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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS de Lewis Carroll

 LIVRO 98



Esse livro é ou não é infantil?  Ele foi escrito em 1865. A história  inspirou filmes e desenhos animados. (*)

O enredo descreve um sonho infantil e com ele, no desenvolvimento, o que há de confuso, de fantasias (aqueles imagens oníricas). O sonho de Alice apresenta "aventuras" próprias de sua idade naqueles idos há quase 160 anos e ela acaba por ter algumas lições de vida. A história tem forte apelo ecológico, mesmo que o Autor no seu tempo não tivesse se dado conta disso.

                                         /●/

Os sonhos me empolgam e me desafiam. Quem "escreve" os enredos do que assistimos e participamos durante o sono - não apenas reflexos do cotidiano? Aquelas situações desencontradas: num pântano aparece um braço estendido, esse braço é puxado, parece que alguém foi salvo, mas quem e do quê? "Viajando" a um local remoto, precário, rodeado de pessoas amáveis ou reticentes sem saber como voltar para o "lar"...onde deixei o carro? "E onde encontramos os mortos" (**).

                                            /●/    

Bom, se algum interessado chegou até aqui, certamente não está interessado nas variáveis dos sonhos que explano. 

Então, Alice começou a se cansar do livro lido por sua irmã que não tinha gravuras.

Ela estava sobre um galho de uma árvore com sua gatinha Dinah e de repente vê um coelho apressado com um relógio repetindo apressado, "estou atrasado..."

Surpresa, ela persegue o coelho até sua toca e quando lá entra, cai suavemente  num vosso até alcançar o mundo das maravilhas.

Nesse mundo assim que chega chora copiosamente preocupada em não sair dali a ponto de alagar tudo em sua volta.

E todos molhados, Alice começa a se relacionar com um rato e com outros animais de modo harmônico. Principalmente com o dodô. No livro a ave é tratado no masculino, o Dodô.

Dodô, uma ave da "família" dos pombos que não voava que vivia na Ilha Maurício - localizada no Oceano Índico - e não fugia dos seres humanos porque não ameaçada por predadores (logo de quem essas aves não fugiam!). Presas fáceis dos marinheiros holandeses famintos que se alimentavam de suas carnes, "saborosas", cruéis, sem qualquer ato de preservação essas aves foram extintas pelos idos de 1668.

Então, o que faz o dodô na história, ave extinta há cerca de 200 anos antes da publicação do livro?

A lembrança dum personagem num sonho bom? Uma homenagem do Autor à ave indefesa extinta pela insânia do homem?

Mas, é com o gato Cheshire que Alice recebe, digamos, uma lição de determinação, mas não tanto "filosófica". 

O diálogo:

- Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui? pergunta Alice.

- Isso depende muito de para onde que ir - respondeu o gato.

- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina.

- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o gato.

- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice para se explicar melhor.

- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.

Afinal de contas, qual caminho, mesmo aquele que leve a algum lugar determinado ou não, não exige longa caminhada? E quantos sem saber qual caminho trilhar não chegaram a algum lugar compensador?

Alice naquele país dos sonhos, mudava de tamanho e passou a controlar sua altura a conselho da lagarta, com pedaços de cogumelo que de um dos lados dele aumentava sua altura e do outro lado, a diminuía. 

Essa lagarta, lacônica meio arrogante era fumante de um ...narguilé...

E assim vai Alice se relacionando com diversos animais amistosos: com dois coelhos, cachorro, com uma pomba preocupada com seus ovos achando que a menina fosse uma cobra e os devoraria, com um porco, com a "lebre de março" e o chapeleiro, num chá maluco...

Com o grifo (uma figura mitológica - metade águia metade leão), com a "tartaruga falsa" e a "quadrilha" das lagostas. 

Então, Alice adentra no "reino" das cartas (de baralho) e se depara com a rainha  e o rei de Copas. A rainha, muito mandona, a qualquer contrariedade, não perdoava a vítima e gritava aos guardas:

- Cortem-lhe a cabeça.

Assim com os jardineiros que pintavam de vermelho rosas brancas que a rainha não gostava.

Mas, claro, tudo um sonho.

Nos contatos com a rainha, Alice foi colocada a jogar croquet num campo cheio de protuberâncias e buracos. As bolas eram ouriços vivos e os bastões flamingos vivos. A menina teve muita dificuldade em controlar tanto o seu "bastão" como a "bola".

No reino das cartas, a própria Alice foi condenada pela pena máxima ao criticar os  procedimentos do tribunal que julgava o roubo de tortas (?) - presidido pelo rei - houve risos. A rainha furiosa grita:

- Cortem-lhe a cabeça. 

Mas, Alice desprezou a ordem da rainha:

- Vocês não passam de cartas de baralho!

E acordou de um sono pesado aos apelos de sua irmã.

E Alice: 

- Nossa tive um sonho tão esquisito.

No geral, esse o sonho da Alice no país das maravilhas, um sonho como todos os sonhos, geralmente, confusos, sem sentido que, de regra se o esquece assim que se acorda.

O Autor Lewis Carroll, inglês, nasceu em 1832 e faleceu em 1898.

As ilustrações da edição são originais de autoria do inglês John Tenniel (1820-1914). 


Referências

(*) Para mencionar, o desenho animado de 1951 de Walt Disney bem feitinho. Não sei se nos dias de hoje, as crianças para as quais foi o filme produzido há mais de 70 anos, despertaria interesse. O filme tem  duração de 75 minutos. Há outros filmes.



(**) Marguerite Yourcenar no livro "Memórias de Adriano". Acessar:

MEMÓRIAS DE ADRIANO

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A PAIXÃO SEGUNDO G. H. de Clarice Lispector

    LIVRO 97




Outro livro que li da Autora, "A Hora da Estrela" eu não gostei porque, embora consagrado e virou filme, da ironia sem concessões e o fim da personagem Macabéa, a datilógrafa alagoana. (*)

Este, menos ainda. E não gostar como NÃO GOSTEI, não afeta a legião de fãs que tem a Autora. Um deboche.

Pelo que vi há dissertação sobre essa obra.

Não me cabe no emaranhado de frases desencontradas, contraditórias e desconexas, encontrar um significado, o que quis dizer a Autora porque essas interpretações podem ir muito além da própria intenção dela. 

O livro é difícil de ler não pelo que ele contém, mas pela paciência em chegar até o fim dele.

Ela fala logo no começo de um terceira perna que nasce como capim... coisa sem sentido salvo pretendera a Autora fazer de sua personagem uma figura mentalmente afetada alucinada por imagens insanas.

Uma manhã ensolarada a personagem G. H. resolve limpar um cômodo de seu apartamento de luxo, onde vivera sua empregada Janair e o encontra praticamente limpo. Ja-na-ir?


No quarto arrumado ele encontra malas com suas iniciais G. H. e nada mais.

A partir daí elabora suposta sabedoria filosófica: estaria ela ao falar em "remorrer" lembrando de alguma outra vida? E para isso teria que "assassinar a minha (dela) alma humana?"

"Para que continue humana meu sacrifício será o de esquecer?"

E, então, no quarto ela encontra mal rabiscado na parede a figura de um homem, de uma mulher e de um cachorro.

Nas suas lucubrações paranoicas num dado momento G. H. se insere nessa figura feminina desenhada, mas fica meio sem significado a figura masculina, embora ela dissesse admirar afetuosamente os hábitos e jeitos masculinos. Mas, e o cão rabiscado, seria algum sinal de fidelidade? Se sim, a quem?

G. H. se considerava uma mulher bonita e atraente aos homens. 

E, então, abrindo o guarda-roupas, ela se depara com uma barata - a barata mais que G.H. passa a ser protagonista do livro.

G. H. lembra que a barata vive há milênios e sua sobrevivência se manteve superando todas as transformações e mudanças do planeta.

Ela incorpora a barata, pensa na boca do inseto, a prensa na porta, liberando de suas entranhas aquele composto branco que compõe o organismo do inseto.

Essa intimidade entre ela e a barata, naquele quarto onde batia o sol, me fez lembrar e muito o livro Metamorfose de Franz Kafka no qual o personagem Gregor Samsa acorda um dia transformado num inseto horroroso sem que houvesse qualquer explicação para o fenômeno.

"Já então eu talvez soubesse que não me referia ao que eu fizera à barata mas sim a que fizera eu a mim?"

E, então, G. H. afirma que sabia que teria que comer a massa branca da barata e esse gesto seria o antipecado, "porque assassino de mim mesma". 

E diz:

"O antipecado mas a que preço. Ao preço de atravessar uma sensação de morte."

E, ao colocar a massa branca da barata na boca G.H. se aproximaria do... divino?

E afirma: 

"Oh, Deus, eu me sentia batizada pelo mundo. Eu botara na boca a matéria  de uma barata, e enfim realizara o ato ínfimo."

"... não haveria diferença entre mim e a barata. Nem aos meus próprios olhos nem aos olhos do que é Deus."

"... a barata podia morrer esmagada, mas eu estava condenada a nunca morrer, pois se eu morresse uma só vez que fosse, eu morreria."

 Sobre Deus com algumas afirmações descabidas, no meu modo de considerar:

"Não é para nós que o leite da vaca brota, mas nós o bebemos. A flor não foi feita para ser olhada por nós nem para que sintamos o seu cheiro, e nós a olhamos e cheiramos. A Via-Láctea não existe para que saibamos da existência dela, mas nós sabemos. E nós sabemos Deus. E o que precisamos Dele, extraímos. (Não sei o que chamo de Deus, mas assim pode ser chamado.) Se só sabemos muito pouco de Deus, é porque precisamos pouco: só temos Dele o que fatalmente nos basta, só temos de Deus o que cabe em nós. (A nostalgia não é do Deus que nos falta, é a nostalgia de nós mesmos que não somos bastante; sentimos falta de nossa grandeza impossível - minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido),


E a última frase do livro:

"Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderia dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro."


► PAIXÃO: E qual a paixão de G. H.? Na sua loucura, uma barata da qual ingeriu aquela massa branca que dela verte quando amassada. Há outras paixões? Talvez, mas me recuso a ir em frente porque receio dizer o que a Autora no seu texto mesmo desencontrado não disse ou se disse... fica por isso mesmo.


FRASES:

"E solidão é não precisar. Não precisar deixa um homem muito só, todo só. Ah, precisar não isola a pessoa, a coisa precisa da coisa: basta ver o pinto andando para ver que seu destino será aquilo que a carência fizer dele, seu destino é juntar-se como gotas de mercúrio a outras gotas de mercúrio, mesmo que, como cada gota de mercúrio, ele tenha em si próprio uma existência toda completa e redonda."

"E o inferno não é a tortura da dor! é a tortura de uma alegria."

"O mistério do destino humano é que somos fatais (...) De nós depende realizarmos o nosso destino fatal."

"Também não se pode violentar Deus diretamente, através de um amor cheio de raiva."


Referência:

(*) Acessar:




 




quinta-feira, 4 de agosto de 2022

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA - Projetos para o Brasil - Textos reunidos e comentados por Miriam Dolhnikoff

LIVRO 96 


 


 











O livro não explana com detalhes os precedentes da proclamação da Independência por D. Pedro em 7 de setembro de 1822 às margens do riacho do Ipiranga.

Em poucas linhas, então. 

Dom João VI voltara a Portugal por injunções políticas que lá espocaram, deixando aqui Pedro como príncipe Regente da Colônia.

Mas, Portugal passou a pressionar as atividades comerciais que mantinha a Colônia especialmente com a Inglaterra.

Pedro, foi chamado a Portugal. Sua ida significaria o enfraquecimento da aspiração da independência da Colônia que era alimentada no meio político mais esclarecido.
A princesa Leopoldina, esposa de D. Pedro de certo modo aliada a José Bonifácio o convencera em janeiro a permanecer no Brasil. 

Com o agravamento da pressão da coroa portuguesa que exigia a volta do príncipe a Portugal, Dom Pedro em viagem a São Paulo, em setembro, por cartas dirigidas a ele pela esposa e por José Bonifácio - que fora em janeiro nomeado ministro do Império e Negócios Estrangeiros -,  não só reafirmavam que deveria ele permanecer no Brasil e, por outra conta, proclamar a independência.

Este o trecho da carta da princesa Leopoldina:

 “O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio, ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida.

Dia 7 de setembro:
Então, D. Pedro proclama a independência afirmando mesmo que qualquer tropa portuguesa que estivesse no Brasil ou para cá viesse seria considerada inimiga.

José Bonifácio pela sua participação nos atos da independência, influenciando D. Pedro, seria proclamado o "patriarca da independência". 

Esse título seria alterado para patrono quase dois séculos depois, pela Lei nº 13615 de 11.01.2018 que estabeleceu no artigo 1º: "O estadista José Bonifácio de Andrada e Silva é declarado Patrono da Independência do Brasil."

O texto acima tem por objetivo dar um breve trato histórico não explanado no livro. Excertos do livro começam nas linhas a seguir.

Em meados de 1823 se indispõe com D. Pedro e pede demissão do ministério.

Eu imagino, pelos projetos que revela o livro, as ideias de Bonifácio, que não seriam difíceis desentendimentos com um monarca jovem como era D. Pedro. 

Nesse mesmo ano fora instalada a Assembleia Constituinte, na qual José Bonifácio como deputado constituinte apresenta dois projetos: o da libertação dos escravos e o outro o de civilizar os índios bravos do país. 

No caso do projeto da libertação dos escravos, a defesa de Bonifácio até surpreende pelos argumentos que usou. No período de 65 canos entre a proposição de José Bonifácio e abolição em 1888 houve muitos abolicionistas mas creio que Joaquim Nabuco foi o mais destacado deles.

Um trecho longo extraído da exposição de motivos de seu projeto abolicionista:

"Foram os portugueses os primeiros que, desde os  o tempo do infante d. Henrique, fizeram um ramos de comércio legal de prear (fazer prisioneiro) homens livres, e vendê-los como escravos nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje perto de quarenta mil criaturas humanas são anualmente arrancadas da África, privadas de seus lares, de seus pais, filhos e irmãos, transportadas às nossas regiões, sem a menor esperança de respirarem outra vez os pátrios ares, e destinadas a trabalhar toda a vida debaixo do açoite cruel de seus senhores, elas, seus filhos, e os filhos de seus filhos para todo o sempre."
  
Quão terrível essa análise: os escravos no Brasil só seriam libertados 65 nos depois o que dá para entender o racismo atávico de tantos até hoje.

No que se refere aos indígenas, seu projeto de integração deles na sociedade brasileira foi bastante extenso, cuidadoso propondo câmaras em cada aldeia para controlar a vida social nessa linha catequista. sempre com a presença de um juiz, vigário.

O projeto, em 1823 fora por demais avançado. Havia os indígenas mais "aculturados" mas havia aqueles que ele chamava de "bravos".

E, então, para esses os missionários deveriam estudar a sua língua e costumes, seu caráter...

Mas, não civilizá-los à força.

E depois, eram os selvícolas "vagabundos" e "voluptuosos" que tinham um modo de vida com nenhuma ou poucas exigências materiais.

"Apesar da indolência excessiva dos índios, são em geral robustos, e amam a guerra, mas detestam o trabalho".

E muitos se perdiam no excesso de consumo de cachaça.

Relata José Bonifácio a presença do padre Vieira quando em 1615 se conquistou o Maranhão quando havia mais de 500 aldeias, em 1652 tudo se consumara. As aldeias eram poucas, cerca de 800 indígenas:

"Calcula o padre Vieira que em trinta anos, pelas guerras, cativeiros, e moléstias, que lhes trouxeram os portugueses, eram mortos mais de dois milhões de índios.

E, pondera, José Bonifácio que "o único favor que nos devem os índios é deixarem de comer carne humana."

Nos dias de hoje, os indígenas que sobreviveram a tudo isso continuam num processo lento de extinção adiada por causa das reservas que lhes foram garantidas, mas que vão sendo invadidas por grileiros, trapaceiros e devastadores das florestas.

José Bonifácio defendia, pode-se dizer, uma raça brasileira com a união de negros e brancos (nascendo os mulatos) e índios:

"Misturados os negros com as índias, e teremos gente ativa e robusta - tirará do pai a energia e da mãe a doçura e bom temperamento".

Em novembro de 1823 Dom Pedro extingue a Assembleia Constituinte por discordar dos seus rumos. Bonifácio é preso e exilado para a França onde permanece até 1829 ano em que volta ao país.

Mas, sobre esse gesto de violência política disse Bonifácio que "todas as tropas que dissolveram a Assembleia são criminosos de lesa-nação e como tais deveriam ser punidos" incluindo aqueles que prenderam os deputados invioláveis..

Informa o livro que José Bonifácio tinha facilidade em arrumar inimigos palacianos inclusive dos Castros, Domitila de Castro e Mello,  Marquesa de Santos, a mais notória entre as amantes de D. Pedro.

Por tudo isso José Bonifácio profere ofensas pessoais contra D. Pedro, do tipo: "soberbo sem estímulo de glória", "sensual sem delicadeza", "cruel por insensível", "sem amigos",  "invejoso e desconfiado"... e por aí vai. 

 ▼

● Literatura: José Bonifácio envereda ea literatura, faz análises de diversos autores anteriores ao seu tempo, discorre sobre a literatura portuguesa e espanhola e para ser poeta:

"A minha veia poética foi aguada pelo amor na primeira mocidade, depois pela vista e contemplação das grandes belezas da natureza em minhas viagens e estudos - para ser poeta é preciso ser namorado ou infeliz." 

 ● Filosofia

Força primordial: "A vontade é a força primordial verdadeira do universo, a que só pode morar nos grandes espíritos."

"Ao ser humano só foi dada uma ou outra faísca da verdade, mas não a plena luz, todos devem buscá-la sincera e zelosamente."

 ● Religião

"O clero, quando não pode ser amo, é escravo dos reis."

"A religião que convida à vadiação e faz do celibato uma virtude é uma planta venenosa no Brasil. Demais o catolicismo convém mais a um governo despótico que a um constitucional."

 ● Miscelânea

"Por que motivo as mulheres devem obedecer as leis feitas sem sua participação e consentimento?"

"Os homens desejam e depois amam; as mulheres amam e depois desejam."

"A verdade é um dos dons mais preciosos que o homem obscuro pode fazer ao homem poderoso."

"Boa regra de viver: fugir de grandes, e cortesãos, sobretudo de frades e clérigos."

 ● Pessoal

"Sempre gostei de passar de um livro a outro diferente, assim como de uma ocupação a outra."

"A fdp ( baixo calão grafado literalmente no texto) da morte,  pois pelo pecado entrou no  mundo, ainda que pouco me importa saber de onde entrou. Enquanto estas duas pernas de aranha puderem mover-se, buscarei fugir-lhe, pondo-me em marcha a grão galope."


FINALIZANDO...

● José Bonifácio, estudou em Coimbra, especializou-se em mineralogia e, por causa dessa especialidade viveu na Europa dos 20 aos 56 anos;

 ● Ecológico. Destruição da matas segundo Bonifácio, já em 1823: preciosas matas desaparecendo pelo machado e e pelo fogo destruídas pela ignorância e pelo egoísmo... "com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes que favorecem a vegetação e alimentem nossas fontes e rios... "em menos de dois séculos ("nosso belo Brasil") ficará reduzido aos páramos e desertos áridos da Líbia. Virá então esse dia  (dia terrível e fatal), em que  a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos". 

● O livro contém 212 páginas, é denso com alguma dificuldade de interpretação mas tem o mérito de trazer algumas informações preciosas do modo de vida daqueles tempos pós independência, da escravidão, dos índios, perfil de D. |Pedro e do próprio José Bonifácio que seria proclamado o "Patriarca da Independência";

● O livro não é só isso. É MUITO mais. Um precioso documentos histórico pelo qual se se conhecerá, fora o âmbito político, um pouco do cotidiano nos tempos pós independência.



sexta-feira, 24 de junho de 2022

O VERMELHO E O NEGRO de Stendhal


LIVRO 95

O AUTOR

Stendhal é o pseudônimo do escritor francês Marie-Henry Beyle (1783-1842)

O LIVRO

Lançado em 1830 há quase 200 anos e está sendo publicado até hoje. A edição que tenho é de 1981, bem caprichada, pela Abril Cultural.

Em fonte minúscula (tamanho das letras), difícil de ler, então,  essa edição contém 488 páginas, Se adotada a fonte 11 ou 12, o tamanho normalmente utilizada em edições a quantidade de páginas alcançaria, calculo, cerca de 700.

O livro tem páginas maçantes, até contraditórias às vezes, mas o Autor o escreveu, pelo que pesquisei, com pena de ganso. É muita coisa!

O livro me interessou para tentar desvendar alguma coisa dos costumes da época, sem eletricidade, poucos divertimentos. Então, o que mais li foram "tédio", bailes, óperas, reuniões. Nos dias quentes à noite algumas horas nos jardins nas casas de gente abastada. Sob o luar...

Ninguém nunca me disse, mas eu faço uma trilogia desse livro com outros dois, a saber:

● O Vermelho e o Negro de Stendhal (1830)

● Madame Bovary de Gustave Flaubert (1856) (*)

● Anna Karenina de Liev Tolstoy (1877) (**)

A trilogia trata do adultério com final trágico. Esses três livros acima, todos 

publicados no século XIX como se vê.


O TEMA

O romance, posso dizer, chega a ser tumultuado.


Tudo se passa na cidade fictícia de Verrières, O prefeito da cidade, Sr. de Rênal, por indicação do cura da cidade, o padre Chelan que estava sendo afastado da cidade, indicou um jovem latinista - recitava em latim o novo testamento -  noviço ou seminarista, mas nunca além disso, de nome Julian Sorel filho de um carpinteiro que muito o maltratava na serraria.

Julian foi contratado como um tipo de preceptor dos três filhos do prefeito para viver na mesma residência suntuosa passando a ter contato com todos da famílias, com a Sra. de Rénal, muito bonita e mais a criadagem.

O Autor descreve Julian com um jovem muito bonito, depressivo, angustiado pelas diferenças que se dava (ou ainda dá) pelo seu nível social, obrigado a conviver com aquelas pessoas abastadas, com outros costumes, modo, interesses e... a hipocrisia.

Os filhos dos Rénal se afeiçoaram muito a Julian, mas não só eles. Também a mãe, a Sra, de Rénal.

Aquela convivência diária, encontros constantes pela casa, à noite após o jantar, os passeios nos jardins nem mesmo a luz de velas, o luar muitas vezes, um roçar nos braços, nas mãos, chegando ao ponto de que ambos assumiram uma paixão desbragada.

E a paixão incontida costuma não ter limites. Ela clama pela intimidade e, a partir dai, mais paixão, até mesmo assumindo riscos que podem pôr tudo a perder tanto nos laços familiares como sociais.

Num dado momento da obra, Julian e a Sra. de Rénal passam a se encontrar no quarto dela, porque o marido dormia num quarto ao lado.

A paixão se torna voluptuosa.

Mas, esse relacionamento chama a atenção da camareira Elisa, que recebera uma herança e tinha pretensões de se casar com Julian.

Vendo frustrada sua pretensão, ela relata ao sr. Valenod, rival do prefeito inclusive quanto à sua esposa a quem assediara no passado, o suposto adultério da Sra. de Rénal com Julian.

Dai uma carta anônima inevitável. O prefeito perturbado a lê, perde o senso, desconfia, a esposa se sentindo uma pecadora diante da febre alta de seu filho mais velho, imaginando um castigo divino tenta confessar ao marido a traição mas ele não leva a sério a cena emocionada que criara a mulher.

Com o tempo, sendo transferido como seminarista para Besançon e depois num em Paris, por intervenção do Abade Pirard ele foi aceito passando a secretariar o rico Marques de La Mole.

O Marques, além da esposa, Sra. de La Mole, tinha dois filhos, Norbert, um jovem educado e a lindíssima Matilde,  Srta. de La Mole.

Mas, nesse meio tempo, Julian volta a casa da Sra. de Rénal, à noite e por uma escada alcança seu quarto... 

Numa segunda vez, ela o rejeita mas acaba por ceder ao amor. Na fuga, Julian é confundido com um ladrão e quase alvejado pelos criados da casa.

No castelo dos La Mole Julian começou a desenvolver para o Marquês um trabalho eficiente, escrevendo cartas, passando a conviver naquele ambiente sofisticado, participando de conversas, frequentando óperas, passeios a cavalo com Norbert mas sempre se sentindo depressivo pela sua origem.

E havia no seu contato diário, a linda Srta. de La Mole, que tratava Julian com indiferença até porque recebia com frequência pretendentes muito ricos. Quem era, afinal, Julian que não um serviçal de seu pai?

Mas, com o tempo ela se encanta e se apaixona por ele, desprezando todos os pretendentes.

Aqui também uma escada leva o amante ao quarto dela.

E então, mesmo com esses encontros o Autor não se cansa de remeter a pergunta que ambos fazem, "ela me ama", "ele me ama".

Num certo dia ela revela sua gravidez e por carta informa esse estado ao seu pai, dizendo amar Julian e que fora ela quem o seduzira.  O Marques de La Mole se desespera.

Eram trocadas cartas mesmo morando na mesma moradia...

Procura informações de Julian diretamente com a Sra. de Rénal que por carta relata o romance adúltero que tivera com o ele.

Matilde, diante do desaparecimento de seu pai depois dessa carta, chama Julian que estava em Strasburgo e ao saber que fora autora sua ex-amante, resolve assassiná-la em plena missa em Verrières.

Dois tiros não fatais: somente um tiro atinge a Sra, de Rénal no ombro que logo se cura.

Julian é preso e confessa a premeditação. Em meio a muita emoção, o júri de Besançon o condena à morte na guilhotina.

Recusa-se a recorrer da sentença de morte. Mas, depois recorre (?)

Matilde e Sra. de Rénal o visitam gerando ciúmes da primeira que tudo faz para libertá-lo.

Julian, desesperado, pede à Sra. de Rénal que cuide de seu filho porque acreditava que, com sua morte, Matilde o abandonaria.

Até que chega o dia da execução que se consuma. O Autor nada fala do recurso. 

Matilde retém a cabeça do amado e na presença de Fouqué, amigo leal de Julian, que tudo acompanha, a sepulta numa gruta que mandara enfeitar.

O Autor sobre Sra. de Rénal dá um final inesperado. Três dias depois da morte do amado, ela também falece, mas não por suicídio porque prometera a Julian não executar esse ato extremo. 


► O livro não é só isso. Há muito mais em suas quase 500 páginas que como disse, na edição em meu poder foi composto em fonte minúscula

Referências

(*) Acessar: MADAME BOVARY


(**) Acessar: ANNA KARENINA

 





domingo, 29 de maio de 2022

O FIO DA NAVALHA de W. Somerset Maugham

LIVRO 94



 

O escritor consagrado, inglês (1874-1965) é autor de vasta obra.

O livro é de 1944. "O fio da navalha" foi filmado em 1946.

A edição que está comigo tem 440 páginas.


Há muitos anos li esse livro porque me dissera que havia uma "discussão" afinal não resolvida sobre aquele velho tema que a todos intriga: o sentido da vida.


E a quem é revelado o essencial da vida, suas contradições, suas diferenças e suas exigências?


De regra, o livro pelo seu enredo, constitui-se leitura agradável embora, digamos, irrite um pouco os detalhes expostos sobre a vida fútil de um dos principais personagens (Elliott) - talvez uma estratégia do Autor - e também descrições de caracteres de todos eles, de modo exaustivo. De uma das personagens, foram tomadas duas páginas de descrição física destacando também sua beleza (Isabel).

A história se desenrola após o encerramento da 1º Grande Guerra (novembro de 1918) até se aproximar dos tempos em que já a 2ª guerra mostrava fortes sinais de eclosão.

Seus principais episódios se dão em Chicago, Paris e Londres. 


Pois bem, nesse romance, o próprio Autor se coloca como um dos personagens compartilhando com suas riquezas, angústias e fraquezas.

Então, pelos personagens tentarei transmitir a essência do que retive do livro.


Personagens



O próprio escritor Maugham


Começa informando que tivera projeção num romance que escrevera e, de passagem por Chicago, entrevistado, chamou a atenção de Elliott Templeton. A partir dele o Autor-personagem  se envolve na sociedade e conhece a família de Elliott, sua irmã Mrs. Bradley e sua sobrinha Isabel.


Também Larry personagem que teria papel fundamental no romance.



Elliott Templeton



A atividade básica de Elliott  era a de intermediar a venda de obras de arte.

É descrito como um personagem esnobe, superficial, afetado, afeito a patrocinar e aproveitar inumeráveis almoços e jantares da alta sociedade fosse americana, parisiense, londrina... 

Tudo para ele se referia à linguagem do dinheiro e à manutenção desse seu status perante a sociedade, preocupando-se com roupas esmeradas e às boas maneiras de modo exacerbado.

Escapou da quebra da bolsa de Nova York em 1929 porque se antecipou nos seus vencimentos e, a partir daí foi enriquecendo (!)

Seu nível elevado de riqueza permitiu que tivesse um apartamento em Paris e uma residência luxuosa que construíra na Riviera francesa.

Sua riqueza permitiu que sustentação sua sobrinha Isabel e seu marido Gray Maturin quando este e seu pai faliram como decorrência da quebra da bolsa de Nova York.


Então, fútil mas generoso.


Levando essa vida de ostentação, requintada, doente, sofrendo com a indiferença dos seus conviventes sociais, ao falecer, em seu testamento, exigiu que fosse sepultado com a fantasia inspirada no que fora a vestimenta de um ancestral. 

Era solteiro, não demonstrara interesse pelo sexo oposto. O Autor o leva a superar, parece, esse interesse pela vida "tola" que levava Elliott.


Mas, a ironia é que o Autor o seguindo tantas vezes nas suas manias, recepções, almoços e jantares participou frequentemente dessa vida tola...



Isabel



Sobrinha  de Elliot, filha de Louise Bradley, viúva que tinha cuidados especiais com a filha.

Isabel amava Larry, seu noivo que não queria trabalhar e, como diz o livro, apenas "vadiar". 

Então, havia uma pressão  para que seu noivo, afinal, trabalhasse para conquistarem um casamento rico.

Aliás, seu amigo Grey Maturin que trabalhava com seu pai Henry, milionário comandando um escritório de investimentos, o convidara a trabalhar no escritório com ele.

Grey morria de amores por Isabel.

Mas, Larry não aceitou o emprego e ficou meio à margem do conjunto social e da influência de Elliott que deseja um casamento faustoso para a sobrinha, pensando na repercussão social.

Larry um dia ofereceu o casamento a Isabel, mas levando uma vida simples, ambos vivendo com uma renda anual de 3 mil dólares que ele fazia jus. Uma vida sem ostentação, sem futilidades.

Não aceitando, Isabel se casou com Grey mas sempre amando Larry.

Foram pais de duas meninas.


Os Maturin faliram de modo irremediável com a quebra da bolsa de Nova York.

Sem emprego e sem recursos, o casal foi ajudado de modo generoso por Elliott que o fez mudar para um apartamento que tinha em Paris enquanto Grey procurava emprego.

 

Com a morte do tio, Isabel herdou razoável fortuna e o casal mudou-se para Dallas - Texas onde Grey iniciaria, um novo empreendimento, aplicando o dinheiro da esposa.

Quando Larry anunciou que se casaria com Sophie uma moça conhecida desde a infância de ambos, mas que se perdera frequentando os cafés e cabarés mal afamados de Paris, Isabel ficou transtornada e armou um ardil para que a moça se embriagasse no dia de escolher o vestido, fugisse do casamento e voltasse à vida anterior, bebendo, até ser assassinada.



Larry



Esse personagem é o contraponto de toda a futilidade da vida dos demais personagens.

Falsificando a idade, pelo Canadá, foi para a guerra, como aviador.

Nas missões, viu a morte de um amigo, também aviador, que morrera após o salvar.

Essa tragédia fê-lo mudar de atitude e pensara a partir desse trauma encontrar razões para a própria vida.

Dai o desejo de "vadiar". 

Permanecia horas estudando línguas, inclusive algumas orientais.

Saiu pelo mundo, trabalhou em mina de carvão, com todos os percalços de convivência com um companheiro polonês desbocado, mas culto, com mulheres de seu alojamento...


Mas, foi na Índia que teve experiências espirituais que mexeram com sua interioridade.

Num ritual que lá aprendera, curara a "terrível" enxaqueca que atormentava seu amigo Grey.

Em contato com Shri Ganecha (shri, termo de respeito ao praticante da espiritualidade, entre outros), vendo nele santidade, apreendeu sobre princípios da vida terrena, da maldade - porque existir esse jogo do bem e do mal promovido pelo Absoluto? -, da falta de respostas que a existência impõe, a questão da reencarnação cujo objetivo dessa sequência de vidas, muitas com sofrimento se perde no silêncio da alma...


Mas, o personagem descreve nesse clima místico, um êxtase de felicidade espiritual ao contemplar a beleza das montanhas e da floresta quando na Índia:


"Felicidade tão intensa que chegava a ser dolorosa, procurei libertar-me dela, pois sentia que se durasse mais um momento, eu morreria: e no entanto era um êxtase tão grande que seria preferível morrer  a ter que renunciar a ele." 


E onde estaria Larry, no final da história com seu desprendimento, pela renúncia à "glória" e à riqueza?

Talvez empregado numa oficina mecânica ou motorista de taxi em Nova York.



O livro não é só isso, isso é muito pouco. Como disse o livro beira a 450 páginas.





 




quinta-feira, 12 de maio de 2022

IRACEMA de José de Alencar

 LIVRO 93


Nos meus tempos de ginásio (ou antes), o encanto destas frases que dão início ao romance Iracema escrito em 1865:

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;

Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.

Significados de palavras tupis-guaranis expostos pelo Autor em suas "Notas":

 ● Iracema em tupi-guarani significa lábios de mel

 ● Jandaia se refere a "periquito grasnador" que como explica o Autor, deu origem ao nome Ceará que "na língua indígena", segundo a tradição, "significa o canto da Jandaia.

Diz Machado de Assis, em sua crítica à obra Iracema que se trata de poesia em prosa, uma obra prima.

Na edição que tenho em mãos, há notas introdutórias da professora Angela Gutiérrez que ressalta o valor da obra, fazendo referência a nomes que são comuns hoje, personagens ou imagens do romance, como Iracema, Caubi, Irapuã... e nomes de entidades como TV Verdes Mares, Rádio Iracema...

Pois bem, a história muito leve ressalta a virgem Iracema pertencente à tribo dos tabajaras filha do Pajé Araquém que é surpreendida ao se deparar no meio da mata com um jovem branco, Martim. Numa reação de surpresa ela o fere com uma flecha e pergunta como pode ele falar sua língua. Esse incidente apenas aguça a paixão que nasce entre ambos.

  Martim, de origem latina, procedente de Marte - o que pode significar "guerreiro", como aliás a obra revela.

Embora ele fosse aliado dos pitiguaras, inimigos mortais dos tabajaras, tendo um amigo indígena daquela tribo, Poty, considerado seu "irmão", Martim se hospeda na cabana de Araquèm, Pajé, pai de Iracema e lá nasce aquele romance, aquele desejo contido que vai crescendo.

Mesmo quando revela que está grávida, o Autor em alguns episódios ainda a qualifica de "virgem", chamando-a de esposa.

Como se deu o "casamento"?

Iracema, feita por ela, oferece uma bebida a Martim, "o vinho de Tupã" - a bebida sagrada dos tabajaras feita com a jurema. Ao tomar a bebida, "todos sentem a felicidade tão viva e contínua, que no espaço da noite cuidam de viver muitas luas".

Foi nessas "espaço da noite" que Martim faz de Iracema sua esposa mas pelo efeito da bebida ao acordar pensou que vivera apenas um sonho...

"Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras".

 Jurema: árvore com folhagem espessa, que produz fruto amargo que com outros "segredos" era produzida uma bebida alucinógena com os efeitos do haxixe e, dai as alucinações agradáveis, sonhos "tão vivos"... 

Martim, mesmo aliado dos Pitiguaras, permaneceu vivendo na aldeia Tabajara, suscitando a revolta por ser ele aliado dos inimigos e o ciúme de Irapuã que desejava Iracema.

O Pajé para assustar Irapuã furioso de sua cabana e o afastar do ataque a Martim,  pratica um truque que nada tinha de sobrenatural. 

Irapuã: mel redondo.

Com os cuidados de seu irmão Caubi, Iracema e Martim fogem para a aldeia dos pitiguaras e lá ele se depara com guerras entre as duas tribos, vendo ela com amargura o sangue de muitos de seus irmãos tabajaras.

A morte de Iracema fora anunciada por ela: 

- Guerreiro branco, Iracema é filha  do Pajé e guarda o segredo da Jurema. O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria.

Vi nessa frase o anúncio possível da morte de Martim se possuísse Iracema mas ele reage porque como guerreiro do seu sangue, "trazem a morte consigo".

Iracema sempre muito insegura, percebendo que Martim poderia estar saudoso de sua terra e de sua virgem loira.

Martim se afasta por "oito Luas"  (cerca de dois meses) em guerra com outras tribos, ao lado de Poty dos Pitiguaras.

Quanto volta trilhando os campos de Porangaba... "tem medo de chegar; e sente que sua alma vai sofrer quando os olhos tristes e magoados da esposa entrarem nele" 

Os latidos do cão Japi poderia ser de alegria.

Porangaba: entre outras origens, significa beleza;

● Japi: significa "nosso pé".

Ao se aproximar, encontra Iracema combalida, segurando o filho:

- Recebe o filho de teu sangue. Era tempo, meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!

Iracema foi sepultada ao pé do coqueiro que ele amava.

Muitas vezes lá esteve Martim para "acalentar no peito a agra saudade".

Mas, o final profundamente real quanto inexorável:

"A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro: mas não repetia já o mavioso nome de Iracema".

"Tudo passa sobre a terra."

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O "poema em prosa" Iracema não é só isso. O pequeno livro tem muito mais do que essas linhas simples. Há todo um vocabulário dos termos indígenas.


Do mesmo Autor acessar:

SENHORA

TIL