadro e constata que a expressão de seu rosto estava diferente. "Parecia haver um laivo de crueldade em sua boca. Era realmente estranho."

Que relação poderia haver entre a pintura e sua alma? Como se dera aquela mudança no quadro.

Pensou em voltar para Sybil, pedir-lhe perdão. Acordara muito tarde. Não houvera tempo. 

Pelo desgosto a jovem se suicidara. Dorian Grey se desespera mas a tragédia estava consumada.

Seguindo com a sua culpa as transformações no retrato assumira contornos animalescos. Então, ele esconde o quadro.

Passou-se o tempo e Dorian Gray passa a ser evitado por muitos membro da elite londrina, com fama de levar vida devassa, não detalhando a obra quais seriam os seus atos para tanto, apenas insinuações, mas ele frequentava lugares sórdidos buscando doses de ópio.

Um dia Basílio Hallaward o visita de surpresa expondo ao seu antigo modelo tudo o que de ruim dele se falava. Pede para ver o quadro. Ao contrário do que prometera, agora pretendia expô-lo num exposição em Paris. 
À negativa terminante de Grey, ele explica, por fim, que não poderia realmente expô-lo publicamente porque notara algo estranho na pintura que fizera e concluiu:

- Como disse Harry certa vez, você foi feito para ser adorado.

A personalidade de Dorian Grey afetava a personalidade do pintor. Basílio demonstra ciúmes em relação a Henry...

Tempos depois, bem tarde da noite, Basílio, na rua encontra Grey. Informa que passaria uns seis meses em Paris.

Rumam para a casa de Grey. Basílio volta a questionar Grey sobre relatos perversos que circulavam sobre ele.

Pede para ver o quadro. Grey finalmente permite que o pintor veja sua obra constatando então que se apresentava não aquele retrato de rosto perfeito, mas uma figura demoníaca.

Disse Grey que era o retrato de sua alma.

Basílio fala em fazerem oração em busca do perdão.

E, então, voltado-se Dorian Grey para o quadro num acesso de ódio esfaqueia o pintor mortalmente.

O pintor não fora visto entrando na casa de Grey e ficaria por cerca de 6 meses em Paris. Até ser descoberto o seu desaparecimento e o porquê, ninguém desconfiaria de Grey. 

Num episódio meio inexplicado, Grey chama e Alan Campbell, seu amigo de outrora que então o repudiava, químico experiente é chantageando, não sendo esclarecida qual a chantagem, obrigando-o a diluir o corpo do pintor com produtos químicos naquele sótão local no mínimo inapropriado. 

Depois de cinco horas, o corpo havia desaparecido. Naquele aposento, o cheiro insuportável de ácido nítrico.

Tempos depois, Campbell se suicidaria mas nada com esse trabalho sórdido que fora obrigado a praticar para salvar Dorian Grey da forca.

James Vane, por duas vezes tentou se vingar da morte da irmã Sybil. Da primeira vez escapara porque da morte da jovem haviam se passado 18 anos e ele Grey era ainda "muito jovem" para ser o culpado. James foi informado do erro que cometera pela aparência de Grey. 

Tempos depois, numa caçada, um companheiro de Grey atira em direção a um moita tentando atingir um coelho, mas acerta um homem escondido, exatamente James Vane que o espreitava ante de o atacar.

Dorian Grey exultou com a morte de James, porque dele se livrara sem culpa. 

O final da história, um "grito horrendo" após golpear com a mesma faca o retrato foi Grey encontrado estendido no chão, com a faca enterrada no seu coração. Era velho e cheio de rugas e "seu rosto causava repugnância".

E o quadro o apresentava com aquela beleza deslumbrante de sua juventude.


MORAL DA HISTÓRIA

Aquele "instante maldito" que o levara  "a implorar que o retrato suportasse o peso de seus dias" conservando imaculada a "eterna juventude" tem muito a ver com os recursos cosméticos e cirúrgicos, de preservar a juventude nos dias de hoje.

O tempo é inexorável. Com toda essa maquiagem passageira ou cirúrgica, não nos afasta de, num espelho, de corpo inteiro, olho no olho descobrirmos um pouco de nossa alma e o que ela realmente carrega de nossas culpas.

Basta experimentar.
 


























quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS de George Orwell


LIVRO 65







"A Revolução dos Bichos" é um livro de 1945.

Se o leitor se puser a ler, como fiz eu, sem ler a contra capa e nada pesquisar, o seu desenrolar, embora protagonistas fossem os bichos da uma granja começa a perceber que simboliza gradativamente a instituição de um regime totalitário, ditatorial.  

O proprietário humano era o sr. Jones  Ele submetia todos os bichos ao trabalho penoso, aos maus tratos e pouca ração..

O velho porco Major, muito respeitado na granja, após um sonho que tivera lembra, numa reunião com todos os bichos,  que suas vidas eram miseráveis com muito trabalho até a última parcela das suas forças e quando enfraquecidos pelos tempo, seu fim não era natural mas cruelmente trucidados:

"Que fazer, então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas, rebelião!

E ensina a melodia "Bichos da Inglaterra" que aprendera com sua mãe ainda como um leitãozinho em cuja letra enaltecia a liberdade dos bichos. Uma estrofe:

"Mais hoje, mais amanhã,
O Tirano vem ao chão,
E os campos da Inglaterra.
Só os bichos pisarão."

O porco Major logo morre de causas naturais, Afinal, fora ele um animal premiado.

Essas ideias passaram a fervilhar na mente dos animais até que um dia de revolta expulsaram da granja, violentamente, o sr. Jones e os demais humanos que com ele trabalhavam.

Dominada a granja pelos bichos, os mandamentos do animalismo eram sete, elaborados pelos porcos Bola-de-Neve e Napoleão:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo;
2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo,
3. Nenhum animal usará roupa;
4. Nenhum animal dormirá em cama;
5. Nenhum animal beberá álcool;
6. Nenhum animal matará outro animal;
7. Todos os animais são iguais.

E é fundada a Granja dos Bichos.

Bola-de-Neve e Napoleão enviavam pombos para outras granjas para que informassem sobre a rebelião que se dera na Granja dos Bichos ensinando a melodia do "Bichos da Inglaterra.

Então os bichos começaram a trabalhar muito, aumentando a ração de cada um.

Mas, já divisando a liderança absoluta da Granja, o porco Napoleão, incomodado com a influência de Bola-de-Neve que projetava construir um moinho de vento que, na sua concepção melhoraria a vida de todos, um dia lançou seus cachorros bravos contra ele. 

Bola-de-Neve fugiu da Granja e ao certo não se sabia do seu paradeiro. Estaria aliado com algum estancieiro vizinho?

Tudo o que de ruim acontecia, era obra clandestina do traidor Bola-de-Neve.

O porco Garganta, porta-voz de Napoleão e depois da casta dos porcos dirigentes sempre se referia à traição do porco expulso da comunidade.

A mudança mesmo da história porque Garganta fazia acreditar que Bola-de-Neve, herói da revolução fora nada mais que um oportunista.

Mas, sem mais Bola-de-Neve, Napoleão determinou que o projeto do moinho de vento fosse em frente, exigindo trabalho estafante dos animais que precisavam puxar pedras para suas paredes. Nessa tarefa o cavalo Sansão era um trabalhador incansável.

A Granja dos Bichos foi atacada pelos humanos enciumados pelos êxitos obtidos, inclusive do antigo dono, o sr. Jones, mas os animais venceram.

Então, Napoleão, porque os porcos eram os animais mais inteligentes, assumiu a liderança da Granja e passou a contrariar e modificar os mandamentos do animalismo; vestiu roupas que pertenciam ao sr. Jones,  arrumou umas insígnias fixando-as no peito, passou a dormir na cama da sede da granja - os outros animais continuavam dormindo nos estábulos sobre palha -, passou a consumir álcool "mas sem excesso" e alguns animais foram executados acusados de traição e por terrem mantido contato com Bola-de-Neve.

Por ordem de Napoleão, a Granja dos Bichos passou a fazer negócios com humanos (de duas pernas) vendendo parte da produção obrigando os animais todos a trabalharem mais e receberem menos ração.

A vida se tornara melhor ou pior se comparada aos tempos do sr. Jones? A ração era maior, a mesma ou menor do que a concedida pelo sr. Jones? Havia ou não mais tempo de trabalho?

Para surpresa geral dos animais os porcos dirigente começarem a andar sobre duas pernas (quem andasse sobre duas pernas era inimigo!)

Sansão que laborara tanto no carregamento das pedras para construção do moinho de vento, sentiu-se mal e foi encontrado estendido no chão. Seus colegas animais o socorreram e esperavam que Napoleão providenciasse ajuda médica para sua recuperação e depois, sua aposentadoria num terreno existente na granja.

Mas, para decepção geral, o carro que veio buscá-lo fora o do matadouro.

Mas, Garganta garantiu que aquele carro não era mais do matadouro, mas de socorro.

Mais tarde, anunciaria a morte de Sansão...

Por fim, os porcos dirigentes já aproximados dos humanos a ponto de fazerem recepções na casa grande.

Numa dessas recepções houve uma briga generalizada entre o humano sr. Pilkington numa trapaça havida num jogo de cartas.

Assim,

"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez, mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco."

Motivações

Na edição que li, só se vai descobrir a inspiração real da história pelo posfácio e no prefácio do próprio Autor inserido no final do livro.

Quanto aos animais, o Autor se inspirou num cavalo de porte bastante chicoteado por um menino quando o animal vacilava nos caminhos a seguir. 

Se esse animal tivesse consciência da força que tem não aceitaria esse tratamento... desumano!

No tocante à transformação política que se dera na granja seguira o Autor o que se dera na União Soviética: o porco Napoleão representaria Josef Stalin, com toda sua truculência e assassinatos. 

Bola-de-Neve representaria o dissidente Leon Trotsky, rival de Stalin no comando do Partido Comunista. Trotsky foi assassinado em 1940 a mando de Stalin, no México onde se exilara, E Stalin morreu em 1953 por causa de hemorragia cerebral.

1984

Muitos dos episódios da Revolução dos Bichos  se assemelham a cenas do romance distópico "1984" do mesmo Orwell.

"1984" foi escrito em 1949. Desta série "1984" é o livro 12, podendo ser acessado por este link:

https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2017/07/12-1984-de-george-orwell.html










quinta-feira, 3 de outubro de 2019

TUPARI de Franz Caspar (Entre os índios nas florestas brasileiras)

LIVRO 64





Capa do livro.

Legenda da foto: Os feiticeiros acompanham, atentos, o comportamento dos espíritos
















Este livro está comigo há muito. Resolvi lê-lo sem o compromisso de o incluir neste blog porque a motivação fora apenas obter elementos da vida de indígenas brasileiros, após dar uma folheada em algumas de suas páginas.

Resolvi, incluir aqui, porque gostei muito do relato do Autor, um suíço "encantado" com os índios brasileiros e, com os Tupari viveu por quatro meses todos os usos e costumes da tribo. Esse convívio se deu na segunda metade do ano de 1948. 

O livro foi publicado por aqui pela "Melhoramentos", pelos idos dos primeiros anos da década de 50.

Franz Caspar era suíço, nascido em 17.09.1916 e falecido na Áustria em 13.04.1977, de modo inopinado, embora residisse em Zurique, Suíça.

Relata o Autor que naquele ano de 1948 estava na Bolívia e num estalo, resolvera conhecer e até conviver em aldeias indígenas conhecer índios verdadeiros.

Veio até o lado brasileiro e, após longa viagem, seguindo o traçado do rio Guaporé Mato Grosso (que deságua no rio Mamoré em Rondônia).



Minhas indicações: o quadro da esquerda localiza a aldeia Tupari do ponto de apoio do rio Guaporé; o quadro da direita, a localização a partir do rio Branco.

A legenda no livro desse quadro 2 (da direita) tem a seguinte explanação no livro: "Esboço do itinerário da marcha de São Luis para os Tupari. Como modelo, serviu de rascunho de Pedro, o criado preto. A linha tracejada assinala uma segunda rota, não percorrida pelo autor."



Pelo rio Branco chega à aldeia Tupari, que contava com duas malocas, com cerca de 200 indivíduos.

Recebido no começo com reservas porque se apresentara vestido numa população toda nua, homens e mulheres, com o tempo passou a fazer parte da comunidade, sendo muito querido.

Com Waitó, o cacique e pajé, o Autor firmara amizade de valor. As amizades que se estenderam aos demais membros da comunidade indígena pode constatar Caspar como eram bons e puros os indígenas.

Os tuparis trabalhavam muito em suas plantações de milho, mandioca, inhame e amendoim, tarefas que o Autor se integrou totalmente, como se membro fosse da tribo.

Saíam à caça e Caspar com sua espingarda ajuda a derrubar macacos, cuja carne é saborosa e, pelo que se soube no decorrer do relato, as práticas de canibalismo do passado revelavam que a carne humana tinha sabor bem semelhante ao do animal...

Nessas caçadas, são relatadas cenas de crueldade contra os animais abatidos mas que não chegam nem perto dos abatedouros de sempre.

Então, a alimentação básica, era a carne dos animais abatidos, milho, aipim (mandioca) e amendoim.

Para preparação de suas culturas, havia com muita regularidade, desmatamentos e até mesmo incêndios perigosos mas que não avançavam, pelo que se depreende do relato do Autor, além do "planejado".

Disse Waitó:

"- Essas fagulhas são perigosas: uma vez, elas queimaram a choça e as plantações de Tokürüru. Perderam-se mesmo as redes e o pessoal teve de dormir no chão, por muito tempo. Até uma criancinha morreu queimada".

[A comunicação se dava pelo português precário aprendido por alguns dos indígenas e pelas palavras que ia aprendendo o Autor dos tuparis].

Um relato dos trabalhos de abertura de terreno para o plantio:

"Nas últimas semanas, haviam trabalhado com afã. Calculei a floresta derrubada em cerca de dois hectares. Uns trinta homens se ocupavam no trabalho. Cada um usava um machado de ferro, alguns dos quais já eram bem gastos."

[Machados, facões e outras ferramentas eram obtidas dos "homens brancos" após prestarem os indígenas pequenos trabalhos de carregamento incluindo porções da borracha extraída em grande quantidade das seringueiras].





Legenda da foto no livro: "O Autor com a filhinha de Waitó, Kabátoa e a pequena vizinha Nyänkiab. Fotógrafo: cacique Waitó












A importância do milho e do aipim na produção da chicha

A chicha, produzida em grande quantidade, não poderia faltar na tribo, era uma bebida fermentada preparada com o sumo do milho esmagado e mandioca.

O Autor não explicou como se dava a fermentação. 

Vez por outra, na obra ele qualificava a chicha como "cerveja".

Então, com a produção permanente de chicha, a bebida era servida em inúmeras festas dando-se verdadeira bebedeira coletiva. 

Alguns bebiam até não aguentarem mais, mas então provocavam vômito para continuar bebendo!

A bebedeira ocasionalmente poderia produzir violência contra a mulher.

Quando estava o Autor já cansado da vida 'selvagem', no que se refere ao consumo de chicha disse:

"Havia outras coisas que se estavam tornando intoleráveis. As bebedeiras me enojavam cada vez mais."

Nudez

Com exceções, homens e mulheres tuparis naqueles idos de final da década de 40, andavam nus e não revelou o Autor abusos sexuais.

Mas, claro que havia o assédio, quem sabe o "amor" escondido por aquelas matas.

Mas o casamento era uma "instituição" que era quebrada se, depois de um tempo, o casal não tivesse filho.

Tanto carinho recebeu o Autor que a tribo toda pedia que ele ficasse para sempre entre os tuparis, se casasse e esquecesse sua aldeia de outras terras.

Então, tanto o cacique como sua esposa se esforçaram muito para que ele aceitasse e se casasse com Tonga, uma índia já madura, vesga mas muito carinhosa.

E ela própria o assediava a ponto de deitar uns instantes em sua rede.

Mas, ele resistiu o quanto pode e ao se despedir ouviu de Tonga uma frase que disse jamais ter esquecido:

"Queria dar-lhe, pois, à despedida, uma pequena lembrança.

- O que você quer das minhas coisas? perguntei-lhe, um espelho, um pente ou o quê?

Tonga olhou-me com seus olhos vesgos e respondeu-me baixinho:

- Para que você quer dar-me alguma coisa? Você vai embora e eu vou morrer aqui.

Com lágrimas o Autor foi se despedindo e ao olhar para trás todos os tuparis estavam reunidos e acenando com as mãos, flechas, espadas... Francisco, Francisco...

A origem da humanidade

O relato inicial da origem da humanidade é curioso porque antigamente a terra não era povoada e no céu não havia nenhum Kiad-pod (pajés primitivos).

Havia somente um grande bloco de pedra. Esse bloco era uma mulher que se abriu e entre torrentes de sangue, deu à luz um homem, a Waledjád. Mais uma vez o bloco se abriu e nasceu um outro homem. Chamou-se Wab. Ambos eram pajés.

Como não tinham mulher, mataram um aguti (uma das espécies de roedores, gambá) e com os dentes da frente do animal, esculpiram uma companheira para cada um deles e, dai nasceram os outros pajés primitivos os Wamoa-pod.

Waledjád era muito mal e ao se zangar chovia copiosamente a ponto de inundar toda a terra, morrendo afogados Wamoa-pod.

E aí, o meio encontrado para se livrar de Waledjád foi desterrá-lo a um lugar ao norte vivendo numa choça de pedra.

Mesmo assim, quando se zanga faz chover muito nas terras Tupari,

Os que se interessarem em expandir esse tema, sugiro acessar o portal abaixo que até mesmo transcreve páginas do livro de Franz Caspar:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tupari



Diz o Autor que quando conviveu com os indígenas, eram certa de 200 indivíduos da aldeia Tupari. Quando voltou em 1955 não contou mais do que 60 sobreviventes, vítimas de epidemia de sarampo. E todos vestidos.


O livro é muito mais do que ora relato.

O que posso dizer é que gostei muito.

Tenho comigo obras do sertanista Willy Aureli que vou reler e ler e, com o tempo, farei a resenha, quem sabe, de mais de uma obra reunidas.

domingo, 22 de setembro de 2019

ODISSÉIA de Homero

LIVRO 63

(V. obs. no final)

Há um filme de 1954 estrelado pelo centenário Kirk Douglas, um filme italiano que trata do poema de Homero.

Nesse filme, muito bem feito, o Ulisses de Douglas, era valente, consciente de sua autossuficiência constituindo-se num agradável herói, sentimento que não se tem hoje, salvo exceções, na  arte cinematográfica.

O decidido Ulisses de Kirk Douglas não tinha muito com o "industrioso" Ulisses de Homero, embora valente, o saqueador de cidades, chorava de saudade de sua Ítaca, de sua esposa Penélope - "a mais cordata das mulheres" e de seu filho Telêmaco.

Esses sentimentos, no longo poema de Homero, brotaram pela série de desafios enfrentados por Ulisses - especialmente as dificuldades impostas pelo deuses imortais para que voltasse ele para o lar, para Ítaca, após participar da guerra de Troia - o livro o coloca mesmo como um dos membros que conduziram o cavalo monumento de madeira, "presente de grego" aos troianos que os levou à derrota.

O poema - que li numa boa edição em prosa mas que não difere muito de edição da década de 40 que manteve o formato da poesia - para mim realça estas virtudes: fidelidade, hospedagem respeitosa e coragem. 


Resultado de imagem para odisseia de homero

Mas, quem foi Homero?

Poeta épico grego, cuja data de nascimento é controversa, mas pode-se situar há cerca de 900 anos antes de Cristo. Teria vivido uns 30 anos, pouco mais.

No seu poema os deuses do Olimpo e os homens mortais tinham relação muito próxima. Muitas vezes os mortais recebiam auxílio ou castigo direto de Zeus e de outros deuses tanto que na leitura do poema a deusa Atena, de "olhos brilhantes" protege Ulisses até que voltasse a Ítaca mesmo enfrentado todo tipo de desafios e figuras monstruosas.



Depois de anos de ausência, após participar ativamente da guerra de Troia, o destino de Ulisses era uma grande dúvida: fora morto nalguma batalha? Ele teria morrido num naufrágio? Ou estaria vivo ainda prisioneiro nalguma terra distante.


Essa dúvida magoava demais sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco já adulto.


Então, com essa dúvida, Telêmaco viaja por outras terras tentando obter informações seguras do paradeiro do pai, sem sucesso.

Ao mesmo tempo, sua mãe chorava muito a ausência do marido e, tanta a demora de notícias que na sua mansão, acumularam-se varões de Ítaca pretendentes em receber um sim matrimonial de Penélope. Eles acreditavam que Ulisses morrera pelo que Penélope viúva, de notável beleza, poderia se casar com algum dos pretendentes, aquele mais rico e que lhe oferecesse os presentes mais valiosos.

Esses pretendentes praticamente viviam na mansão de Ulisses, alimentando-se de seus rebanhos atitude abusada porque dilapidavam suas riquezas. Houve revolta desses assediadores quando descobriram que o véu tecido por Penélope, futura mortalha para embalar seu sogro Laertes ao morrer, se casaria quando estivesse pronta, mas à noite desmanchava o que de dia tecera. 

Telêmaco ao retornar da viagem sem a confirmação se seu pai vivia ou morrera, cuidara que não fosse assassinado pelos pretendentes que o tinham como empecilho ao casamento de sua mãe.

Por sete anos viveu Ulisses com a deusa-ninfa Calipso na Ilha Ogigia depois que sua nau fora destroçada e mortos seus companheiros por violenta tempestade como castigo imposto por Zeus, a pedido do deus Helio  pelo abate de vacas deste criadas em suas terras. 

Linhas a frente, volto a esse episódio.

Calipso queria ter Ulisses como esposo. E ele era o amante dela.

Tal perdurou até que a deusa Atena interveio por Ulisses perante Zeus, que determinou que Hermes fosse até Calipso para lhe comunicar que Ulisses deveria retornar à sua terra natal, Ítaca. 

Calipso  promete a Ulisses, se ficasse se tornaria imortal. Para voltar a esposa Penélope em Ítaca, enfrentaria grandes dificuldades. Mas, ela o auxilia na construção de uma jangada e ele parte

Essa embarcação é destruída por ato de Posídon que provocara severa tormenta no mar.

O herói se salva chegando à terra dos Féaces.

Recebido com honras pelo rei Alcino, mesmo sem que fosse conhecida sua identidade, depois de um tempo, afirma que era Ulisses e, a pedido do monarca, relata toda sua odisseia até chegar ali.

Após saquear a cidade de Ísmaro, é atacado pelos cícones.

Na fuga suas naus são desviadas para terras do Ciclopes e lá se
depara com o gigante Polifemo, dotado de apenas um olho, hábil pastor. 

O gigante os aprisiona em sua caverna, devora seis dos companheiros de Ulisses e mantém refém os demais com a mesma finalidade.

Então, Ulisses e seus companheiros sobreviventes, embebedam com vinho Polifeno, preparam um grande tronco fino comprido, aproveitam sua embriagues e o cegam. 

Na fuga que se segue, Polifeno tenta os atingir com enormes pedras atiradas a esmo e sem direção ao mar.

Polifeno, filho de Posídon, roga ao pai que nunca permita que Ulisses retorne ao lar, a Ítaca.

Aporta na Ilha de Eólia terra dos guardiões do vento, onde vivia Éolo. Bem recebido, para que Ulisses e os seus companheiros partissem, Éolo garantiu que os ventos os conduziriam ao destino. Para tanto lhe presenteara com um odre que aprisionava os ventos desfavoráveis. 

Mas na viagem, esse odre foi aberto desencadeando o sopro de ventos desfavoráveis. Suas naus voltam à Ilha de Eólia. Éolo não os recebe de novo e, então, aportam na terra dos Lestrigões.

Dos dois grupos para conhecer a região, um deles, no qual não estava Ulisses, dera-se com Circe, feiticeira que lhes ofereceu uma bebida, transformando-os em porcos.

Hermes aparece para Ulisses e lhe ensina o truque para salvar seus companheiros vítimas do feitiço: ervas lhe foram entregues que impediriam o feitiço de Circe.

Assim, feito, Ulisses por recomendação do deus, ameaça matá-la. Circe assustada liberta seus companheiros do feitiço.

Depois de um ano com Circe e seus banquetes, Ulisses lhe informa que partiriam para a terra natal.

Mas, Circe lhe diz que, antes, deve viajar até a região de Hades - 
morada dos mortos - e da "terrível Perséfone" para consultar o adivinho Tirésias, já morto mas que mantinha os mesmos poderes de quando vivia. (*)

Ulisses chora muito esse novo desafio, mas para lá vai.

A primeira alma que aparece, já na região de Hades, é Elpenor, companheiro de Ulisses que morrera de acidente na mansão de Circe e estava, ainda, sem sepultura.

Para receber Tirésias imola um carneiro negro e deixa correr "o seu negro sangue". (**)

Este, após beber o "negro sangue", informa que a chegada de Ulisses a Ítaca será dificultada pelo "Sacudidor da terra ", Posídon, que pretenderia vingar a cegueira imposta ao seu filho Polifeno.

Mas, disse, também, o adivinho, que conseguiria escapar das tormentas aportando na ilha do Tridente mas não deveria se aproximar dos carneiros e vacas do deus Hélio.

Ulisses, depois de deixar Tirésias encontra sua mãe e, emocionado, tenta abraçá-la mas, ela evitava a aproximação como se "fosse uma sombra ou um sonho."

Todos os mortos se aproximaram de Ulisses, tentando expor suas angústia. 

Reconheceu a bela mãe de Édipo, o aqui chamada de Epicasta que se casara, sem o saber, com o próprio filho. (***)
  
Viu Tício, sendo atacado por dois abutres que dilaceravam seu fígado por ter violentado Leto, a "ilustre esposa de Zeus".

E outros conhecidos de Ulisses sofriam castigos. (****)

Todos estavam ávidos em sorver o "sangue negro" dos animais abatidos. 

Então, vencida essa etapa, volta à mansão de Circe para sepultar seu companheiro Elpenor.

Ela o avisa para ser cauteloso quando chegasse na região das sereias porque seu cantar melodioso encantava os viajantes que não resistiam à sedução e por lá ficavam cativos, numa espécie de deslumbramento.

Também haveria que cuidar muito quando se aproximasse da região de Cila e Caríbedes, devendo ficar mais próximo de Cila.

Para não ouvir o canto das sereias, ele obriga que seus companheiros tapem os ouvidos com cera. Ulisses pede para ser amarrado num mastro e suporta  a sedução das sereias que 'inundavam  seu coração'. 

Cila era um monstro horrendo com 12 pés e seis cabeças descomunais das quais não há quem escapasse. 

Circe recomendara a Ulisses que não empunhasse qualquer de suas armas para não provocar Cila.

Esquecido desse conselho, Ulisses arma-se. Cila atacou a nau  apreendendo e devorando seis dos companheiros de Ulisses,

Caribedes tinha o poder, ao engolir a água salgada e quando a vomitava o mar se tornava revolto e efervescente.

Mas, ao escaparem, mesmo com os seis companheiros devorados aportam na ilha de Helio. 

Os companheiros de Ulisses, quando não havia mais alimentos, abatem vacas do deus Helio que pede a Zeus que todos eles sejam mortos como castigo.

Tal ocorre, apenas Ulisses é poupado e ele e atirado na ilha da deusa Calipso. 

Dai, vai em busca de sua terra, Ítaca, numa jangada e, poupado, chega à terra dos Féaces.

Depois de ouvir tudo o que Ulisses enfrentara, Alcino, rei dos Féaces, resolve equipar uma nau e conduzi-lo a Ítaca, não sem antes dar-lhe muitos presentes.

E Ulisses chega a Ítaca. A deusa Atena que o protegia, o "transforma" num mendigo irreconhecível de tal ordem a que conhecesse a quem poderia confiar e quem o traia.

O único que o reconheceu foi seu fiel cão Argos, meio abandonado, que se ergue à chegada do dono.

Seu porqueiro fiel se emocionava por acreditar na morte de seu senhor.

Algum tempo depois Ulisses se dá a conhecer a seu filho Telêmaco e ambos engendram um plano para se vingar dos pretendentes matando todos eles.

Ulisses mendigo aos poucos vai se aproximando de sua mansão sob escárnio e protesto dos pretendentes que ainda assim lhe davam algum alimento como esmola.

A velha escrava Euricléia ao lavar os pés do mendigo por ordem de Penélope, reconheceu que era Ulisses por uma cicatriz profunda na perna que ficara após o ataque de um javali. Ele pede à escrava que mantenha o segredo de sua identidade.

Penélope também não o reconhecera e a ela sugere uma prova aos pretendentes: que aquele que vergasse o arco de Ulisses, fixasse a corda e armá-lo, ao mirar uma flecha, deveria ela ultrapassar o furo de 12 machados devidamente postos em linha.

Telêmaco parecia  conseguir vergar o arco, mas Ulisses com um gesto imperceptível o impediu de prosseguir.

Então o arco é dado ao mendigo sob protestos. Este não só consegue vergá-lo como mira a flecha que ultrapassa o orifício dos machados.

Feito isso, apoiado pelo porqueiro Eumeu, com o boieiro Filécio  e Telêmaco, começam a a matar todos os pretendentes.

E conseguem. Os corpos são levados para um local na mansão enquanto Ulisses vai em busca do pai Laertes nos campos porque esperava a reação de toda Ítaca. Foram mortas figuras destacadas da cidade. 

É nessa visita emocionada entre pai e filho é que se sabe que o velho Laertes cultivava frutas em seus campos. Essa é única referência a esse tipo de alimento em toda a Odisseia. A predominância sempre fora nos festins constantes, a carne. o pão e o vinho.

Zeus, todavia, a pedido da deusa Atena, decreta a paz em Ítaca, mesmo após aquelas mortes todas.

Quando Penélope, "a mais cordata das mulheres",  finalmente reconhece que o mendigo estrangeiro era Ulisses, agora devidamente apresentado com vestes ricas, se emociona muito e seguem para recuperar o amor de tantos anos passados.

Haviam se passado 10 anos.

MORAL DA HISTÓRIA

A "Odisseia" de Homero traz no seu conteúdo, timbres de fidelidade matrimonial, o amor filial, a coragem e a sensibilidade porque o herói chorava. Mas, também, a vingança para salvar a honra. Todos os sacrifícios, os percalços e os monstros extraordinários (Polifeno e Cila) vividos ou enfrentados por Ulisses, podem ser qualificados como as dificuldades da própria vida de cada um e, quanto aos monstros aqueles pensamentos de ódio, destrutivos, que frequentemente habitam a mente mais de uns do que de outros.
E os deuses sempre dirigindo a vida e a morte do mortais. 
E há que destacar a fidelidade de Penélope.

Minha avaliação: gostei

A "Odisseia" é a "continuação d' "A Ilíada", também de Homero. (*****)

Referências:

(*) Na "entrevista" de Sócrates, diz ele que há almas perdidas fora do mundo invisível que temem a região de Hades, afastam-se do corpo e se tornam visíveis, vagando em volta dos túmulos, dos cemitérios, fantasmas medonhos, espectros assustadores.
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(**) Tirésias é o mesmo adivinho da obra teatral "Edipo Rei" de Sófocles.
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(***) Epicasta  na obra de Sófocles, mãe de Édipo com quem se casa sem o saber, tem o nome de Jocasta.
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(****) A descrição de Hades e seus mortos sendo castigados  num ambiente obscuro, medonho, lembra um pouco o "Inferno" de Dante Alighieri na "Divina Comédia",]
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(*****) Acessar: "A Ilíada" de Homero

Observação: Esta resenha / comentários está melhor desenvolvida no reunião das três obras, Ilíada e Odisseia de Homero e Eneida de Virgílio. Os textos foram revisados e ampliados.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de Emily Brontë

LIVRO 62



O livro foi lançado em 1847, a obra única da Autora.

É considerado um clássico da literatura mundial tanto que é referenciado até hoje.

Quando tentei lê-lo há muitos anos, impressionei-me pelo início meio "fantasmagórico" de suas primeira páginas mas parei por aí.

Hoje, e por causa disso, voltando a ler, achei que, e vai aí um sacrilégio literário, há páginas e páginas que penso poderiam ser omitidas, sem prejuízo do enredo.

Na verdade é a história da rudeza do personagem central, Heathcliff, malvado mesmo.

Ellen Dean (Nelly) que fora governanta da casa e cuidara das crianças, relata a história do "Morro dos ventos uivantes" a Lockwood que por um tempo fora inquilino de Heathcliff na "Granja dos tordos". Ela chegara mesmo a considerá-lo demoníaco.

Heathcliff foi trazido pelo patriarca  Earnshaw após encontrar o menino abandonado nas ruas de Liverpool. Sem ter como protegê-lo ou quem o protegesse resolveu trazê-lo para sua moradia, no "Morro dos ventos uivantes".

Ele era odiado pelo filho Hindley Earnshaw. O pai não se cansava de maltratá-lo criando-se, então, desde a tenra idade um sentimento de ódio que se prolongou por toda a história.

Mas, Heathcliff se torna muito amigo da filha do patriarca, Catherine que, com o tempo, se torna um amor até meio sobrenatural, pois Heathcliff sonhava e falava com ela depois de morta.

Ellen que dela cuidou desde a tenra idade, se referia ao seu temperamento sensível,  chorona, emotiva e histérica.

Quando Heathcliff descobre que Catherine se casaria com o Edgard Linton, dono da propriedade "Granja dos Tordos" nas vizinhanças do "Morro", ele desaparece e retorna poucos anos depois, homem já feito. 

Heathcliff e Edgard eram inimigos inconciliáveis, até porque Cathy, sua esposa, recebia com frequência em sua casa seu amigo de infância.

Edgard e Catherine eram pais de Catherine Linton. Viúvo, pois Catheerine falecera jovem, Edgard amava sua filha Cathy,

Quanto a Hindley que se tornara um alcoólatra após a morte de sua esposa a vingança de  Heathcliff  deu-se sem dificuldades. 

E na impossibilidade de reação de Hindley às imposições de Heathcliff passou este a assumir a propriedade do "Morro dos ventos uivantes", criando ali, então, um ambiente amargo, opressivo, triste, de intolerância.

Hindley era pai de Hareton tratado com desprezo e a pontapés por Heathcliff. Era deixado sem qualquer instrução, pelo que era motivo de deboche por seus deslizes, tornando-se tímido.

A irmã de Edgard Linton, Isabella, apaixona-se por Heathcliff  e com ele se casa, sendo maltratada pelo marido, que chegara a agredi-la fisicamente.

Tiveram um filho, Linton Heathcliff, um jovem sensível, doente, afetado por aquele clima pesado do "Morro" por atos de desprezo do pai que não lhe dava qualquer afeto.

Heathcliff obriga que ele se case com Cathy mantendo-a para isso, numa espécie de prisão domiciliar no "Morro", mas depois de uns meses ele morre doente.

Falecendo Edgard, Heathcliff  toma posse também da "Granja dos Tordos" porque era viúvo da irmã do proprietário.

Viúva, convivendo Cathy com seu primo Hareton dele se aproxima, começa a auxiliá-lo na leitura de livros de tal modo que ele começa a se desenvolver (Ah, a educação!)

Heathcliff, nunca concordou com a aproximação de ambos mas, por fim, se casam.

No final da obra, a narradora Ellen registra pouco tempo antes da morte, "aqueles olhos negros e encovados. Aquele sorriso e aquela palidez cadavérica! Não parecia o sr. Heathcliff, mas um demônio..."

O livro é angustiante, porque desenvolvido naquele ambiente obscuro, opressivo do "Morro dos ventos uivantes", mas algumas páginas cansando pelo que considerei excessos.

Mas, afinal, dizer o quê? Basta lembrar que a obra sobrevive a 172 anos, consagrada e enredo de filmes (Wuthering Heights, no original).

MORAL DA HISTÓRIA:

Num ambiente obscuro, fechado pelo tempo, úmido, a maldade se revela pelo modo de agir de Heathcliff, egoísta, ambicioso e frio. Jamais reagiu de modo diferente dos tempos de jovem rejeitado pelo filho legítimo do patriarca Earnshaw que o adotara. Heathcliff se vinga de todos, adquire pela morte dos donos as propriedades ("Morro" e "Granja dos Tordos") mas nunca saíra daquele lugar comum de amargura. Um final se não feliz, pelo menos amargo: o casamento de Cathy com seu primo Hareton, desprezado que ela praticamente educou.

Minha avaliação: não gostei